Devo fazer uma cirurgia eletiva em plena pandemia?

Pacientes devem pesar a chance de exposição à covid-19 e a oportunidade de alívio de uma condição que pode ser dolorosa, mas não urgente

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Por Jane E. Brody
Atualização:

Com a pandemia da covid-19 castigando os Estados Unidos, muita gente que espera fazer algum tipo de cirurgia eletiva teme que esta seja adiada indefinidamente. Hospitais em vários lugares estão praticamente lotados e sofrem com a falta de pessoal. Até mesmo as instituições que ainda conseguem lidar com procedimentos não considerados urgentes devem enfrentar uma série de cancelamentos e adiamentos por parte dos próprios pacientes, temendo um possível contágio.

Meu irmão, por exemplo, tinha agendado uma cirurgia de substituição total do joelho para meados de dezembro no interior do estado de Nova York, mas, quando três lojas que ele costumava frequentar fecharam as portas no início do mês porque os funcionários contraíram covid e os índices de infecção na comunidade dispararam, ele preferiu adiar.

Ilustração de Gracia Lam/The New York Times 

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É melhor correr o risco de perder outra temporada de tênis do que o casamento da filha ou não poder curtir a velhice. Aos 75 anos e depois de ter sido submetido a uma cirurgia de peito aberto há dois anos, ele sabe que corre um risco alto de complicações por causa da covid. Mesmo que passar a noite no hospital não fosse perigoso, ele temia uma possível exposição ao vírus nas semanas de reabilitação depois da cirurgia.

Dois amigos meus que haviam agendado uma cirurgia eletiva conseguiram fazê-la nos últimos meses; um colocou uma prótese de joelho no começo de outubro e o outro, uma prótese de quadril no início de novembro. Mas se você, ou um de seus familiares, tiver uma cirurgia opcional agendada nas próximas semanas, talvez valha a pena rever os planos, dependendo de onde mora.

Em sua lista de "princípios orientadores", a Academia Americana de Cirurgiões Ortopédicos informou seus membros de que, durante a pandemia, a decisão pela realização de uma cirurgia eletiva "deve se basear na situação local" e levar em conta "a incidência e a prevalência da doença, e o número de leitos hospitalares, ventiladores pulmonares e equipamentos de proteção individual disponíveis", além de respeitar as orientações regionais de lockdown ou esperar uma "redução consistente no número de novos casos de covid-19" na área.

Da mesma maneira, existem muitas questões que os pacientes devem levar em consideração antes de realizar um procedimento eletivo. A primeira e mais importante é compreender o que significa "eletiva" e se existem alternativas menos arriscadas, ao menos até que a pandemia perca força ou que a maioria das pessoas já esteja protegida pela vacina.

A cirurgia eletiva é aquela que não é urgente. A condição que requer sua realização pode limitar a vida e comprometer o bem-estar, mas não coloca o paciente em risco iminente de morrer. Por isso, a solução cirúrgica pode ser adiada com segurança.

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Contudo, o termo "eletivo" talvez não seja a melhor descrição para as pessoas que sofrem com dores frequentes ou constantes que as impedem de funcionar a todo vapor. Um termo mais apropriado talvez fosse "não urgente", mas até isso pode ser um problema para quem vive sozinho ou não consegue trabalhar de maneira produtiva. Ainda assim, até alguns pacientes com artérias coronárias entupidas ou com câncer são considerados de baixo risco e podem adiar a operação e o tratamento para um momento em que o risco se torne menor.

Talvez seja melhor esperar até que as equipes médicas tenham recuperado o fôlego pré-covid. Conforme três especialistas apontaram, "fatores humanos básicos, exacerbados pela covid-19, podem colocar em risco a segurança de pacientes e das equipes médicas". William Berry, cientista e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública T.H. Chan, de Harvard, o dr. Kedar S. Mate, presidente do Instituto de Melhoria dos Tratamentos de Saúde, e Lindsay A. Martin, instrutora de políticas de saúde na Faculdade de Saúde Pública de Harvard, mencionaram o cansaço, a falta de prática, a distração, a sobrecarga e o estresse emocional como questões que afetam as equipes médicas neste momento e podem colocar em risco a saúde dos pacientes.

Médicos da Universidade Stanford preveem que "será necessário um enorme esforço para diminuir a lista de espera cirúrgica, que já conta com quase cinco milhões de casos só nos EUA e pode demorar até três meses para ser colocada em dia".

Enquanto isso, qualquer um que deseje realizar uma cirurgia eletiva pode aproveitar o tempo para se informar e se preparar melhor, começando com uma pergunta bem básica: será que preciso mesmo dessa cirurgia? Já avaliei todas as outras opções de tratamento, como medicamentos tópicos ou por via oral, fisioterapia e a prática de exercícios físicos em casa?

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Pergunte se o cirurgião tem experiência com esse tipo de operação. Com que frequência ele a realiza, qual o índice de sucesso e que tipos de problemas os pacientes relatam? Você também pode pedir para conversar com um paciente anterior.

Talvez você esteja ciente do potencial benéfico da cirurgia, mas também conhece os riscos e possíveis complicações? E sabe como minimizá-los com exercícios de fortalecimento, perda de peso ou ajustes na dieta, por exemplo?

Existe alguma coisa no seu histórico de saúde que pode tornar a cirurgia mais arriscada que de costume? Você precisa fazer algum ajuste nos medicamentos que toma? Se você toma qualquer remédio que para ralear o sangue, mesmo que seja aspirina infantil, foi orientado a interromper o uso antes da operação? Se tem diabetes, o que será feito para que você mantenha níveis glicêmicos seguros antes da – e durante a – operação?

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Quais são as opções de anestesia? A geral é necessária ou a cirurgia pode ser realizada com anestésico local? Certifique-se de que o anestesista esteja informado, caso você já tenha tido reações adversas.

O que você pode esperar no que diz respeito à recuperação depois da cirurgia? Quando poderá voltar às atividades comuns, incluindo trabalhar, levantar peso, fazer exercícios físicos e dirigir? Aqui é onde você precisa se preparar para o pior, enquanto espera pelo melhor. Os cirurgiões costumam dar informações sobre os melhores resultados possíveis, muitas vezes deixando os pacientes despreparados e assustados quando a recuperação não é tão tranquila ou rápida.

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Por exemplo, quando coloquei próteses nos joelhos me disseram que eu retornaria às atividades normais em um mês e meio, quando na realidade demorou o dobro disso para que eu pudesse voltar a dirigir com segurança.

Que tipo de assistência pessoal será necessário quando você voltar para casa, e por quanto tempo? O período de recuperação pós-operatória da minha amiga que colocou uma prótese de quadril foi mais rápido e fácil do que ela esperava. Mas ela vive sozinha e se beneficiou enormemente da companhia de um adulto capacitado durante uma semana, ajudando com a preparação de refeições, a troca de roupa, o banho e o esquema de medicação.

Os medicamentos pós-operatórios, que quase sempre incluem analgésicos, talvez sejam um desafio. Podem causar tontura, enjoo, prisão de ventre e outros efeitos colaterais desconfortáveis. Certifique-se de conhecer as possíveis reações adversas e saber como minimizá-las.

Se você precisar de fisioterapia, como as sessões serão organizadas? O fisioterapeuta pode ir à sua casa nas primeiras semanas? Quando você já puder se virar melhor, aonde pode ir para continuar com a fisioterapia? A qualidade e a duração desse tratamento podem ser tão importantes quanto a capacidade do cirurgião de determinar o resultado da operação.

Por fim, não se esqueça dos custos! Seu plano de saúde vai cobrir todos eles ou a maior parte? Vai cobrir a reabilitação no pós-operatório? Caso o plano seja limitado, talvez você possa negociar o prazo de pagamento com o cirurgião.

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