O perigo de se guiar apenas pelo celular ao se fazer trilhas

De New Hampshire à Escócia, serviços como Google Maps podem direcionar caminhantes para trilhas que desafiam até mesmo os mais experientes, dizem montanhistas

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Por Alyssa Lukpat
Atualização:

Para aqueles que desejam fazer trilha, mas não têm experiência, os celulares são uma ferramenta com múltiplas funções: lanterna, sinalizador de emergência e um GPS, tudo em um único dispositivo. Mas pode ser perigoso e possivelmente fatal confiar apenas em seu celular para fazer uma trilha em direção a áreas desertas, dizem os especialistas.

Aplicativos e mapas online já fizeram pessoas confundirem direções em ambos os lados do Atlântico.

Outros fatores que complicam o cenário incluem perambular por áreas remotas sem serviço de celular ou sem bateria. Foto: Pixabay

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Na Escócia, os montanhistas estão alertando os visitantes que o Google Maps talvez os direcione para trilhas "potencialmente fatais" que os forçariam a escalar penhascos e terrenos rochosos e íngremes.

Vários visitantes recentemente confiaram no Google Maps para chegar ao pico de Ben Nevis, uma montanha de 1345 metros, de acordo com um comunicado conjunto da Mountaineering Scotland, uma organização de escalada, e do John Muir Trust, uma instituição de caridade que conserva terras e lugares selvagens na Grã-Bretanha.

Ben Nevis, um local de escalada popular, mas perigoso, nas Terras Altas da Escócia, a cerca de 112 quilômetros a noroeste de Glasgow, é o ponto mais alto da Grã-Bretanha.

Ao seguir as instruções do Google, a rota indicada começa do estacionamento mais próximo do pico e leva direto ao topo da montanha. Até mesmo escaladores experientes teriam dificuldade em subir por esse caminho, disse Heather Morning, consultora de segurança de montanha da Mountaineering Scotland, no comunicado.

“Com boa visibilidade, seria desafiante”, disse Heather. “Adicione nuvens baixas e chuva e, assim, a rota sugerida pelo Google é potencialmente fatal”.

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Na Escócia, as autoridades recomendam que os visitantes tragam um mapa de papel e uma bússola para chegar a Ben Nevis, mesmo nas trilhas para iniciantes. Para aqueles que desejam enfrentar o terreno coberto de gelo da montanha, subidas íngremes e pouca visibilidade, é uma viagem de ida e volta de oito horas do centro de visitantes até o pico.

Mas se os caminhantes seguirem o Google Maps para o ponto de partida recomendado, a jornada deles pode ser muito mais perigosa. O John Muir Trust colocou placas na área para direcionar escaladores inexperientes para o centro de visitantes, mas as pessoas frequentemente ignoram essas mensagens, disse um porta-voz da instituição de caridade.

Em um comunicado, um porta-voz do Google disse que a linha pontilhada do mapa do estacionamento até o pico da montanha indica a distância até o topo, não uma trilha para caminhada. As pessoas estavam confundindo instruções de direção com instruções de caminhada.

“Nossas instruções de direção atualmente direcionam as pessoas para o estacionamento do início da trilha Nevis Gorge - o estacionamento mais próximo ao pico - que tem placas visíveis indicando que a trilha é altamente perigosa e apenas para caminhantes avançados”, disse o comunicado.

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O Google informou que atualizou as instruções de como as pessoas poderiam chegar até o centro de visitantes, onde podem falar com os funcionários sobre a melhor rota a se seguir, em vez de direcioná-los ao estacionamento para o início da trilha que fica mais próxima do pico.

Embora os smartphones tenham facilitado muitas atividades, desde chamar um táxi até pedir comida, os dispositivos complicaram as coisas para alguns que não se dão conta de que precisarão de muito mais do que seus celulares para fazer trilhas.

A Mountaineering Scotland informou que várias pessoas no país tinham se acidentado recentemente após seguirem as rotas que encontraram online. Ben Nevis foi local de várias mortes nos últimos anos, entre elas a de uma mulher de 24 anos no mês passado e três homens em 2019.

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O alerta dos montanhistas chega quando os caminhantes se aglomeram ao ar livre e nas trilhas durante a pandemia de covid-19. Embora a caminhada em si seja uma atividade segura e com distanciamento social, os acidentes têm se tornado um problema à medida que mais pessoas fazem trilhas.

Ben Nevis não é a única montanha onde os caminhantes tiveram problemas. Em New Hampshire, equipes de resgate nas montanhas disseram que salvaram muitas pessoas que estavam mal equipadas para suas aventuras.

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Aqueles que se perdem nas Montanhas Brancas ligam para o Departamento de Pesca e Caça de New Hampshire pelo menos uma vez por semana no verão no hemisfério norte, disse o sargento. Alex Lopashanski, oficial de conservação do departamento.

“Eles tentam seguir uma trilha em seus celulares, que os leva para a floresta e eles se perdem”, afirmou.

Essas pessoas que se perdem não sabem dizer onde estão porque suas telas são muito menores do que mapas de papel, disse Lopashanski. Se os policiais não puderem encaminhá-las de volta para uma trilha pelo celular, pode demorar várias horas até que as equipes de resgate as encontrem.

Outros fatores que complicam o cenário incluem perambular por áreas remotas sem serviço de celular ou os dispositivos ficarem sem bateria, tornando-os inúteis para solicitar ajuda.

Órgãos de resgate juntam-se à operação se as pessoas perdidas estiverem em perigo. Rick Wilcox, integrante do Serviço de Resgate da Montanha em New Hampshire, disse que muitas das pessoas que ele salva não têm um mapa ou uma bússola.

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“As pessoas pensam que um celular maravilhoso é tudo que precisam e dizem, ‘Deixa eu olhar o Google’”, disse Wilcox, “e é aí que elas erram”.

Wesley Trimble, porta-voz da American Hiking Society, disse estar preocupado com o fato de as pessoas estarem usando aplicativos para seguir rotas que não são aprovadas por especialistas.

“Muitas informações na internet são fornecidas com colaboração pública, então não há necessariamente qualquer contribuição de gestores de terras ou parques ou organizações de trilhas”, afirmou. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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