Håkan Söderström, o corpulento herói do romance de Hernán Diaz, “In the Distance” [“Na distância"], faz uma entrada estupenda, ascendendo à primeira página através de um vazio em forma de estrela numa planície desolada de gelo branco do mar. Cabelos longos, barba branca, enrugado e nu, ele se ergue sobre o gelo e caminha sobre pernas arqueadas até chegar a uma escuna encalhada, carregando um fuzil e um machado. Estamos em algum lugar, no meio do nada, no norte congelado.
“In the Distance", o primeiro romance de Diaz, também parece ter saído do meio do nada. Ele não tinha agente quando respondeu a um pedido aberto por manuscritos feito pela Coffee House Press, editora sem fins lucrativos de Minneapolis, Minnesota, que publicou o romance em outubro. Em abril, ele foi nomeado finalista do Prêmio Pulitzer e do Prêmio de Ficção PEN/Faulkner, levando todos a se perguntarem de quem se tratava.
Diaz é um estudioso da Universidade Columbia, em Nova York, que nasceu em Buenos Aires em 1973, cresceu na Argentina e na Suécia, estudou em Londres e Nova York e vive no Brooklyn. O livro dele conta a história de um sueco imigrante de tamanho incomum viajando pela fronteira americana do deserto entre a corrida do ouro e a guerra civil.
Embora muitos dos elementos nos pareçam conhecidos (saloons e caravanas, índios e garimpeiros do ouro), o romance segue numa direção inusitada.
Seu estudo da literatura norte-americana, com foco especialmente no século 19, permitiu que ele saqueasse as partes mais interessantes de um gênero antigo. O mecanismo reconstruído é obra dele, e se move em direções inesperadas, o que faz de “In the Distance” uma obra única: um western original. “Ele se apóia nos ombros de muitos gigantes", disse Chris Fischbach, editor da Coffee House Press e da obra de Diaz. “Trata-se de um livro modernista no sentido de que ele absorve todos esses fragmentos e usa-os para criar um novo mundo, e uma nova obra de arte.”
Diaz disse não entender a ausência dos romancistas dos westerns entre os grandes autores americanos. Além de Zane Grey e Louis L’Amour, poucos conhecem este grupo de romancistas populares.
Ainda assim, ele disse que o gênero retrata os mais potentes mitos da América a respeito de si mesma. Para ele, os westerns tratam com glamour "os piores aspectos do ímpeto imperialista dos Estados Unidos”: a brutalidade contra a natureza, o racismo genocida, “toda a questão do machismo, o papel da mulher, a violência frívola, e assim por diante".
No romance, Håkan é um rapaz do interior da Suécia que sai de casa com o irmão mais velho, Linus, em busca da cidade americana que eles chamam de Nujårk. Mas ele se perde de Linus numa doca em Portsmouth, Inglaterra, embarca no navio errado e vai parar em San Francisco. Decide reencontrar o irmão atravessando o continente, no contrafluxo da imigração rumo ao oeste e à conquista continental.
Ele não fala inglês, mas aprende rápido. Conhece uma mulher misteriosa de corselete, cabelo âmbar e escuros lábios vermelhos, como uma prostituta de coração de carvão; um garimpeiro enlouquecido; colonos; uma gangue de veteranos da guerra civil e um sinistro xerife.
Embora Håkan mate, mutile e se torne um conhecido fora da lei, ele acaba dilacerado pela própria violência.
A história nunca se aproxima do reino do realismo mágico, mas alguns personagens avançam para o anacronismo, como Asa, o mocinho na gangue de bandidos que gosta de cozinhar. Asa é um gourmet da fronteira, que compartilha com Håkan um laço de afetividade masculina, e sua receita de assado de codorna.
A grande virtude de “In the Distance", além das excruciantes evocações de solidão e pesar do seu personagem principal, é um efeito de estranhamento. E sua capacidade de criar paisagens mentais vistosas a partir de espaços abertos, de vácuos que nunca estão vazios.
“É plausível pensar que tudo isso tenha acontecido", disse Fischbach. “Mas é muito improvável que assim fosse.”