Na Grécia, tumbas revestidas com ouro

Arqueólogos encontram imagens e objetos de arte que eram usados como símbolos de status na sociedade

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Por Nicholas Wade
Atualização:

Duas grandes tumbas fora descobertas e escavadas no sítio da cidade antiga de Pilos, sul da Grécia, indicando que Pilos desempenhava um papel de surpreendente destaque no início da civilização micênica.

Ainda que os túmulos tenham sido saqueados na antiguidade, os arqueólogos informaram recentemente terem recuperado milhares de peças de folha de ouro, vestígios do material que revestia o chão dos túmulos, provavelmente produzindo um brilho espetacular na câmara escurecida.

O Túmulo Tholos IV reconstruído pelo Serviço Arqueológico da Grécia é semelhante àqueles encontrados em Pilos. Foto: via Departamento de Estudos Clássicos, Universidade de Cincinnati

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O maior dos dois túmulos tem 12 metros de diâmetro, e o menor, cerca de nove. Ambos foram construídos no formato de alvéolos chamados tholos, mas ruíram.

Os arqueólogos também encontraram contas feitas de âmbar, cornalina e malaquita, e um pingente de ouro retratando a cabeça da deusa egípcia Hathor. Esses itens indicam que Pilos, cidade portuária, tinha elos comerciais antes desconhecidos com o Egito e o Oriente Próximo mais ou menos em 1500 a.C., época em que os túmulos estavam em uso.

Os túmulos foram descobertos por Jack L. Davis e Sharon R. Stocker, casal de arqueólogos da Universidade de Cincinnati que trabalham no sítio desde 1992.

Em 2015, descobriram um espetacular túmulo de poço perto do antigo palácio de Pilos. O ocupante do túmulo foi enterrado com uma comprida espada de bronze e um tesouro em arte minoica da mais alta qualidade, principalmente selos minoicos. Foi batizando informalmente de Guerreiro Grifo, em homenagem à fera mítica gravada em uma placa de marfim no túmulo.

O Guerreiro Grifo e os dois túmulos tholos pertencem a um período conhecido como Heládico Superior IIA, que durou de 1600 a 1500 a.C. O período é de interesse porque teve a formação da civilização minoica, que durou aproximadamente de 1600 a 1200 a.C., quando muitas de suas principais cidades foram incendiadas em uma catástrofe desconhecida. A era da Grécia Clássica só emergiu depois dos 700 anos da idade das trevas que se seguiu.

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O período micênico posterior é a ambientação dos épicos de Homero e de heróis como Agamemnon de Micenas. O período é chamado de micênico porque Homero retrata o rei da cidade, Agamemnon, como líder da frota grega que partiu para capturar Helena de Troia.

Uma característica central da cultura micênica é o fato de ter se originado da civilização minoica, de Creta, ilha ao sul da Grécia que prosperou como centro de comércio entre o Oriente Próximo e o Egito.

Os doutores Davis e Stocker acreditam que os itens, apesar de feitos em Creta, eram integrais à cultura do guerreiro.

A empunhadura de uma espada nesse túmulo parece idêntico a outra gravada em um selo de pedra enterrado com ele. Essa e outras semelhanças indicam que a civilização do guerreiro tinha entendido o significado e a simbologia dos objetos minoicos enterrados com ele.

Pingente de ouro retratando a cabeça da deusa egípcia Hathor do século 15 a.C. Foto: Vanessa Muros, via Departamento de Estudos Clássicos, Universidade de Cincinnati

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Os arqueólogos dizem que os novos achados em Pilos ajudam a esclarecer a relação inicial entre as civilizações minoica e micênica. As elites de Pilos e Micenas estavam usando imagens e objetos de arte para estabelecer seu status na sociedade grega.

“Eles logo chegaram a um acordo quanto ao que representaria o status - armas, arquitetura grandiosa, muito ouro e selos de pedra”, disse Jeremy B. Rutter, arqueólogo especializado no micênico da Universidade Dartmouth. As elites importaram objetos preciosos de Creta e copiaram o estilo da arquitetura minoica nos palácios em Pilos e Micenas.

“Os novos achados em Pilos foram incríveis e transformaram a natureza do debate”, disse ele, acrescentando que as escavações mudaram o debate em torno do período ao mostrar que Pilos “era uma potência de verdade no início do período micênico”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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