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Iate de US$ 500 milhões para um acordo de divórcio

Luna está em uma doca seca em Dubai, enquanto o bilionário russo Farkhad Akhmedov briga judicialmente com a ex esposa; ele alega que um tribunal islâmico deve julgar o processo em vez de um da Inglaterra, país onde mora

Por David Segal
Atualização:

LONDRES - Com um spa, uma piscina, dois heliportos e quartos para 18 hóspedes, o Luna é mais uma mansão de luxo flutuante do que um iate. Uma tripulação de 50 pessoas mantém os nove conveses imaculados. Os botes salva vidas custam US$ 4 milhões cada um. Motores reluzentes impulsionam a embarcação a uma velocidade máxima de 22 nós.

Mas por enquanto, o Luna não sai do lugar. Ele está em uma doca seca em Dubai, e é o prêmio mais disputado em um processo de divórcio considerado o mais caro da Grã-Bretanha.

O bilionário russo, Farkhad Akhmedov, à direita, foi intimado a pagar o equivalente a US$ 646 milhões à ex-esposa no processo de divórcio Foto: Igor Kubedinov/TASS via Getty Images

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Em dezembro de 2016, um juiz do Tribunal Superior determinou que Farkhad Akhmedov, um bilionário russo proprietário de uma casa na Inglaterra desde os anos 90, pagasse o equivalente a US$ 646 milhões à ex-esposa, Tatiana Akhmedova. Ele se recusou, afirmando que o casal se divorciara na Rússia havia mais de dez anos.

Em abril, o juiz ordenou a Akhmedov que entregasse o iate, avaliado em cerca de US$ 500 milhões, à ex-esposa. Desde então, a embarcação foi embargada pelas autoridades em Dubai, onde havia chegado para manutenção.

Há mais de dez anos, os oligarcas russos deixam suas esposas e parte do seu capital na Inglaterra. Evidentemente, há um acordo implícito: eles encontraram um porto seguro para se afastarem da realidade impiedosa da Rússia da era Putin, e a Grã-Bretanha recebeu um fluxo de gente muito rica.

Agora, alguns oligarcas começam a se dar conta de que a vida aqui tem seus riscos. O que acontece também para quem não reside no país, como Akhmedov, que jamais se tornou cidadão britânico. Ansioso por manter afastados os agentes do fisco britânicos do seu dinheiro, ele limitou o número de dias em que permanecia na Inglaterra a um máximo de 180 dias ao ano. (Mais recentemente, o número foi reduzido a 90).

Em janeiro, ele apareceu na “Lista de Putin”, um elenco com os nomes da elite de empresários e políticos da Rússia, publicada pelo governo Trump. Desde então, sete oligarcas - mas não Akhmedov - têm sido alvo de sanções que lhes impedem de fazer negócios nos Estados Unidos.

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Um oligarca russo foi intimado pelos tribunais a entregar o iate Luna para a ex-esposa Foto: Marco Secchi/Corbis via Getty Images

O Luna foi construído para um homem que se antecipava a eventuais problemas. A bordo, ele tem um sistema de detecção de mísseis, um sistema anti-drones, janelas à prova de balas e portas à prova de bombas.

Entretanto, nenhuma destas características protegeu o seu dono do sistema judiciário britânico. Inicialmente, o embargo do iate em Dubai pareceu uma derrota para Akhmedov. Depois, ele disse que o destino da embarcação deveria ser decidido por um tribunal local em Dubai, que adota a lei islâmica, conhecida como Sharia.

Segundo especialistas em direito, Akhmedov calculou que as suas probabilidades de ganhar o processo seriam melhores em um tribunal da Sharia, principalmente considerando que a sua ex-esposa é cristã e admitiu ter sido infiel no casamento. Os tabloides britânicos destacaram ultimamente que Akhmedov é um muçulmano praticante.

Isto é novidade para a sra. Akhmedov, que afirmou nunca ter visto o ex-marido ajoelhar sobre um tapete para orar ou ir a uma mesquita.

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Ela diz que também está pasma com a campanha de Akhmedov contra ela para impedir que embolse um centavo da sua fortuna de US$ 1,4 bilhão. E declara que precisa do dinheiro porque está vivendo com uma quantia fixa que lhe é passada pelo escritório de advocacia que atua no processo, para ajuda-la a pagar as custas legais, e que também ficará com uma porcentagem de qualquer resultado do divórcio.

“Não quero me fazer de vítima, porque não é da minha natureza”, afirmou. “Mas preciso me defender”. Tatiana Akhmedova disse que sempre quis um acordo extrajudicial, sem estardalhaço e por muito menos do que ela teria direito a receber. Ainda fala com carinho dos anos passados com o ex-marido, que conheceu em Moscou em 1989, aos 17 anos. Ele tinha quase o dobro de sua idade. Casaram-se em 1993 e se mudaram para Londres.

Em 2014, Akhmedov adquiriu o Luna, de Roman Abramovich, outro oligarca e proprietário do time de futebol Chelsea.

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Se ganhar a ação, ela pretende procurar um comprador e vender o iate. Mas Akhmedov provavelmente levará adiante o litígio até ganhar.

“Ele prefere ver o Luna apodrecer no calor de Dubai”, disse o seu porta-voz Ian Monk, “a entregá-lo a Tatiana”.

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