02 de setembro de 2019 | 06h00
NOVA DÉLI - É horário de pico da manhã na estação do metrô de Nawada, na capital, e dezenas de riquixás elétricos brigam entre si para chegar no estacionamento. Na entrada, eles param a fim de permitir que seus quatro ou cinco passageiros desçam e, assim, pegar outros. Mais de 50% dos táxis de três rodas compartilhados são tecnicamente ilegais, e quase todos os motoristas não têm licença. Os acidentes são comuns. Quase todos são movidos por baterias chumbo-ácido que ficam em baixo dos assentos dos passageiros. E a eletricidade usada para recarregá-los muitas vezes é roubada. “Não é nem um pouco seguro”, avalia Suman Deep Kaur, usuário de e-riquixá.
O sistema é confuso, improvisado e procurado pelo povo. O governo e os fabricantes de veículos agora tentam estabelecer algum controle. Os milhões de e-riquixás da Índia constituem a maior frota de veículos elétricos do mundo, superada apenas pela frota de centenas de milhões de motocicletas e bicicletas elétricas da China. Segundo os cálculos de analistas, cerca de 60 milhões de indianos usam diariamente um e-riquixá.
Enquanto isso, cada viagem nestes veículos deixa os passageiros com os pulmões cheios de poeira e chacoalha os seus ossos. Os condutores frequentemente trafegam na contramão, e, com as laterais abertas, passageiros precisam se agarrar de algum modo para não cair. Nas cidades do norte do país, os riquixás já suplantam os auto-riquixás, veículos de três rodas movidos a diesel, gasolina ou gás natural. Embora um auto-riquixá seja mais seguro e mais rápido, uma corrida custa de três a dez vezes mais, porque a energia usada pelos veículos elétricos é mais barata e eles podem transportar mais passageiros, ainda que em condições mais precárias.
Os primeiros e-riquixás foram importados da China e apareceram há cerca de dez anos, e foram legalizados pelo Parlamento indiano em 2015. Os e-riquixás reduzem a poluição do ar em lugares como Nova Déli, uma das cidades mais poluídas do mundo, a ponto de as autoridades oferecerem um subsídio de 30 mil rupias, ou cerca de US$ 425, a motoristas que compram um destes veículos novos.
Agora, o governo central tenta obrigar os fabricantes de motocicletas e auto-riquixás a também usarem exclusivamente eletricidade. E exige que todos os veículos novos de três rodas sejam elétricos até 2013, e os de duas rodas até 2025. “É bom para a terra”, afrima Rajiv Kumar, vice-presidente da Niti Aayog, agência que administra o plano. Por outro lado, o clima tórrido da Índia castiga as baterias elétricas. Elas perdem a carga mais rapidamente do que nos países menos quentes, e podem ainda superaquecer.
As grandes empresas começam a ver o seu potencial para solucionar os problemas. A Ola, concorrente indiano da Uber, está testando os e-riquixás que podem trocar rapidamente as baterias de íons de lítio. Mahindra & Mahindra, produtora de veículos comerciais, associou-se à start-up SmartE a fim de criar um mercado para e-riquixás premium que funcionam com baterias de íons de lítio.
A SmartE, que tem cerca de mil riquixás, a maior frota deste tipo, tem um contrato com o metrô de Nova Déli. A start-up aluga riquixás com baterias de íons de lítio aos motoristas, que devem percorrer itinerários pré-estabelecidos por um computador que também avalia a demanda. Goldie Srivastava, diretor executivo da SmartE, disse que faz sentido que os veículos de três rodas liderem a revolução elétrica da Índia. “Pegar um veículo de três rodas é um hábito”, diz. “É elétrico, mas não é algo totalmente novo para a Índia”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA
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