Israel avalia destino de suas reservas de gás natural

Embora a exportação seja o caminho mais rentável, especialistas incentivam deixar a fonte de energia para as próximas gerações

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Por Clifford Krauss
Atualização:

TEL AVIV - Por dezenas de anos, Israel foi um país com grande necessidade de energia, cercado por vizinhos hostis ricos em petróleo. Agora, graças a pesquisas offshore realizadas na última década, descobriu-se que o país possui mais gás natural do que o que pode usar. 

O fato de ter gás em excesso não constitui um problema, mas apresenta dificuldades para um país que quer extrair benefícios geopolíticos e econômicos de sua abundância. Enquanto Israel pretende exportar grandes quantidades de gás para os Estados Unidos, países como Austrália, Catar e Rússia inundam o mercado de gás barato. O outro problema é a matemática: os 8,5 milhões de habitantes de Israel usam em um ano menos de 1% do gás encontrado em suas águas.

Com a descoberta de enormes reservas de gás ao largo da costa, Israel está transformando muitas de suas usinas elétricas para operarem a gás natural. Foto: Tamir Kalifa para The New York Times

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A Noble Energy, uma companhia sediada no Texas que fez sua primeira descoberta de gás em Israel, em 1999, encontrou mais de 850 bilhões de metros cúbicos de gás ao largo da costa do país. Segundo alguns especialistas, novas descobertas poderão dobrar este volume. Consequentemente, Israel está reduzindo gradativamente o diesel e a eletricidade produzida por usinas movidas a carvão.

O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu estuda a possibilidade de proibir a importação de automóveis a gasolina e diesel a partir de 2030. Ao mesmo tempo, o país intensifica as exportações a vizinhos como Jordânia e Egito. Há até mesmo planos para fornecer gás a clientes palestinos na Cisjordânia. Mas estas iniciativas afetarão muito pouco as reservas do país.

Durante dezenas de anos, as usinas a carvão e a petróleo cobriram suas cidades de smog (neblina contaminada por fumaça). A mudança para o gás contribuiu para limpar o ar em cidades como Tel Aviv e Haifa. A maior usina a carvão de Israel, em Hadera, será convertida nos próximos três anos, reduzindo o consumo nacional em 30%. As autoridades preveem eliminar uso do carvão dentro de 11 anos.

Em Hadera, as melhorias já são visíveis depois que o gás substituiu o petróleo em parte da usina e da instalação de um dispositivo que limpa as emissões dos veículos. A praia não está mais coberta com a sujeira preta do alcatrão, e a faixa amarelada de poluição no horizonte desapareceu.

O produtor rural Guy Stansill, 38, espera que isso dure para sempre. O filho Tayo, de 5 anos, tem asma, e agora respira bem melhor. Mas sua esposa, Lee Kush, acha que Israel deveria investir mais em energia renovável. "Temos tanto sol! Para que usar o gás?".

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Na opinião das autoridades, a abundância de eletricidade produzida por usinas movidas a gás encorajará o uso de veículos elétricos, reduzindo a poluição. Quinze caminhões de lixo em Haifa são movidos a gás natural comprimido. O país importou 59 ônibus deste tipo da China, e outros já foram encomendados. Mas como o setor industrial de Israel é pequeno, e a utilização de gás nos domicílios é limitada por causa dos invernos amenos, o país precisa exportar mais para beneficiar-se com a abundância de energia.

Talvez Israel pudesse vender o gás para a Ásia, onde a demanda está crescendo, mas a oposição do público bloqueou os planos de um terminal de exportação na orla marítima, uma área densamente povoada. Os parlamentares há muito são favoráveis à proposta de construir um gasoduto até a Europa, passando pela Turquia, mas as relações com o presidente Recep Tayyip Erdogan pioraram. 

O projeto mais ambicioso é a construção do mais longo gasoduto do mundo passando por Chipre e Grécia. Este tem o apoio da União Europeia, Chipre e Grécia, mas os investidores relutam em gastar os cerca de US$ 6 bilhões que o projeto custaria.

Alguns especialistas israelenses prefeririam deixar o gás onde está. "Não vejo nada de errado em deixar o gás para as futuras gerações", disse Gal Luft, ex-oficial militar israelense e especialista em energia. "Estamos falando de gás em águas profundas na região mais instável do mundo. Portanto, vamos ser humildes". / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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