Banca de salsicha mais famosa de Berlim conta parte da história alemã

Durante 43 anos, Waltraud Ziervogel presidiu a Konnopke's, a icônica empresa de salsichas que seu pai iniciou em 1930 no que se tornou Berlim Oriental

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Por Christopher F. Schuetze
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BERLIM - Na noite da queda do Muro de Berlim, em novembro de 1989, Kurt, o marido de Waltraud Ziervogel, foi para casa e pediu à esposa que o acompanhasse nas comemorações. “Eu disse: ‘Está maluco?’ e fui para a cama porque no dia seguinte o trabalho começaria cedo”, contou Waltraud. Quando ela abriu a banca de salsichas, às 4h30, na esquina em geral movimentada, a apenas 35 metros do muro, estava ainda mais barulhenta do que de costume.

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“Parecia uma grande festa. Todos estavam acordados e felizes, festejando, e muitos queriam uma salsicha, mas eu não podia aceitar dinheiro do lado ocidental”. Trinta anos mais tarde, depois de dezenas de milhares de salsichas de porco e de centenas de quilos de ketchup com curry, Konnopke’s, a banca de salsichas embaixo de um viaduto do metrô, no coração de Prenzlauer Berg, que começou em 1930, ainda existe, um monumento a uma Berlim de operários que quase foi obrigada a sair, enquanto os bares abertos à noite toda foram substituídos por bancos, lojas de cozinhas de última geração e restaurantes veganos.

Como muitos outros cidadãos da Alemanha Oriental que tiveram de enfrentar despreparados os desafios de um sistema capitalista, Waltraud, com 53 anos quando o muro caiu, foi obrigada a adaptar-se. Mas, ao contrário da maioria, já é uma comerciante de sucesso responsável por mais de doze empregados.

Mas a transição foi difícil. Seus fornecedores deixaram de existir da noite para o dia; e novos impostos e novas regulamentações da prefeitura. Em 2010, as autoridades tentaram convencê-la a mudar de ponto. Depois de uma longa luta, ela conseguiu uma autorização para reconstruir completamente a sua banca em 2010, e reabriu logo no início do ano seguinte. Apenas alguns comerciantes do bairro sobreviveram nas últimas três décadas.

A loja Konnopke's se adequou aos gostos dos alemães ocidentais, em 1990. O currywurst fatiado e as batatas fritas com tigelas de caldo quente. Foto: Lena Mucha para The New York Times

Konnopke’s, que fica mais ou menos a 15 metros na intersecção de três avenidas importantes, continua o coração da área. Celebridades, políticos e turistas a visitam regularmente. Max Konnopke, o pai de Waltraud, começou o negócio em 1930. Ela assumiu formalmente os negócios em 1976, quando o pai se aposentou.

O maior desafio foi em 1990, com a reunificação da Alemanha Oriental com a Ocidental. Novos clientes esperavam comidas diferentes. Konnopke’s começou a vender batatas fritas. O currywurst, que era servido com um pãozinho com uma caneca de caldo quente, hoje é fatiado e servido em um prato de papel. E há também currywurst veganos.

As festas de casamento agora podem reservar mesas no terraço do edifício. “Coloquei toalhas de mesa e alguns buquezinhos de flores”, disse Waltraud. “Ela lutou como um touro para manter este ponto”, disse DieterKohl, um cliente regular desde antes da queda do muro.

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Ele não é o único berlinense antigo que mantém o hábito de voltar. Do lado de fora da loja há um cartão postal em preto e branco pendurado, dos anos 1960. Na imagem, um menino olha para cima, para a lanchonete. “Pelo menos uma vez por semana”, disse a proprietária, alguém fala: ‘Aquele menino sou eu’”. “Todo mundo estava lá, feliz, festejando, e muitos queriam comer salsicha”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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