Rindo até chegar à indústria do bem-estar

'Poog' é um podcast sério sobre tendências de bem-estar, mas é também uma comédia

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Por Ivy Knight
Atualização:

À primeira vista, Poog, podcast sobre a indústria do bem-estar, parece uma piada. Afinal, o nome Poog é Goop (o site dedicado a estilo de vida) escrito ao contrário.

Jacqueline Novak, uma das apresentadoras dopodcast 'Poog'. Foto: Ross Mantle/The New York Times

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Kate Berlant e Jacqueline Novak, as comediantes que deram início ao podcast em novembro, são tão irreverentes quanto sérias em assuntos como ioga facial e de cólon, otimização do potencial durante a menstruação, drenagem linfática e cristais. A premissa do Poog não é desmascarar ou mesmo verificar as tendências de bem-estar, mas sim explorá-las de maneira divertida com um público curioso. "Acho que as pessoas se perguntam se é uma paródia, porque não conseguem acreditar que temos a audácia de agir de forma tão intensa sobre o ácido hialurônico", disse Novak, de 38 anos, de sua casa em Hollywood.

As "bruxas", como se autodenominam, têm diferentes áreas de interesse. Novak se inclina mais para o esotérico e o metafísico: fantasmas, projeção astral, experiências fora do corpo, terapia EMDR (sigla em inglês de Dessensibilização e Reprocessamento mediante o Movimento dos Olhos) e cuidados com a pele, para citar alguns.

Berlant, de 34 anos, também é fascinada pelos cuidados com a pele, além da atenção plena e da alimentação: laticínios e alternativas a eles, pão sem glúten, ovo de galinha caipira, produtos microverdes, bufê de hotel, jantar de espaguete e martíni (ela é fã).

Os podcasts são um grande negócio agora, assim como o bem-estar. Uma pesquisa sobre o comportamento do consumidor de mídia digital, conduzida pela Edison Research, relatou que, em 2020, o número de consumidores de podcast mensal nos Estados Unidos ultrapassou os cem milhões pela primeira vez. Quanto ao bem-estar, seu valor de mercado é estimado em trilhões de dólares.

O bem-estar é um mercado que prospera na celebração da especialidade do indivíduo, no qual o termo "Vai, garota" se tornou menos um grito de guerra e mais um mantra interminável. Essa rotina diária de estímulo onanístico pode ser exaustiva.

Novak e Berlant podem ser consideradas o antídoto, e mesmo assim foram convidadas para a meca do bem-estar quando apareceram em um podcast do Goop chamado The Beauty Closet (O armário da beleza), em julho.

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"Como o bem-estar e a beleza são considerados domínios femininos em nossa cultura, são ridicularizados e desvalorizados. Berlant e Novak vão até o puro machismo por trás dessa ideia. Como mulher, sempre recebo 'menos' mensagens de cultura, e tudo que me resta é dar risada, e 'Poog' me faz rir", afirmou Jean Godfrey-June, editora de beleza do Goop e apresentadora do podcast.

Junto à Jacqueline Novak, Kate Berlant apresenta opodcast sobre o universo do 'bem-estar'. Foto: Ross Mantle/The New York Times

Embora o podcast tenha começado durante o bloqueio da pandemia, as duas amigas não estão mais passando tanto tempo em casa. Berlant acabou de atuar no novo filme de Olivia Wilde, Don't Worry Darling (Não se preocupe, querida), e começou a filmar A League of their Own (Uma liga própria), de Abbi Jacobson, para o serviço de streaming Prime Video. E o monólogo de Novak, Get On Your Knees (Fique de joelhos), teve todos os ingressos vendidos no Teatro Cherry Lane em Nova York no início deste verão boreal.

As comediantes comentaram que, desde o primeiro episódio, parte da motivação para fazer o podcast era a busca por produtos gratuitos. E as empresas entregaram. "Os produtos estão chegando. É realmente estressante porque há tantos, e estão chegando muito depressa", disse Berlant, acrescentando que "tudo fica melhor quando é grátis".

A comercialização de bem-estar está pronta para ser destruída, mas Novak e Berlant não estão interessadas em acabar com o mito. "Existe alguma coisa infinitamente fascinante em ver as pessoas enlouquecendo por causa dos produtos. Realmente, desejo que se libertem da prisão do consumismo, mas também acho que não teríamos um podcast tão bom", observou John Early, ator que colabora com ambas há anos.

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A atriz Megan Mullally é fã, assim como Amy Schumer, que falou sobre o programa no podcast de Paris Hilton: "São pessoas que não pedem desculpa por quem são e só compartilham seus pensamentos e sentimentos genuínos." Miranda July, autora e cineasta, é outra fã. Ela procurou Berlant e Novak e as convidou para sair; depois, passaram a ter uma reunião semanal via Zoom e, por fim, reuniões presenciais. "É a comédia em sua forma mais complexa. Essa deveria ser a unidade básica mais elevada de medição do pensamento humano: duas mulheres conversando", disse July sobre o podcast.

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