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Bairro italiano de NY virou reduto de albaneses e mexicanos

A chegada de italianos foi sendo lentamente substituída pelos imigrantes dos países dos Bálcãs e da América Latina

Por Helene Stapinski
Atualização:

Recentemente, havia muita gente em Little Italy. Em dois cafés de estilo europeu, com as mesas na calçada fixadas na Arthur Avenue, na parte do Bronx chamada Belmont, turistas e moradores estavam sentados ao ar livre, bebericando café. No Luna Cafe, depois da gigantesca bandeira italiana pintada na rua, tremulava uma bandeira albanesa, enquanto alguns homens fumavam hookah.

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Na Prince Coffee House, clientes conversavam em albanês. Os únicos italianos eram da terceira e quarta geração dos bairros residenciais, que paravam para tomar café entre uma visita e outra à lojas para comprar mozzarella e sopressata. “Eu não o chamaria Little Albania”, observou Florian Lota, recém-imigrado do Kosovo que trabalha no Prince.

“É mais a Big Albania”. Há anos, as Little Italys da cidade vêm encolhendo após a mudança das famílias imigrantes da virada do século. No entanto, um tipo diferente de contração ocorreu na área de Belmont no Bronx. Ali, a diáspora italiana foi sendo lentamente substituída pelos imigrantes dos países dos Bálcãs e da América Latina.

Muitas pessoas que cortam as fatias de caciocavallo e fazem cannoli vêm da Albânia ou do México. A Little Italy de Belmont é a que mais se manteve íntegra em toda a cidade, embora esteja longe do seu passado isolado, protegido pela Máfia, que se tornou famosa por causa de A Bronx Tale, o filme de 1993.

A Teitel Brothers, fundada por judeus europeus, fornece carnes curadas aos restaurantes de Little Italy desde 1915 Foto: James Keivom/The New York Times

Abrangendo cerca de 40 quadras, ela prosperou graças à entrada de imigrantes de etnias diferentes. Em razão de sua proximidade com o Mar Adriático, a Albânia sempre teve um vínculo muito forte com a Itália ao longo dos séculos. Na Idade Média, os albaneses se estabeleceram no sul da Itália, criando dialetos albaneses-italianos, que ainda são falados em pequenos enclaves.

Durante o período comunista, a televisão italiana era tudo o que os albaneses viam. Depois do colapso da União Soviética e o começo da Guerra do Kosovo, a Itália, localizada na entrada do Ocidente, serviu de rota de fuga para os albaneses que deixavam o seu país. Como eles compreendiam o italiano, a sua transição para Little Italy foi fácil.

Albaneses e mexicanos preenchem hoje os espaços deixados pelos italianos que se mudaram dali, e ajudam a manter o bairro tão cheio de vida quanto antes. A Pizzeria Tony and Tina’s não serve apenas fatias, mas também bureka albanesa – uma espécie de torta de massa fina recheada de carne.

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Isto não é novidade no Bronx. A Teitel Brothers, a fantástica salumeria da região, é de judeus europeus que aprenderam o italiano muito tempo atrás, e estão ali desde 1915. Em 1970, a seção de Belmont era 89,5% branca, segundo a prefeitura; em 2017, os latinos constituem 75% da população.

Não surpreende que os mexicanos, como os albaneses antes deles, tenham se integrado na Little Italy, disse Danielle Oteri, uma guia de turismo. “Italianos e mexicanos mantiveram inúmeros paralelos em sua jornada migratória”, ela disse. Até suas bandeiras têm as mesmas cores.

Em Our Lady of Mount Carmel, há um cantinho dedicado à Virgem de Guadalupe. As famílias mexicanas compram as trombas dos suínos do açougueiro italiano para a vovó fazer ‘carnitas’. A comunidade se integrou a tal ponto na vizinhança que a última vez que a Itália ganhou a Copa do Mundo, em 2006, os mexicanos foram para as ruas gritando: “Nós ganhamos!” conta Roman Casarrubias, proprietário do restaurante M&G.

Os negócios estão indo tão bem, afirmou, que ele abriu mais uma. Ele emprega cerca de 14 pessoas da sua terra natal, o México, mas também da Venezuela, República Dominicana e Porto Rico. A sua clientela é uma verdadeira liga das nações, observou Casarrubias; “Aqui somo todos amigos”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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