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Como salvar o meio ambiente a partir da própria cozinha

Para produzir um único hambúrguer bovino são necessários cerca de 2,5 mil litros de água; empresas apostam no mercado de substitutos

Por Matt Wasielewski
Atualização:

São necessários cerca de 2.500 litros de água para produzir um único hambúrguer bovino - é o equivalente ao uso médio de um lar americano durante uma semana. Com o mundo diante de evidências cada vez mais concretas do impacto causado por um clima em aquecimento, aqueles que pensam em reduzir o próprio impacto ambiental não precisam ir muito além da cozinha. “Trocar a carne por algum substituto é a decisão mais revelante de um indivíduo no combate à mudança climática, de acordo com um estudo publicado na (revista) Science",  indicou Timothy Egan.

O mercado de substitutos está decolando - as vendas globais de alternativas à carne chegaram a US$ 19,5 bilhões no ano passado, de acordo com pesquisas  da Euromonitor International. Mais empresas pensam em expandir sua oferta de produtos de carne não derivados de animais. A Impossible Foods, criadora dos hambúrgueres falsos disponíveis na rede Burger King, pretende desenvolver substitutos para todos os alimentos a base de carne até 2035. 

Um estudo de 2018 previu um ano de consumo recorde de carne entre os americanos, e a carne falsa corresponde a apenas 1% do mercado total. Foto: Angel Franco / The New York Times

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O mais recente feito da empresa é o peixe falso. Em junho, a Impossible disse ter criado um caldo com sabor de anchovas feito a partir de vegetais usando a proteína hemo, a mesma de sua fórmula de carne. “Usamos para fazer uma paella", diz o diretor executivo da Impossible, Pat Brown. “Mas poderíamos usar no molho de uma salada caesar ou algo assim”.

Os estoques mundiais de peixes marinhos estão 90% esgotados, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, ritmo que Brown descreveu como “colapso iminente". “Em se tratando da urgência do impacto ambiental, os peixes vem depois das vacas, seguidos pelos outros animais", afirma Brown.

Os frutos do mar vegetais podem ser uma alternativa à pesca exagerada, mas a empresa Wild Type, de São Francisco, tem outros planos. Usando a agricultura celular, a empresa cria salmão no laboratório. “As células sabem o que fazer", confirma Aryé Elfenbein, um dos fundadores da empresa. “Elas se tornam fibras musculares. Tornam-se tecido gordo. Criam o tecido de conectividade que conhecemos como carne".

Mas a empresa enfrenta problemas para aumentar a produção. A Wild Type ofereceu uma degustação em junho em um restaurante de Portland, Oregon, mas foram necessárias quase quatro semanas para criar o meio quilo de salmão servido na ocasião.  Nem todos estão animados com a revolução da carne falsa. Este ano, em 24 estados americanos, a indústria da carne e seus defensores tentaram aprovar leis proibindo que produtos alimentícios vegetais sejam apresentados como carne.

Consumo de carne

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Como disse o deputado republicano David Hillman, do Arkansas: “Quero que em algum momento minha bisteca tenha caminhado sobre quatro patas”. Mas um grupo de querelantes, entre eles os criadores do Tofurkey, deram entrada em um processo em Arkansas dizendo que a lei é inconstitucional porque limita a linguagem que pode ser usada no marketing de seus produtos. “Se queremos dizer que algo tem sabor de bacon, o que fazemos?”, questiona Michele Simon, diretora executiva da Plant Based Foods Association. “Dizemos que é salgado, gordo e lembra porco? A questão é que manobras linguísticas são desnecessárias”.

Os substitutos da carne têm muito espaço a conquistar. Um estudo de 2018 previu um ano de consumo recorde de carne entre os americanos, e a carne falsa corresponde a apenas 1% do mercado total. Mas, como escreveu Egan, se isso ajudar a evitar os piores efeitos da mudança climática, então “que venham os cachorros-quentes vegetarianos e os hambúrgueres de soja disfarçados de carne".

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