Mostra retrata a origem do compartilhamento de fotos

A exposição 'Snap+Share', no Museu de Arte Moderna de San Francisco, mostra como a transmissão de imagens evoluiu ao longo do tempo

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Por Jori Finkel
Atualização:

SAN FRANCISCO - A imagem de um gato de olhos brilhantes, como muitos outros online, sai de um buraco na parede quando entramos na nova exposição Snap+Share, no Museu de Arte Moderna de San Francisco. O gato no buraco é um conhecido meme da internet, enquanto o título da mostra é um jogo de palavras evidente com Snapchat, aplicativo de mensagens e compartilhamento de fotos.

Clément Chéroux, curador sênior de fotografia do museu, está explorando como a transmissão de imagens evoluiu dos tempos do analógico para o digital. Ele defende uma linhagem séria histórico-artística do compartilhamento de fotografias nas redes sociais.

'I Got Up…', de On Kawara, uma série de postais turísticos que ele enviou diariamente por mais de dez anos. Foto: Jason Henry para The New York Times

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A exposição contesta o conceito comum segundo o qual a internet mudou radicalmente a maneira como compartilhamos imagens de nós mesmos, dos nossos bichinhos de estimação e das nossas férias, e criou "um diálogo de um tipo inteiramente novo", como escreveu o repórter de tecnologia Nick Bilton. Ao contrário, ele propõe que as raízes deste tipo de compartilhamento se encontram há dezenas de anos, o que significa uma evolução e não uma revolução.

"Enviamos cartões postais e fotos instantâneas desde o início da fotografia", disse Chéroux, embora notando que tanto o volume quanto a intensidade da comunicação evidentemente cresceram com as redes sociais. "A mostra joga com esta tensão. É nova - e nem tão nova assim".

Ela reforça de maneira mais dramática seu argumento porquanto focaliza a "arte postal" dos anos 1960 e 1970, os projetos de artistas que usavam o Serviço Postal dos Estados Unidos como colaborador involuntário.

Chéroux afirma que seu interesse está mais no "intercâmbio íntimo de imagens, de uma pessoa para outra, gestos que dizem 'Estou aqui' ou 'Este sou eu'", segundo ele, um impulso que a arte postal e as redes sociais têm em comum.

Em Snap+Share, um bom exemplo da arte postal é "I Got Up...", do artista conceitual On Kawara, um conjunto de cartões postais com imagens turísticas que ele enviava diariamente a pessoas de localidades diferentes. Ele escreveu em cada cartão a hora na qual se levantava cada manhã. Começando em 1968, ao longo de dez anos, ele explorou o tema da sobrecarga de imagens.

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A mostra apresenta também artistas que respondem a este transbordamento de imagens. A instalação de Erik Kessel, "24 Hours in Photos", assume a forma de uma montanha de fotografias que enchem toda uma galeria, cujo sentido é evocar as centenas de milhares de imagens carregadas no Flickr, aplicativo do serviço de imagens do Yahoo, em um período de 24 horas naquele ano.

O museu também oferece uma oportunidade para selfies, pondo à disposição do público um refrigerador com o qual as pessoas podem posar com a cabeça no freezer, seguindo as instruções do artista David Horvitz. Ele começou a postar fotos nas redes sociais em 2009, e, desde então, o trabalho gerou imagens brincalhonas.

Outro experimento com memes, a exemplo do gato na entrada da exposição, volta na última galeria. Somente agora, o bicho assume a forma de um gato empalhado saindo de um buraco do teto do museu. A obra é de autoria de Eva e Franco Mattes, que divagavam sobre a famosa imagem do "gato no teto", postada na internet por volta de 2006. Eles pegaram o bicho imponderável olhando para o público que olha para ele - alguns veem nisso um símbolo da própria internet - e o transformaram em uma escultura tridimensional.

Em nossa era da aceleração da imagem, ela poderá ainda se metamorfosear em um nanossegundo. Agora que esse gato atingiu um lugar tão elevado na esfera do museu, será fotografado e postado pelos visitantes, que o enviarão de volta à corrente digital. "O que vemos hoje é um círculo sem fim da cultura popular para a arte de volta para a cultura popular", explicou Chéroux. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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