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A ascensão dos Climatarianos

Esqueça a contagem de passos, que tal monitorar sua pegada de carbono?

Por Danielle Braff
Atualização:

Torben Lonne, mergulhador de 34 anos de Copenhague, não come nada sem levar em conta a pegada de carbono e o nível de emissões ocasionados pelo alimento que está prestes a consumir. Por essa razão, a dieta dele gira em torno de frutas e vegetais fornecidos localmente - e pizza. Mas ele evita abacates.

“Abacates produzidos para exportação são incrivelmente intensivos em carbono, especialmente quando consideramos que o caminho entre o campo de cultivo e o nosso prato tem milhares de quilômetros”, afirmou Lonne. “Fora a logística, fazendas de abacate delapidam rios e lagos, particularmente na América do Sul, para conseguir matar nosso voraz apetite por guacamole.”

Climatarianos, que se preocupam com a pegada de carbono de suas escolhas, estão fazendo restaurantes mudarem seus cardápios. Foto: Via Just Salad via The New York Times

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Lonne se autointitula um climatariano, termo que apareceu pela primeira vez no The New York Times em 2015, entrou no Dicionário Cambridge no ano seguinte e está se tornando cada vez mais comum atualmente. Aplicativos como Kuri, lançado no ano passado, oferecem receitas climatarianas. Restaurantes de comida rápida e casual, incluindo Just Salad e Chipotle, estão marcando em seus cardápios itens que se encaixam nessa dieta, como na dieta paleolítica, antes dela.

Há também as marcas amigas do movimento climatariano, incluindo a Moonshot, uma empresa carbono neutra de São Francisco que produz bolachas feitas de ingredientes cultivados de maneira regenerativa, com trigo cultivado em agricultura familiar, moído na pedra, usando embalagens feitas 100% com material reciclado. Julia Collins, diretora executiva e fundadora da Moonshot, de 42 anos, também abriu a Planet FWD, que vende o que ela qualifica como “softwares de sustentabilidade” para ajudar empresas alimentícias a calcular o impacto ambiental de seus produtos.

Quando a Just Salad acrescentou uma opção de cardápio climatariano, em setembro, mais de 10% de suas vendas de saladas passaram a sair daquele menu, afirmou Sandra Noonan, diretora de sustentabilidade da cadeia de restaurantes, posição criada em 2019 na empresa.

Quem segue essa dieta se alimenta de frutas e verduras que estejam na época em suas respectivas regiões; os climatarianos evitam carne processada; e buscam ingredientes locais, porque esses itens possuem pegadas de carbono mais baixas, afirmou Brian Kateman, presidente e fundador da Reducetarian Foundation, uma organização sem fins lucrativos de Providence, Rhode Island, que advoga pela diminuição do consumo de produtos de origem animal. Muitos reducetarianos são também climatarianos: cortando o consumo de itens em razão da preocupação com a crise ambiental.

Kateman, de 31 anos, aderiu em 2007, após ler o livro The Ethics of What We Eat (A ética do que comemos), de Peter Singer e Jim Mason. Ele ficou horrorizado ao saber que as emissões de gases de efeito estufa ocasionadas pela agricultura cresceram 12% entre 1990 e 2019, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental.

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“Não dá mais para dizer que nossas escolhas alimentares - em níveis tanto individuais quando corporativos - sejam escolhas pessoais”, afirmou ele. “Temos apenas um planeta, que compartilhamos.”

Determinar exatamente como fazer isso em relação à sua dieta, contudo, não é fácil. Ainda que muitos climatarianos não sejam vegetarianos, pois acreditam que frango e cordeiro são escolhas muito melhores do que carne bovina, alguns deles abstêm-se totalmente de qualquer carne, já que os vegetais, de maneira geral, têm pegadas de carbono menores.

Mike Tidwell, de 59 anos, diretor da Rede de Ação Climática Chesapeake, evita amêndoas e pistaches, porque requerem grandes quantidades de água durante o cultivo. “As secas crônicas na Califórnia, ocasionadas pelas mudanças climáticas, me fizeram comer menos alimentos com uso intensivo de água”, afirmou Tidwell, que vive em Takoma Park, Maryland.

Maggie Vlasaty, de 22 anos, consultora de marketing de Minneapolis, evita carne bovina, suína, a maioria das outras carnes e frutos do mar. Ela também não come alimentos de marcas que apoiam exploração de petróleo. Antes de ir a algum restaurante, ela analisa o cardápio cuidadosamente para decidir o que deverá pedir.

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“Se não tenho tempo para isso, a refeição se torna um momento de estresse para mim”, afirmou Vlasaty. “Também me acostumei a comer antes de ir a casas de amigos ou festas.”

Shelbi Storme, de 28 anos, blogueira especializada em sustentabilidade, de San Antonio, começou a evitar carne vermelha quando soube quanta água é necessária para produzir um hambúrguer: 567,8 litros para cada 115 gramas de carne, de acordo com a U.S. Geological Survey. Mas vivendo em um Estado que se gaba de manter o maior número de cabeças de gado nos EUA, é difícil para ela navegar entre as escolhas de refeição - especialmente quando sai com amigos.

Storme usa com frequência o aplicativo Happy Cow para encontrar lugares com opções vegetarianas, mas seus amigos nem sempre a apoiam. “Ao longo dos anos, me senti julgada por adotar uma dieta que contribui para o planeta”, afirmou Storme. “Ouvi de tudo, desde ‘Você sabe que isso nunca fará diferença’ a ‘Mas a carne já está aqui, que diferença isso faz?’."

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Climatarianos podem, sim, fazer uma grande diferença, afirmou Jennifer Jay, professora do departamento de engenharia civil e ambiental da UCLA.

“A alimentação é a parte fácil daquilo que podemos mudar na equação climática”, afirmou Jay, citando um estudo de 2020 que prevê que mesmo se o uso de combustíveis fósseis for interrompido imediatamente, as emissões de gases de efeito estufa da indústria de alimentos ainda nos impedirão de alcançar metas climáticas.

Quando estudantes tiveram uma aula a respeito das conexões entre os alimentos e o meio ambiente, diminuíram sua ingestão semanal de carne vermelha de 3,5 porções para 2,5, cortando emissões a uma taxa equivalente a 1 quilo de dióxido de carbono por dia.

Se essa mudança de dieta fosse reproduzida por toda a população por apenas um ano, afirmou Jay, isso resultaria em uma redução de emissões de gases de efeito estufa de 106 milhões de toneladas métricas - ou o equivalente a um terço das metas estabelecidas no Acordo de Paris sobre o clima.

Vamos mudar tomando uma vitamina de frutas por vez. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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