Multidão de fãs de Game of Thrones sobrecarrega turismo de cidade mágica

Cidade de Dubrovnik, na Croácia, enfrenta dificuldades para receber milhares de fãs da série

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Por Marc Santora
Atualização:

DUBROVNIK, Croácia - A cada verão, hordas humanas chegam a Dubrovnik, uma cidade croata do Mar Adriático. A multidão é atraída pela beleza que há muito encanta os responsáveis por escolher as locações das produções de Hollywood, como ocorreu com aqueles que escolheram a cidade como cenário de “Game of Thrones", série de grande sucesso produzida pela HBO para a televisão.

Mas a invasão anual do exército de turistas armados com paus de selfie ameaça justamente aquilo que os atraiu para lá. Nos anos mais recentes, as multidões cresceram tanto que Dubrovnik em julho se tornou sinônimo de “turismo insustentável", um problema compartilhado por muitos dos lugares mais belos do mundo.

Fãs de ''Game of Thrones'' vestidos a caráter durante um passeio por navio de madeira restaurado usado na série da HBO. Foto: Dmitry Kostyukov para The New York Times

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Além das multidões, as queixas dos moradores dos destinos turísticos mais procurados incluem o efeito nos imóveis locais e preocupações com visitantes mal-educados e desrespeitosos.

A Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas estima que haverá 1,8 bilhão de viagens de turismo internacional já em 2030, uma alta em relação ao 1,2 bilhão observado em 2016.

As autoridades de Dubrovnik combateram o comércio de rua, limitaram o número de mesas externas dos restaurantes que lotavam os corredores antigos e - o mais importante - tentaram controlar melhor os cruzeiros que trazem milhares de passageiros à cidade, que é Patrimônio da Humanidade reconhecido pela Unesco.

Este ano, a cidade limitou o número de pessoas que podem desembarcar de cruzeiros ao mesmo tempo. No próximo verão, pela primeira vez desde quando começaram a atracar no porto local, duas décadas atrás, os cruzeiros serão submetidos a restrições ao seu horário de embarque e desembarque.

“Não existe uma solução particular para cada destino", disse Mato Frankovic, prefeito de Dubrovnik. “Mas o primeiro passo é reconhecer a existência do problema.”

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Assim como não existe uma solução única, não há um tipo único de turista que procura Dubrovnik. Há pessoas passando o dia, famílias de férias, pessoas participando de excursões e cruzeiros, amantes da história, baladeiros e um público relativamente novo de “set-jetters".

São aqueles que viajam o mundo em busca dos lugares usados como locações no seu universo fictício favorito. Em 2015, foram realizados em Dubrovnik 300 passeios guiados ligados a filmes e séries de TV. Em 2017, foram 4.500 passeios do tipo. Este ano, o número já aumentou 180%.

Katja Seref, que comanda passeios ligados à série “Game of Thrones” e antes oferecia passeios históricos, sempre fica surpresa com as perguntas que ouve.

Por exemplo, é impossível contar quantas vezes já perguntaram a ela quanto tempo a HBO precisou para construir as muralhas da cidade. Educadamente, ela responde aos fãs da série que as defesas da cidade são do século 13.

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Ela faz questão de não apenas levar as pessoas até os locais onde foram rodadas as cenas mais famosas da série, mas também comentar um pouco dos bastidores, contando como é viver num lugar transformado numa locação de produção audiovisual.

Frankovic lembrou de uma época em que parecia que Dubrovnik não sobreviveria, e ninguém imaginava a  cidade como um polo de turismo global.

Durante a Guerra dos Bálcãs, a Croácia logo foi convertida num campo de batalha ao buscar sua independência da Iugoslávia e, em 1991, Dubrovnik foi sitiada pelo Exército Popular da Iugoslávia, de maioria sérvia. Mais da metade dos edifícios foi danificada, e centenas de pessoas morreram.

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Foi somente em 1997 que o turismo começou a ganhar força, disse Frankovic. Em 2000, os cruzeiros marítimos começaram a chegar a cidade, e seu número não parou de crescer desde então. “O problema crucial foi que não houve gestão do turismo", disse ele. “O turismo simplesmente aconteceu.”

Para os proprietários de negócios locais como Gerda Metkovic, administradora do bar de vinhos Malvasija, na cidade velha, além de limitar os turistas, mais poderia ser feito para promover os produtos locais de qualidade. Embora não haja lojas de grandes franquias na cidade velha, as ruas são tomadas por lojas de lembranças baratas e camisetas.

“Temos um lugar especial", disse ela a respeito da cidade que chama de lar, o tipo de lugar de onde os visitantes podem levar memórias que durarão mais que qualquer camiseta. / Joe Orovic contribuiu com a reportagem

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