Murray Bartlett, de ‘The White Lotus’ abre sua própria ostra

Ator australiano vivendo nos Estados Unidos despontou na TV em 'Sex and The City', mas foi com 'Looking' e 'Crônicas de São Francisco que ele ganhou destaque

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Por Alexis Soloski
Atualização:

NOVA YORK - Com uma sobrancelha arqueada e o tipo de sorriso que deixa suas fãs tontas, o ator Murray Bartlett inclinou a cabeça para trás e sorveu uma ostra recém-aberta.

O ator Murray Bartlett, de 'The White Lotus', experimentando ostras na Marlow & Sons, em Nova York. Foto: Sara Messinger/The New York Times

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Isso foi em uma bela manhã logo antes do Dia de Ação de Graças no Marlow & Sons, o restaurante que Bartlett, de 50 anos, frequentava quando morava no bairro de Williamsburg, no Brooklyn. Estrela das séries dramáticas da HBO The White Lotus e Looking, e da versão repaginada de Crônicas de San Francisco, da Netflix, ele se mudou para Provincetown, Massachusetts, há dois anos, mas sempre que possível visita o estabelecimento onde aprendeu a comer ostras.

"A verdade é que sou um grande fã. Aprendi no melhor lugar", disse. E na semana anterior, quando o Marlow & Sons reabriu para o jantar, sua chef, Ryoko Yoshida se ofereceu para ensiná-lo a abri-las.

Yoshida também lhe emprestara um livro de autoria de Mark Kurlansky, para que ele aprendesse mais sobre a história cultural do molusco. O livro ainda não havia sido lido. Mas naquela manhã, vestido com os tons de cinza e marrom típicos de uma floresta invernal, estava ansioso para começar os trabalhos.

Ele se encontra com Yoshida atrás do bar de pedra, e ela lhe entrega um avental cinza e uma pequena faca com cabo de plástico. Atrás deles, uma bandeja de gelo com dezenas de ostras do Lago Eel, na Nova Escócia, com suas conchas espiraladas marrom e cinza. "Elas são bem carnudas e têm uma boa salinidade, um belo toque mineral", afirma a chef.

Ela e David McQueen, diretor de operações do restaurante, também haviam disponibilizado fatias de limão e um vinagrete de chalotas. Um prato de pão fresco e manteiga salgada foi colocado logo ao lado.

McQueen perguntou se Bartlett já havia aberto uma ostra. A resposta foi negativa.

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"Qual sua habilidade com facas?", perguntou McQueen.

"Cozinho bastante, mas geralmente com facas cegas. Entro num estado meditativo quando cozinho, e fico com medo de me cortar se a faca for muito afiada", explicou Bartlett.

"Isso vai ser divertido!", comentou Yoshida.

Amigável sem fazer esforço, e com um sorriso que faz seu bigode dançar, Bartlett parece estar sempre se divertindo. Imigrante australiano, chegou aos Estados Unidos no início dos anos 2000, e despontou em um episódio de Sex and the City; depois, passou vários anos sem receber outra boa oportunidade.

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Mas os papéis de Dom em Looking e Mouse em Crônicas de San Francisco - ambos homens gays confrontando uma geração mais jovem e seus costumes - foram marcantes. E o bigode ajudou. Então, sua interpretação de Armond, o gerente descompensado de um resort de luxo em The White Lotus confirmou o estrelato, às vésperas de seus 50 anos.

Ele acha que sabe o motivo da demora. Bartlett passou anos tentando mostrar aos diretores de elenco o que acreditava que eles queriam ver. Finalmente, depois dos 40 anos, começou a mostrar a si mesmo.

Consciente de estereótipos, sente-se particularmente responsável por retratar personagens gays em toda sua complexidade e humanidade, mesmo que isso o coloque em situações estranhas, como no pas de deux entre Armond e uma mala no final de The White Lotus. "Não é um personagem comedido", comentou.

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Segurando a ostra na horizontal, para que o líquido não escorresse, ela demonstrou como localizar sujeira e pedaços de concha. Então, retirou a parte superior ("A grande revelação!", como disse McQueen), e ofereceu a ostra a Bartlett.

"Uau, está muito boa. O sabor é delicado, sutil. Delicioso", afirmou Bartlett.

Era sua vez. Agarrando a faca com toda força, ele a introduziu na junção e imediatamente quebrou um pedaço da concha. Yoshida lhe incentivou a continuar, agora com mais força.

"Agora, foi", disse ele, abrindo a ostra. Depois de retirar a parte superior, ele a colocou sobre um monte de sal úmido.

McQueen lhe ofereceu emprego de abridor de ostras "se a carreira de ator não der certo".

"Aceito! Abro uma, como uma. Não é tão ruim assim!", brincou Bartlett.

"Ao trabalho!" ralhou Yoshida.

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Bartlett abriu mais algumas ostras com rapidez e perfeição.

"Como quebrei a primeira, estou me esmerando nas outras", justificou.

Depois de ter aberto meia dúzia, admirou o resultado de seu trabalho - mesmo aquele exemplar com a concha quebrada, à qual se referiu como "minha ostra da vergonha" - e então sentou-se para comer.

"Vou engolir minha vergonha", anunciou. E assim o fez. "Deliciosa. Dá para sentir o sabor do oceano. Tem um quê de mar realmente incomparável".

McQueen comentou que ele agora poderia ir a qualquer uma das famosas fazendas de ostras de Cape Cod e comprar um saco de ostras frescas.

"Eu sempre quis fazer isso", alegrou-se Bartlett, o que ocorreu algum tempo depois, no Dia de Ação de Graças.

Por e-mail, escreveu: "Sim, eu estava querendo exibir minhas novas habilidades de abridor de ostras. Parece que levo jeito para a coisa".

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