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Jimothy: o rapper de visual incomum que faz sucesso entre os jovens

O britânico não necessariamente se veste ou soa como seus colegas - mas é assim que ele gosta (e seus fãs também)

Por Sirin Kale
Atualização:

Londres - Como em todos os outros aspectos da vida, Jimothy se veste de maneira intuitiva. Em uma tarde recente no Mercado de Camden, no norte de Londres, o rapper de 22 anos usava uma camisa de botão impecável sob uma jaqueta Ralph Lauren, calça jeans e uma bolsa carteiro branca. "Pedi à minha mãe que a ajustasse", disse, apontando para o jeans.

Jimothy queria fazer música apenas para tocar em festas caseiras, mas estourou no YouTube. Foto: Suzie Howell/The New York Times

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Caminhando pelas barracas, olhou para uma banca de cintos Gucci falsos. "Estou comprando falsificações agora. Ficar sem dinheiro para parecer rico é muito constrangedor", comentou.

Quando Jimothy (nome verdadeiro: Timothy Gonzalez) estourou na cena musical londrina em 2017, com a faixa viral Getting Busy, seu visual alternativo era apenas parte do motivo pelo qual as pessoas ficavam perguntando se "Jimothy" era comediante.

Getting Busy é uma canção improvável em homenagem à organização da agenda ao som de batidas lo-fi, com Jimothy - que, na época, usava o sobrenome "Lacoste", revelando seu senso estético mauricinho - fazendo rap em seu estilo monótono, agora característico. No videoclipe da canção, ele dança em cima de um abrigo de ponto de ônibus, antes de pegar uma carona no lado de fora de um trem de Londres.

"Todo mundo queria saber: 'É uma piada? É uma piada?'", contou, balançando as pernas às margens de um canal de Camden. A pergunta costumava incomodar Jimothy quando era mais jovem e um "louco egoísta", segundo sua definição. Hoje, embora enfatize que "isso sou eu, de verdade", o rapper aceita que algumas pessoas simplesmente não entendem seu estilo.

"Você já ouviu alguma coisa parecida com a música dele, especialmente do ponto de vista das letras? É a forma mais pura de alguém ser genuinamente quem é e se divertir o máximo possível com tudo que cria, sem limites ou medo de críticas", afirmou Poundland Bandit, o anônimo criador de memes de Londres, que é seu fã.

Também há uma vulnerabilidade na música de Jimothy que evoca o estilo confessional de outros artistas britânicos como Mike Skinner (de quem se tornou colaborador) e a jovialidade de Dean Blunt. Ele rejeita inteiramente os lugares-comuns do rap, ou os subverte de maneira divertida. Enquanto outros rappers se gabam de sexo, drogas e carros caros, Jimothy fala de sua ambição de um dia ganhar dinheiro suficiente para fazer compras em supermercados de luxo e ouvir os conselhos de sua mãe.

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Jimothy abraça o fato de não ser convencional. Cresceu em conjuntos habitacionais na afluente área londrina de Primrose Hill, não muito longe do Mercado de Camden, e foi criado pela mãe, que é espanhola e com quem ainda vive. Seu pai, que é de ascendência caribenha mas nasceu no Reino Unido, não participou muito de sua criação.

Inteligente e antenado, Jimothy desfrutou uma liberdade incomum quando criança: "Quando eu tinha 12 anos, achava que já era homem feito." Explorava Londres a pé, caminhando até outros bairros a mais de seis quilômetros de distância. Também conhecia crianças mais velhas pela internet e fazia amizade com elas. "Eu mandava uma mensagem para elas no Facebook e dizia: 'Ei, gosto do que você faz, vamos curtir juntos.'"

A fluência de Jimothy na cultura digital se manifesta como uma hipersensibilidade em relação à própria imagem e um ódio aos clichês visuais. Quando mostra um maço de dinheiro no vídeo de Make Money, ele o faz porque sabe que "do jeito como estou vestido" - com uma blusa preta de gola alta e óculos de aro dourado - "a imagem fica interessante. Mas, se estou de jeans largos e corrente, não vou mostrar dinheiro, porque não pareço diferente", explicou.

Depois de deixar a escola, aos 16 anos, Jimothy pensou em se tornar massagista. Postou suas duas primeiras faixas, T.I.M.M.Y. e Getting Busy, na internet em 2016 e 2017. Ele disse que só queria fazer música para "tocar em festas caseiras". Sua irmã o encorajou a levar isso a sério.

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Depois do sucesso de Getting Busy, em 2018, Jimothy assinou contrato com a Black Butter Records, selo da Sony, embora tenha rompido o contrato algum tempo depois. Seus fãs variam em idade, desde a geração Y até adolescentes da Geração Z, mas todos compartilham uma coisa: "Eles se identificam comigo. Acho que se identificam mais comigo do que com minha música."

Conforme seu perfil foi crescendo, seus vídeos se tornaram mais conceituais e sofisticados. No ano passado, lançou seu álbum de estreia, The Safeway, pelo qual recebeu boas críticas. Sua turnê britânica, planejada para os próximos meses, inclui casas de show de porte médio. Trabalhou como modelo para o Acne Studios e a Ralph Lauren, e seu quarto no apartamento da mãe está cheio de brindes de marcas de moda.

Recentemente, Jimothy passou a se aventurar na house music e agora usará as batidas de outros músicos, algo que antes se recusava a fazer. Mas ele afirma que manteve o estilo pop improvisado, de quando enviava vídeos para um canal anônimo no YouTube, enquanto mantinha o controle sobre todas as partes de sua produção musical.

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Segundo ele, o último desafio em resistir à pressão para se conformar são os fãs e suas opiniões sobre sua música. Sentados à beira do canal, os turistas se aglomeravam na trilha e Jimothy se esforçava para ser ouvido em meio à confusão. "Você vai ouvir os fãs e achar que talvez tenham razão. Mas, quando você aceita essa mentalidade, a música que você está fazendo muda, e você deixa de fazê-la para si mesmo", disse, repentinamente animado.

Jimothy fez uma pausa. "Obviamente, meus fãs são meus clientes. E o cliente está sempre certo. Mas será que isso é um comércio? Porque não acho que seja. Afinal, negócios não se misturam com sentimentos e emoções. Não estou fazendo música com fórmulas. Estou sentindo a música."

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O rapper Jimothy em Londres, em 20 de agosto de 2021. (Suzie Howell/The New York Times)

O rapper Jimothy fazendo compras em Londres, em 20 de agosto de 2021. (Suzie Howell/The New York Times)

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