PUBLICIDADE

Nos EUA, demanda por papelão contribui para geração de empregos

Alta procura das grandes varejistas por embalagens ajuda a impulsionar indústria de papel

Por Michael Corkery
Atualização:

COMBINED LOCKS, WISCONSIN - Enquanto observava a máquina de fazer papel que chiava e zumbia, provavelmente pela última vez, Rick Strick sentiu um nó na garganta. Era o dia 21 de setembro de 201, e a fábrica de papel que empregara Strick, seu pai e seu avô fecharia em seguida, depois de operar por 128 anos. A demanda de papel branco acetinado que a fábrica produzia para catálogos e revistas estava despencando, e a publicidade ia para a internet.

A aldeia de Combined Locks enfrentava a perda de seu maior empregador. Pela primeira vez desde o ensino médio, Strick, aos 58 anos, resolveu procurar outro emprego. Então, algo inesperado aconteceu: a Amazon e a China, duas forças que frequentemente são acusadas de destruir os empregos americanos no varejo e na indústria, ajudaram Strick a ter seu emprego de volta.

Varejistas do comércio eletrônico como a Amazon alimentaram a demanda de caixas de papelão para despachar os pacotes. Foto: Whitten Sabbatini para The New York Times

PUBLICIDADE

"Ninguém mais fica chocado quando uma fábrica de papel fecha", comentou Kyle Putzstuck, presidente do Midwest Paper Group, que adquiriu a fábrica de Combined Locks logo depois que foi fechada. "As pessoas ficam chocadas quando uma delas reabre".

A recuperação tem a ver com os milhões de pacotes que a Amazon e outras varejistas online despacham no mundo inteiro. Nos últimos cinco anos, o comércio eletrônico alimentou a demanda de bilhões e bilhões de metros quadrados de papelão.

Desde sua reabertura, a fábrica de Combined Locks passou a produzir papel pardo, instalou equipamentos para reciclagem do papelão usado para fazer novo papel e recontratou cerca da metade dos 600 funcionários que haviam sido demitidos com o fechamento. Agora, o papel pardo liso vai para as empresas que fazem papelão, que o vendem para a Amazon e outras varejistas. 

"O papel pardo é o futuro", disse Stick na fábrica onde retomou seu emprego de supervisor.

Grande parte do papelão usado consumido nos Estados Unidos estava sendo enviado para a China, onde era reciclado em novas caixas. Então, em janeiro de 2018, a China parou de aceitar a maioria das importações de papelão usado.

Publicidade

A mudança de política acabou com o programa de reciclagem residencial em todo o país, obrigando algumas comunidades a enterrar ou queimar os materiais que anteriormente reciclavam. Mas para as empresas americanas de papel que fabricam novo papelão com as caixas usadas, a decisão da China foi uma bênção. Ela criou uma demanda enorme de papelão usado que faz com que estas fábricas obtenham uma matéria-prima vital a um preço 70% inferior ao de um ano atrás.

A história do papel em Wisconsin data dos anos que se seguiram à Guerra Civil, quando surgiram muitas fábricas ao longo do Rio Fox. Em 2000, havia cerca de 49.600 empregos em fábricas de papel no estado. Em 2017, esta força de trabalho havia caído para cerca de 30 mil.

Trabalhadores multitarefas

A fábrica de Combined Locks parecia destinada a ser sucateada. Então, no final de 2017, foi comprada por duas companhias especializadas em liquidações. A prefeitura emitiu um decreto para impedir que os novos proprietários abandonassem o imóvel. O sindicato que representa as fabricantes de papel também enviou petições para manter a fábrica em funcionamento.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Os novos proprietários, o Midwest Paper Group, concordaram que ela continuaria funcionando. Em todo o país, as fábricas de papel branco foram adaptadas para a produção de papel pardo, e a Midwest optou pela mesma estratégia. A companhia convenceu o sindicato a concordar com as novas condições de trabalho. O salário permanecia o mesmo - em média US$ 25,52 a hora - mas a companhia não contribuiria para os fundos de pensão, e os trabalhadores deveriam desempenhar tarefas anteriormente desempenhadas por vários funcionários.

"Todo mundo exerce várias funções agora", disse John Corrigall, diretor do departamento de "recursos humanos e assuntos legais e ambientais" da fábrica.

Pelo novo plano da empresa, a fábrica não se limitará a produzir papel, mas também fará a reciclagem em grande escala. O plano de transformar a fábrica para a produção de papel pardo foi totalmente aprovado pelos trabalhadores demitidos. Mas muitos questionaram se ela poderia fabricar papel pardo depois de produzir apenas papel branco dezenas de anos a fio.

Publicidade

"O pardo é um bicho diferente", sentenciou o operário Jerry Meulemans.

No da 11 de dezembro de 2017, Ben Fairweather, diretor de operações, falou das fábricas que haviam fechado recentemente. "A maioria delas não tem uma segunda chance", disse aos funcionários. Na manhã seguinte, todos eles ficaram observando ansiosamente a polpa parda que saía da máquina de papel. Em seguida, uma amostra do primeiro lote de papel pardo foi levada para um laboratório próximo, onde foi usada para fazer uma pequena seção de uma caixa de papelão, e depois passou por uma série de testes de resistência.

Eram cerca de 17h quando a fábrica recebeu os resultados. "Ótimo", informou o laboratório. A fábrica voltava a produzir papel. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.