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Turismo na Nova Zelândia é questionado após erupção de vulcão

A explosão aconteceu no início de dezembro e deixou oito pessoas mortas; outras oito morreram posteriormente em decorrência de ferimentos e duas seguem desaparecidas

Por Jamie Tarabay
Atualização:

WHAKATANE, NOVA ZELÂNDIA - Quando Phil van Dusschoten se aposentou da polícia e abriu uma empresa de mergulho, há 24 anos, o capítulo seguinte de sua vida parecia definido, manobrando os visitantes pela impressionante Baía de Plenty para brincar com golfinhos e nadar pela Ilha White.

Essa vida (e o ganha-pão dele) estão em pausa desde a erupção de 9 de dezembro, que lançou no ar gases e rochas derretidas, envolvendo a ilha em cinzas. Oito pessoas morreram na hora e outras oito em seguida, em decorrência de ferimentos. Há dois desaparecidos. Agora o país se vê diante das repercussões econômicas. “As pessoas visitam a Nova Zelândia porque esperam algum desafio, descobrir se têm coragem de sair da zona de conforto", disse van Dusschoten. “Esperamos que isso não se perca.”

Erupção na Ilha White em dezembrodeixou 16 mortos; duas pessoas seguem desaparecidas. Foto: Michael Schade, via Associated Press

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Há entre os neozelandeses um intenso debate envolvendo o turismo, incluindo uma possível exploração arriscada da natureza, sem que sejam tomadas as devidas precauções.

Muitos se perguntam se o desastre vai arruinar o turismo de aventura na Nova Zelândia. O país tem uma campanha de marketing, “100% Nova Zelândia", que inclui anúncios cheios de pessoas fazendo rapel, andando de helicóptero para descer de snowboard e fazendo canoagem - mas também um sistema jurídico que dificulta a abertura de processos quando as coisas dão errado.

As preocupações ecoam aquelas de outros países onde o turismo pode ser lucrativo, mas traiçoeiro. O Nepal pensou em novas regras de segurança para o Monte Everest esse ano após uma das temporadas de escalada mais mortíferas de todos os tempos, e conforme aumenta o número de visitantes em lugares como Chernobyl, na Ucrânia, e Fukushima, no Japão, as autoridades são mais questionadas quanto à segurança do chamado turismo sombrio.

Turismo

Atividades turísticas são as maiores exportações da Nova Zelândia, representando quase 6% da produção econômica do país, o dobro da proporção observada em países como Austrália e Estados Unidos.

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Em um país onde o crescimento é difícil de encontrar, a receita do turismo aumentou 50% nos seis anos mais recentes. De maneira direta ou indireta, a indústria emprega mais de 14% da força de trabalho, com mais de 393.279 postos de trabalho no ano passado. A população de Whakatane, cidade mais próxima da Ilha White, tem processado a explosão com uma mistura de choque, raiva e medo.

Estações de rádio receberam chamadas de ouvintes que relataram suas viagens mais perigosas, queixando-se da possibilidade de novas regras de segurança, traço do surgimento de um estado superprotetor na Nova Zelândia. Funcionários de lojas de equipamento esportivo temeram que, com o isolamento temporário da Ilha White, os turistas deixassem de vir. Alguns moradores acusaram as agências turísticas de colocar o lucro acima da segurança, dizendo que estas ignoraram alertas a respeito da atividade física mais intensa.

Whakatane não tem jurisdição na ilha, que é propriedade privada administrada pelo departamento de assuntos internos da Nova Zelândia. Mas o destino das duas está inexoravelmente ligado. A prefeita Judy Turner garantiu que a ilha “ainda é a espinha dorsal da nossa economia."

Mas um líder tribal, Pouroto Ngaropo, afirmou que a explosão era a resposta da ilha à exploração pelo dinheiro. “Acho que ela cansou do turismo", argumentou ele a respeito de Whakaari, nome dado pelos maori à ilha. “O problema é que ganham milhões com ela todos os anos.”

A primeira-ministra Jacinda Ardern não foi clara quanto à possibilidade de manter o vulcão isolado. Van Dusschoten disse que "é tudo arriscado, mas, sinceramente, é isso que muitos turistas procuram hoje em dia, principalmente os mais jovens". / DAMIEN CAVE E SASHA BORISSENKO CONTRIBUÍRAM PARA A REPORTAGEM

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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