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Novo álbum de Santana tem participação da espanhola Concha Buika

A cantora esperava participar de apenas uma faixa, mas a parceria se estendeu para todas as canções de 'Africa Speaks'

Por Jon Pareles
Atualização:

O telefonema foi inesperado. Era a agente de Concha Buika, contando a ela que Carlos Santana tinha convidado a cantora para participar de um álbum. "Fiquei muito nervosa e animada. Não conseguia acreditar", lembrou Concha em sua casa em Miami. 

Concha é uma cantora e compositora poliglota da Espanha que fundiu o flamenco, jazz, rock e ritmos africanos e afro-caribenhos. Ela ganhou o Grammy Latino em 2010, e ainda que Concha e a banda de Santana tenham feito algumas apresentações juntas, estão fazendo turnês separadamente nesta temporada.

Considerado uma lenda do Rock, Carlos Santana, 71, lança novo disco em parceria com Concha Buika. Foto: John Francis Peters/The New York Times

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Concha esperava ser uma vocalista convidada, participando de uma ou outra canção em um álbum repleto de outros convidados, como no grande sucesso de Santana lançado em 1999, Supernatural. Em vez disso, Concha se tornou a cantora e parceira de composição de cada uma das canções de Africa Speaks, novo álbum de Santana.

Africa Speaks gira em torno de sessões de improviso gravadas ao vivo no estúdio que podem se estender ou mudar de direção subitamente, como "Blue Skies", de nove minutos, que começa meditativa e inspirada no jazz para logo se aproximar dos solos mais típicos de um rock ou blues. Santana, 71, ataca a guitarra com golpes profundos e incisivos. A voz de Concha, que traz os arabescos tensos e complexos do flamenco para picos do rock, demonstra técnica comparável à dele.

Santana disse que, normalmente, quando toca guitarra, "o mais importante é sustentar a nota com vontade. Mas há momentos em que abraçamos a melodia e momentos em que a atacamos com as garras como um tigre. Temos muito disso nesse álbum".

O disco estreou na terceira posição na lista de sucessos da Billboard em junho, passando três semanas entre os mais vendidos. As forças comerciais mudaram desde o lançamento de Supernatural, época em que o esperado era seguir o formato das músicas tocadas no rádio.

De acordo com Rick Rubin, produtor do álbum, "Africa Speaks não é nem um pouco diluído nem facilitado para as massas. Temos uma obra densa e complicada que além de tudo é muito dançante".

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De acordo com Santana, o álbum tem sua origem nas muitas visitas dele às lojas de discos. A superloja da Virgin, em Paris, contava com um acervo imenso de música africana antes de ser fechada, em 2013.

Santana trouxe para Rubin suas músicas favoritas daqueles álbuns. A banda se instalou nos estúdios do produtos em Malibu, Califórnia. 

Em dez dias, a banda gravou 49 músicas. Escolheram uma do cantor argelino Rachid Taha, de Jay U Xperience e de Easy Kabaka Brown, da Nigéria, do senegalês Ismaël Lô, do saxofonista queniano Mohammed Jabry e do compositor franco-espanhol Manu Chao. Todas elas transitam pelo rock, funk, calipso, flamenco e o característico estilo das fusões pan-africano-latinas da banda de Santana.

Foi pesquisando sobre música africana na internet que Santana conheceu Concha. Apesar da diferença entre as gerações - Concha, 47 anos, cresceu ouvindo as músicas de Santana - Concha e Santana enxergam a música como algo catártico e terapêutico.

"A música africana é a música mística medicinal para curar um mundo demasiadamente afetado pelo medo", disse Santana.

O guitarrista estava em turnê com a banda quando Concha chegou em Malibu. Ela esperava gravar somente uma música. "Mas o resultado foi tão incrível que acabei gravando 14 ou 15 canções! Foi como um sonho para mim, compondo versos e melodias incessantemente".

Santana e Rubin insistiram para que ela continuasse.

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Em Africa Speaks, Concha canta versos de autodeterminação, narrando vidas difíceis, o poder do amor e o poder da música.

A maioria das letras é em espanhol; em algumas, usa-se o inglês, e outras são em Bube, idioma tribal da mãe da cantora, da Guiné Equatorial. Concha disse que sua ideia era fazer uma música internacional.

"Em países diferentes, as pessoas ficam animadas no mesmo momento da mesma música, ainda que não entendam os versos", disse ela. "Isso é mágico - a música é um mistério. E, como Carlos é universal, ele está por toda parte - sua melodia é compreendida no mundo todo". / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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