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Obras de arte deixam galerias e ocupam prédios públicos

'Sou favorável para que o maior número possível de pessoas veja a minha obra', diz a pintora Claudia Chaseling

Por Heidi Mitchell
Atualização:

Uma enorme escultura de Anish Kapoor foi integrada à base de um edifício em Nova York. Obras encomendadas de autoria de Robert Indiana e Olafur Eliassen serão apresentadas na inauguração de um condomínio no próximo ano, em Miami. Assim como três visões artísticas no tradicional modelo em escala do escultor cinético Es Devlin, que ocupa o espaço principal na galeria do edifício residencial XI, em Nova York.

Todos eles são raros exemplos de artistas que negociam o branco espaço quadrado das galerias em troca de projetos comerciais e residenciais de alto luxo, uma ideia que, há uma geração, talvez fosse considerada uma espécie de “liquidação”.

“Egg”, do escultor cinético Es Devlin para a galeria do XI, um arranha-céu residencial em Nova York Foto: Nikolas Koenig New York Times

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“A galeria é um formato que enfrenta dificuldades”, disse a curadora argentina Ximena Caminos, anteriormente no museu Malba de Buenos Aires, e hoje diretora de criação do espaço cultural Honey Lab, no hotel Blue Heron de Miami, um projeto residencial atualmente em construção. “É comercial; o artista não tem tanta liberdade criadora. Por outro lado, é muita a pressão para ganhar dinheiro em um breve espaço de tempo”.

Depois da crise financeira global, quando as fontes tradicionais de financiamento da cultura se reduziram, doadores corporativos e individuais entraram em campo para preencher o seu lugar, segundo Jennie Lamensdorf, que dirige o programa Art-in-Buildings para a Time Equities, uma incorporadora de imóveis comerciais sediada em Nova York. Inicialmente, artistas estabelecidos, como Jeff Koons, foram incumbidos de criar peças para condomínios em centros de arte como Miami e Nova York.

Menos de dez anos depois, artistas iniciantes e no meio de sua carreira estão sendo atraídos por incorporadoras a fim de fazer arte para o público em geral.

Jennie Lamensdorf pediu recentemente à pintora abstrata Claudia Chaseling que produzisse uma peça permanente para o saguão do edifício da sua companhia. Chaseling, que é alemã, disse que aceitou o “desafio inusitado” com muito prazer.

“Nas galerias, as pessoas vêm para ver arte, nos edifícios públicos, há muita gente passando que não tem nenhuma informação sobre arte - eu sou favorável para que o maior número possível de pessoas veja a minha obra, e que todo mundo tenha sua própria perspectiva a respeito dela”, afirmou.

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O seu “Radiationscape”, uma resposta a uma usina nuclear, escorre de uma parede até o chão do saguão. 

“Não considero que meu trabalho com as incorporadoras comprometa a minha integridade artística”, acrescentou.

A Lever House de Nova York, de Aby Rosen, foi uma das primeiras a adotar a exibição de obras de arte em grande escala na esfera pública, e o edifício datado da metade do século tornou-se na realidade um museu de passagem para a multidão que sai para o almoço.

A artista Rachel Feinstein, à qual Rosen encomendou uma grande pintura em um espelho para outro edifício, disse que gostou da ideia da instalação do seu “Panorama de Nova York” na frente e no centro da entrada.

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“Será visto por cerca de um bilhão de pessoas - muitas mais do que em um museu - com uma variedade muito maior”, disse Feinstein.

O projeto Cidade Matarazzo, um local de cultura e lazer em um bairro residencial de São Paulo, Brasil, que também inclui um hotel e outros edifícios comerciais, é construído ao redor de uma “casa da criatividade”, um espaço para artistas residente.

O incorporador Alexandre Allard calcula que o seu complexo será visitado anualmente por 30 milhões de pessoas que sairão do local impressionadas. “Acredito que ‘Matarazzo’ é o modelo do museu sustentável do futuro”, ele disse.

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Ultimamente, Erica Samuels, que curou projetos como o saguão do One57 da Extell em Nova York, disse que as galerias ainda são um lugar de prestígio, mas ela acha que esta é uma nova maneira de construir o triunvirato perfeito.

“Uma pequena incorporadora contrata um grande arquiteto, que precisa de um grande designer de interiores, que precisa de um grande artista”, explicou Erica. “Somados os três elementos, você pode criar a melhor Gestalt de um espaço”.

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