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Operação de limpeza recolhe toneladas de lixo do Everest

Aumento no número de montanhistas que se aventuram na montanha eleva também a quantidade de lixo deixada para trás

Por Bhadra Sharma e Kai Schultz
Atualização:

LUKLA, NEPAL - Em meados de março, um grupo de sherpas nos arredores da Buddha Lodge, nesta pequena cidade perto do Monte Everest, lotou um avião turboélice de sacos de tela repletos de toneladas de lixo.

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Como o número dos amantes da caminhada e de montanhistas que se dirigem para a região do Everest vem se multiplicando, o mesmo ocorre com o lixo que eles produzem - garrafas vazias de cerveja, latas de comida, barracas rasgadas, cilindros de oxigênio vazios. Agora, os organizadores de uma campanha de limpeza nacional estabeleceram como meta a coleta e reciclagem de mais de 90 toneladas de lixo nesta área, um dos projetos de gerenciamento de resíduos mais ambiciosos do Nepal, até este momento.

“Os resíduos tornaram-se um grave problema”, afirmou Dalamu Sherpa, presidente de um grupo local de mulheres, acrescentando que o projeto tem como finalidade, em parte, “salvar a glória da região do Everest”.

O Nepal fez grandes progressos na redução do lixo na região de Khumbu, onde se encontra o Monte Everest, o mais alto do mundo. Em 2014, o Ministério do Turismo nepalês declarou que quem subisse a montanha deveria voltar da viagem com mais oito quilos de resíduos.

Nepal tenta reduzir a quantidade de lixo deixada no Monte Everest, a montanha mais alta do mundo. Foto: Stuart Isett/The New York Times

Mas as regras são aplicadas de maneira muito branda na região, e as autoridades vêm se esforçando para encontrar uma solução realista para o problema. Todos os anos, milhares de pessoas sobem pelas trilhas íngremes para chegar ao Acampamento Base Sul, localizado mais de 5 mil metros acima do nível do mar. A temporada melhor para a subida, na primavera, vai do final de abril ao final de maio.

A coleta do lixo exige dias de caminhada. Os carregadores transportam nas costas ou no lombo dos iaques o lixo recolhido de várias aldeias que levam para cima, para o campo base. Demora cerca de uma semana para chegar a pé, partindo de Lukla.

Segundo Umesh Chandra Rai, diretor-executivo da Yeti Airlines, uma operadora local, o plano é transportar as 90 toneladas de lixo para a capital do Nepal, Katmandu, até o final do ano, para ser reciclado. Até o momento, foram coletadas cerca de 10 toneladas. Além disso, o programa instalou ao longo das trilhas 16 pontos para o despejo dos resíduos, 46 latões de lixo e três banheiros.

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“Anteriormente, os recipientes onde o lixo era jogado eram de plástico, e eram destruídos pelos iaques”, disse Nim Dorjee Sherpa, um funcionário municipal. “Agora, instalamos latas de lixo de pedra e de folhas de zinco”.

O problema do transporte do material deste local é tão complexo que até os corpos dos escaladores que morrem na montanha, às vezes, são deixados no lugar.

“É muito difícil, não por razões técnicas e logística, mas por causa da lei”, observou Ang Dorjee Sherpa, diretor da Comissão de Controle da Poluição de Sagarmatha, que cuida da preservação da montanha. “Não podemos cremar ou enterrar os corpos sem consentimento prévio”.

Recentemente, enquanto a temperatura estava acima do ponto de congelamento, uma dezena de voluntários no Aeroporto de Tenzing-Hillary, uma pista sempre movimentada à beira de uma falésia, aproveitou para embarcar pilhas de sacos de lixo no compartimento de carga do avião.

Mas pessoas do local deram o recado: não será mais tolerado que o lixo seja jogado no chão. “Os turistas não obedecem às nossas regras como deveriam”, lamentou Biruman Rai, diretor de uma escola pública da cidade. “Está na hora de aplicar a lei”.

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