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Ursos estão no centro do debate sobre mudanças climáticas

Polêmicas sobre aquecimento do planeta continuam

Por Erica Goode
Atualização:

Com seu branco manto de pelo, nariz de botão, dependendo do gelo do mar para sobreviver, os ursos polares são o autêntico pôster da mudanças climáticas.

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Mas neste momento em que a ciência do clima está sendo questionada nos mais altos níveis do governo, os que negam estas mudanças usam os ursos carismáticos para espalhar dúvidas sobre a ameaça do aquecimento global.

As evidências científicas de que o habitat do urso polar no Ártico está se aquecendo ao dobro da velocidade do restante do planeta são esmagadoras, e têm o respaldo de relatórios como o da Avaliação Nacional do Clima, que foi compilada por 13 agências federais americanas. 

Em algumas regiões do Ártico, os cientistas documentaram declínios do número dos ursos polares e sinais preocupantes de sua deterioração física relacionada à perda do gelo marinho. Antes que o presidente Barack Obama deixasse o cargo, o seu governo definira a mudança climática provocada pelo homem como a maior ameaça à existência dos ursos.

Mas segundo os que negam o aquecimento global, os ursos polares estão em condições ótimas. Em sites como On Watts Up With That, Climate Depot e outros, que contestam a ciência do clima, os blogueiros insistem que a diminuição do gelo do Ártico faz parte de um ciclo de aquecimento natural sem qualquer relação com as atividades humanas. As previsões sobre os devastadores declínios das populações de ursos polares, afirmam, acabaram não se materializando.

Na realidade, afirmam muitos cientistas, os ursos foram cooptados pelos que negam a mudança climática, e em um artigo publicado na revista “BioScience”, de revisão dos pares, 14 renomados pesquisadores afirmam que os blogues negativos, com inúmeros seguidores, estão usando os ursos para espalhar a desinformação sobre as causas e consequências da mudança climática.

Alguns estudos mostraram mudanças preocupantes nas condições físicas dos ursos polares com o aquecimento do seu habitat Foto: Pixabay

Os pesquisadores também destacaram o blog Polar Bear Science, de Susan J. Crockford, uma zoóloga canadense, como fonte fundamental de informações duvidosas sobre a situação dos ursos polares.

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A dra. Crockford tuitou que o artigo equivale a um “estupro acadêmico” e exigiu que se retratasse. Emboramuitos sites contrários tenham se referido à discussão sobre os ursos polares do blog da dr. Crockford, o artigo observou que ela não o gabarito necessário para lidar com as ciências do clima ou com os seus efeitos sobre os ursos polares.

Os cientistas da atualidade concordam que o número de ursos polares declinará drasticamente à medida que o gelo do Oceano Ártico desaparecer, porque o urso usa o gelo como plataforma para caçar focas. 

Alguns estudos mostraram mudanças preocupantes nas condições físicas dos ursos, no tamanho do seu corpo, na reprodução e nas taxas de sobrevivência, algumas das quais foram relacionadas à perda do gelo marinho e ao aumento dos dias em que o gelo não se forma.

Das 19 subpopulações de ursos polares no Círculo Ártico, três demonstraram declínios consideráveis, inclusive ursos no Mar de Beaufort do Sul ao largo da costa do Alaska, e na Baia do Hudson Ocidental, no Canadá.

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Uma subpopulação registrou um aumento dos números, e os cientistas pouco ou nada sabem a respeitode nove das outras, que se encontram ou em território russo ou em localidade não monitoradas.

Os autores do estudo afirmaram que blogs contrários tendem a focalizar determinados dados ou a enfatizar lacunas no conhecimento científico, “sugerindo que tais incertezas lançam dúvidas sobre as tendências demográficas atuais ou futuras dos ursos polares”.

Andrew Derocher, professor de Biologia da Universidade de Alberta, que estuda os ursos polares há mais de 30 anos, e não está envolvido no artigo, disse que, no seu ponto de vista, os negativistas esquecem completamente do quadro geral. Segundo ele, a questão é bem simples: os ursos polares precisam do gelo do mar.

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“É apenas uma questão de perda do habitat”, ele disse. “Não há nada de mais complicado, apenas isto”.

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