Parques tornam área portuária de Nova York mais aconchegante

Espaços verdes ao longo das margens do Brooklyn e Queens oferecem locais tranquilos para fazer uma pausa, olhar e passear

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Por Michael Kimmelman
Atualização:

Em uma manhã quente, com uma névoa no ar, encontrei uma pequena sombra embaixo de uns pinheiros no jardim, perto do final do Pier 3, recentemente inaugurado, no Brooklyn Bridge Park. As balsas riscavam de espuma branca o East River. Em um labirinto de sassafrás e zimbro, uma mulher brincava com a filha de 6 anos.

Na ampla calçada do píer, três turistas, que conversavam em alemão, tiravam selfies ao redor da área protegida do gramado central, salpicado de girassóis - uma mini versão do Sheep Meadow do Central Park - semi escondidos atrás de pequenos bosques de tílias e caminhos tortuosos.

Pinheiros, sassafrás e zimbro cercam o Pier 3, uma recente adição ao Brooklyn Bridge Park. Foto: fotos de Raimund Koch para The New York Times

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Aqui é fácil esquecer que, há pouco mais de dez anos, o que hoje são estes hectares de espaço verde e áreas para a prática do atletismo no Brooklyn Bridge Park havia uma triste fileira de estacionamentos e armazéns sobre cais decrépitos. Seria preciso uma espécie de magia para transformar a paisagem no que poderia vir a ser algum dia.

Rio acima, no bairro de Williamsburg, onde foi inaugurado recentemente o Domino Park, até 2004 erguia-se a Refinaria de Açúcar Domino sobre os seus últimos segmentos. E, mais ao norte, em Hunter's Point, no Queens, a mesma história: escombros de fábricas fechadas a beira-mar.

Agora, o Hunter’s Point South Park ali está com mais de quatro hectares de playgrounds e passeios. A primeira metade do parque foi concluída há cinco anos, a segunda fase foi feita em agosto, com uma nova ilha alagadiça e uma espetacular plataforma para apreciar a paisagem em frente a Manhattan. Como o Píer 3, ela tem, em geral, uma série de lugares tranquilos.

Com isto são três novos parques, ou parques ampliados, somente ao longo da faixa na beira do mar Brooklyn-Queens. E tudo no verão passado.

Gosto de uma frase, talvez de Ken Greenberg, arquiteto e paisagista urbano de Toronto: “O derretimento da geleira industrial”. A única grande mudança introduzida na área física da cidade, desde que o transatlântico Queen Mary zarpou pela última vez da cidade, é seguramente a transformação da zona portuária.

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Estas áreas da cidade mudaram em toda parte, em geral, juntamente graça à urbanização privada. O único problema é a possibilidade de o pêndulo ter ido talvez longe demais. As parcerias público-privadas trazem grandes benefícios, mas sempre têm um custo, e, por outro lado, as cidades também precisam de indústrias e de uma economia diversificada.

Isto posto, estes três novos parques são uma excelente notícia.

No Brooklyn Bridge Park, que já é um dos parques mais visitados da cidade, o Píer 3 constitui um acréscimo de cerca de dois hectares de espaço onde se pode respirar, espremido entre campos de futebol e quadras de basquete. A surpresa é aquele gramado, grande, mas fechado.

Em certo sentido, Domino Park é o oposto. Ele se oferece imediatamente - totalmente plano, com ricos detalhes, mas muito cheio de vegetação. Há gafanhotos espinhosos sem espinhos, benjoim e erva púrpura do amor. Um playground que parece uma refinaria de açúcar. Tanques de xarope recuperados, pintados de cor clara, ladeiam a quadra de vôlei do parque. Dois gigantescos guindastes, puxados da beira do cais, onde antigamente içavam a cana de açúcar das barcaças, receberam uma cor azul turquesa, como o interior da antiga refinaria Domino.

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O mais desarrumado dos três parques, Hunter’s Point é, até o momento, também o meu favorito. Nele encontramos pequenos recantos sombreados, áreas com belas plantas nativas e vistas caprichosamente arrumadas.

Caminhos sinuosos dirigem-se para o sul, ao longo do cais, enveredando por pequenos bosques de altas herbáceas de caule azul, laguinhos e arbustos de rosas em flor. Em pouco tempo, me perdi ouvindo o som da água batendo na beira do cais.

Então, de repente, a linha dos edifícios desapareceu em uma névoa prateada, mística. Como uma avalanche, o vento das monções soprou sobre o rio vindo de não se sabe onde. Nova York nunca pareceu mais selvagem ou mais mágica.

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