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Patinação é (novamente) moda entre os nova-iorquinos

O Roxy pode ser coisa do passado, mas em toda parte as pessoas se reúnem para patinar. E alguns desses encontros já ocorriam muitos e muitos anos antes da pandemia

Por Alyson Krueger
Atualização:

NOVA YORK – Alguns meses atrás, uma festa corria solta no terceiro andar da Showfields, uma loja varejista em Manhattan. Para chegar lá, os convidados pegavam um elevador decorado com painéis metálicos dourados e um espelho.

No terceiro andar, havia cerca de 20 pessoas mascaradas vestindo camisas neon e calças brilhantes dançando em patins de rodinhas, e alguns se iluminavam ao se moverem. Embaixo de uma bola de discoteca, um DJ tocava hip-hop enquanto os patinadores desenhavam círculos e se perdiam na música.

Recentemente, os patins voltaram à moda e estão fazendo sucesso nas pistas e nas redes sociais. Foto: Brittainy Newman/The New York Times

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“Meu Deus, é maravilhoso”, disse Lionel Laurent, de 45 anos, um instrutor de patinação que, antes da pandemia, ganhava dinheiro apresentando-se na Times Square. “Os clubes não estão abertos, então estamos fazendo isso”.

Ultimamente, a patinação voltou a ser moda, mas os nova-iorquinos a praticam há muito tempo, desde a segunda metade do século 20, quando os patinadores dançavam o dia inteiro em parques da cidade e em festas a noite inteira nas inúmeras pistas existentes em lugares fechados em Nova York.

“O Roxy era fabuloso, principalmente nos anos 1980”, disse Bob Nichols, 74 anos, de Manhattan, editor de cinema aposentado, lembrando do famoso rinque e clube no bairro de Chelsea, em Manhattan. “As pessoas se vestiam com roupas de patinação, semelhantes às de trapezistas. Só tinha que ficar longe do pessoal que bebia. Quando eles caíam, tentavam se segurar na pessoa mais próxima”.

Cynthia Brown, 64 anos, aposentada, que agora mora no Bronx, frequentava o Empire Roller-Skating Center em Crown Heights, Brooklyn. “Adorávamos dançar com as músicas de Stevie Wonder durante o dia”, ela contou. “Era o ritmo perfeito, bastava que a pessoa seguisse a música”.

Lynna Davis e Lillian Newberg fazem parte da Central Park Dance Skaters Association. Foto: Brittainy Newman/The New York Times

Em 1980 – o ápice das discotecas de patinação – havia rinques em ambientes fechados em toda a cidade, segundo Nichols, que é presidente da Central Park Dance Skaters Association, e que também patinou no Metropolis na Rua 55 West e na High Rollers na Rua 57 West. O seu grupo, que data de 1978, se reúne no Central Park.

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Um amigo dele lembrou de outros rinques da época, como o Sweet Ruby’s, Roll-A-Place, Park Circle, e Empire Rollerdrome, todos no Brooklyn, e também do Skate Key, no Bronx.

Agora, os patinadores da velha guarda só podem lembrar de um que ainda existe: o RollerJam USA, em Tottenville, Staten Island. “Eles não tinham como resistir à febre da construção de Nova York”, disse Laurent. “Um rinque de patinação agora não passa de um enorme galpão com um segundo andar”.

Nos dias de hoje, os rinques podem ter desaparecido, mas isto não impediu que a patinação – nesse momento, considerada uma tendência da pandemia – continuasse nos playgrounds, nas quadras de basquete, nos calçadões e nas lojas. Alguns eventos, como o da Showfield, são elaborados, com DJs, ingressos pagos e autorizações especiais para o evento. Voltaram as noites da Lola Star’s Dreamland Roller no Lakeside, em Prospect Park no Brooklyn, com um cronograma cheio para o verão no país. Mas dezenas de outros eventos são apenas grupos de pessoas que se reúnem, já prontas para patinar.

No primeiro fim de semana de maio, por exemplo, houve festas de patinação em um parque no Lower East Side, uma escola secundária em Canarsie, no calçadão de Governors Island e perto da concha acústica do Central Park.

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“Você tem essa coisa popular aqui”, disse Arnav Shah, um instrutor conhecido como Sonic que abriu a loja de patinação KE Skate em Woodside, em Queens, durante a pandemia. “As pessoas que querem patinar organizam coisas e encontram espaços para fazê-las”.

Jocelyn Marie Goode, artista e organizadora da loja Showfields, colocou os patins depois de um hiato de vários anos para ir a uma festa de máscaras e com distanciamento social em uma boate no Queens, no final de 2020. “Foi a primeira vez no ano todo que eu vi alegria”, comentou. “As pessoas estavam felizes, e eram pessoas negras sendo felizes”.

Isso inspirou Goode, 39 anos, a pesquisar a interseção da patinação e a cultura negra. Três meses mais tarde, ela criou o Museu Afro-americano da Patinação, que realiza eventos em toda a cidade. O seu primeiro programa importante, a Semana da Patinação da Cidade de Nova York, em abril, teve uma semana de duração. Mais de 500 pessoas se inscreveram.

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Em uma sessão, as famílias decoraram seus patins com lantejoulas e strass. Outras ouviram uma palestra sobre o papel de destaque que a patinação teve no movimento pelos direitos civis. “A patinação foi encorajada entre os veteranos para abrandar o seu estresse pós-traumático, depois da Segunda Guerra Mundial, mas havia muita segregação e os afro-americanos não tinham permissão para entrar nos rinques, disse Goode. “Os rinques foram um dos primeiros lugares onde vimos protestos”.

Realmente, os patinadores aderiram aos protestos do movimento Blacks Lives Matter no ano passado. Mekaelia Davis, que trabalha em uma fundação e mora em Flatbush, Brooklyn, foi um deles. Durante a pandemia, ela ficou obcecada pelos vídeos de patinação que via nas redes sociais; comprou um par para ela em junho. Um mês mais tarde, estava patinando na Ponte Williamsburg em um protesto. “Foi a segunda vez que andei de patins, e provavelmente não deveria estar lá”, disse. “As pessoas patinaram comigo o tempo todo e me encorajaram”.

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Vários grupos começaram a patinar algumas décadas antes da pandemia. No entanto, o vírus pode ter favorecido o renascimento da patinação, disse Shah, um voluntário que trabalhou para a Wednesday Night Skate, um evento semanal na Union Square em Manhattan que existe desde os anos 1990. Em 2019, no máximo, reuniam-se cerca de 50 patinadores. Hoje, o número dobrou.

Muito antes de suas noites no Empire, Brown patinava nas ruas onde cresceu. “Quando éramos crianças, patinávamos na Spanish Harlem, nas moradias populares”, ela disse. “Tínhamos um longo calçadão que ia da Rua 102 à 99 ou algo assim. Patinávamos para cima e para baixo depois da aula ou nos fins de semana”.

Nos meses frios da pandemia, Bown comprou uma tábua de madeira de 1,22 x 2,44 metros na Home Depot para pôr no chão do seu apartamento. “Não podia patinar por aí, mas podia dançar em casa”, contou.

Com a reabertura da cidade, Brown tenta alguns dos novos eventos públicos. “Posso achar onde patinar em qualquer dia da semana”, afirmou. “Estão fazendo isto em todos os lugares. É uma coisa realmente maluca e surpreendente”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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