Quem está por trás do aumento global no uso do plástico descartável?

Novo relatório mostra que número surpreendentemente pequeno de grandes empresas e bancos estão por trás da produção e do investimento de boa parte do plástico descartável no mundo

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Por Michael Corkery
Atualização:

O plástico descartável que armazena as refeições que recebemos em casa e embrulha a roupa que chega da lavanderia é visto amplamente como um dos maiores perigos ambientais do mundo. Ele polui enquanto é produzido, por meio da extração de combustíveis fósseis e, assim que é usado, polui outra vez. Ele é jogado fora e pode acabar entupindo cursos de água, sufocando animais ou, às vezes, sendo queimado, enviando fumaças prejudiciais pelo ar.

Um relatório detalhado publicado em maio lança nova luz sobre quem produz todo esse plástico descartável, 130 milhões de toneladas por ano, segundo a última contagem, e quem lucra com isso. Um grupo surpreendentemente pequeno de fabricantes gigantes e investidores estão no centro da indústria global.

Os catadores buscam e coletam resíduos plásticos para fins de reciclagem no aterro sanitário Kampong Jawa, Banda Aceh, Indonésia. Foto: EFE/EPA/HOTLI/SIMANJUNTAK

O relatório é resultado de pesquisas lideradas pela Minderoo, uma organização sem fins lucrativos com sede na Austrália que defende oceanos mais limpos, e por pesquisadores da Universidade de Oxford e do Instituto Ambiental de Estocolmo. Ele foi revisado pela KPMG, empresa de auditoria.

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Aqui estão cinco conclusões:

Quem produz todo esse plástico?

Há anos, os ambientalistas têm pressionado os consumidores a reduzirem seu uso de plástico e apontado o dedo para as empresas de bens de consumo para usarem menos plástico em suas embalagens. Mas este relatório revela outra questão ao mostrar quem produz os polímeros, os petroquímicos que são os componentes básicos do plástico descartável.

De acordo com o relatório, metade do plástico descartável do mundo é produzido por 20 grandes empresas. Liderando o grupo estão duas empresas americanas, Exxon Mobil e Dow, seguidas pela Sinopec, uma gigante petroquímica de propriedade chinesa, e pela Indorama Ventures, que tem sede em Bangkok.

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O plástico descartável tem sido um negócio muito bom e espera-se que ele continue sendo. Nos próximos cinco anos apenas, a capacidade de produção tem um crescimento previsto de 30%.

O Conselho Americano de Química, que representa a indústria do plástico, chamou o relatório de “equivocado”, dizendo que o documento não reconhecia a pesquisa da indústria que mostra que substituir as embalagens de plástico por outros materiais pode aumentar as emissões de gases de efeito estufa. O grupo também observou que a Fundação Minderoo é financiada pela participação de seu fundador em uma empresa que extrai minério de ferro. A indústria de mineração é frequentemente criticada por seu custo ambiental.

A Associação da Indústria de Plástico dos EUA disse que o relatório da Minderoo não reconhecia os aspectos positivos do plástico, como seu papel em permitir que os alimentos durem mais e os investimentos da indústria na melhoria da coleta de resíduos plásticos em todo o mundo.

Quem investe na fabricação do plástico?

Alguns dos nomes mais conhecidos do mundo das finanças, entre eles empresas que controlam fundos mútuos de investimentos e contas de poupança para aposentadoria, incluindo o grupo Vanguard e a BlackRock, de acordo com a análise. E a produção é financiada pelos maiores bancos do mundo, incluindo o Barclays e o JPMorgan Chase.

Os governos também são grandes investidores neste setor. Cerca de 40% dos maiores fabricantes de plásticos descartáveis são parcialmente propriedades de governos, entre eles China e Arábia Saudita.

Quem usa plástico?

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Há uma grande disparidade entre os países mais ricos e os mais pobres. O americano médio usa e joga fora aproximadamente 50 quilos de plástico descartável todo ano. Atualmente, apenas os australianos apresentam uma quantidade de resíduos que se equipara a dos EUA.

Um chinês usa em média apenas cerca de um terço do plástico usado por um americano. Já um indiano usa menos de um duodécimo, segundo o relatório da Minderoo.

O que está sendo feito?

Em uma declaração, a Exxon Mobil disse que “compartilha a preocupação da sociedade com os resíduos plásticos e concorda que isso deve ser resolvido”, acrescentando que a empresa está aumentando a eficácia da reciclagem e apoiando as melhorias na recuperação de resíduos plásticos.

Muitas soluções propostas de longa data para o problema dos resíduos plásticos não estão funcionando. Apenas cerca de 8% do plástico é reciclado nos EUA, e os esforços dos grupos de defesa para persuadir os consumidores a usar menos plástico não têm ganhado força.

Governos estaduais e municipais têm tido sucesso ao banir certos tipos de itens como sacolinhas de supermercado, copos de isopor e canudos plásticos. Mas as iniciativas focadas em reduzir a produção do plástico descartável têm sido limitadas até o momento.

Um grande desafio é que a economia favorece a produção de mais plástico. É muito mais barato produzir uma garrafa de refrigerante com um plástico recém-produzido do que com material reciclado.

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Isso levou a União Europeia a emitir uma diretiva exigindo que as marcas de bens de consumo usem pelo menos 30% de material reciclado na produção de garrafas plásticas até 2025. Mas resta saber se outros governos vão se mexer para exigir uma mudança em direção à chamada economia circular, que leva a menor produção de plástico. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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