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Pode ser um anúncio, mas não deixa de ser arte

Apesar do destaque da fotografia e da moda na roda cultural, eles permanecem marginalizados em alguns museus - realidade que o Getty espera mudar

Por Vanessa Friedman
Atualização:

Nas colinas acima de Los Angeles, no museu J. Paul Getty, o filho bastardo do mundo das belas artes está finalmente recebendo a atenção que lhe é devida.

“Ícones do estilo: um século de moda na fotografia, 1911-2011” pode ser o maior levantamento do tipo feito nas décadas mais recentes, apresentando 198 obras (fotografias, capas de revista, campanhas publicitárias).

Uma exposição de fotografias de moda em Los Angeles pode ser a mais abrangente das décadas mais recentes. O ousado anúncio de Anton Bruehl para as roupas esportivas sob medida da Bonwit Teller em 1932 Foto: The New York Public Library, Fundações Astor, Lenox e Tilden

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“Dovima com elefantes", de Richard Avedon, foto de 1955 mostrando um vestido de gala Dior em meio aos paquidermes, que se tornou a fotografia de moda mais cara já vendida num leilão ao ser arrematada por mais de US$ 1 milhão na Christie’s em 2010, está na exposição. 

A foto de Erwin Blumenfeld mostrando Lisa Fonssagrives num vestido Lucien Lelong pendurada na lateral da Torre Eiffel, cuja reprodução pode ser vista nas paredes de muitos quartos, também está. E o mesmo vale para o anúncio de Bruce Weber de 1982 para a Calvin Klein com a silhueta de Tom Hintnaus de cuecas contra uma estrutura branca em forma de falo. Houve uma época em que essa imagem parou o tráfego em Times Square.

Ainda assim, a exposição não é abrangente: seu foco são obras das quatro capitais tradicionais da moda: Nova York, Paris, Londres e Milão. E vai até 2011, quando Instagram e Snapchat transformaram fotógrafos em “criadores de imagens", disse o curador Paul Martineau, do museu Getty, que organizou a exposição.

A exposição é um lembrete do quanto ainda restam dúvidas quanto ao lugar deste tipo de obra num museu, apesar de todo o crescente prestígio tanto da fotografia quanto da moda.

“A fotografia teve que lutar para ser levada a sério, e a fotografia de moda ainda mais", disse Nick Knight, fundador do site de filmes de moda SHOWStudio, que tem três obras no museu.

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São fotos que, na maioria dos casos, foram vistas pela primeira vez nas páginas de revistas (publicações mensais descartáveis). Representam o oposto do eterno, um valor que, em tese, está no coração do universo da arte.

Embora haja pouca dúvida do quanto nomes como Avedon, Penn e Newton transcenderam suas raízes, o que a exposição propõe é que não havia raízes a transcender. Ao tirar as fotos da página e pendurá-las na parede, Martineau as liberta das associações que fazemos inconscientemente com a ideia das revistas de moda e campanhas publicitárias.

Martineau nos permite vivenciar o poder de colocar uma mulher de paletó e salto alto em meio aos destroços do bombardeio a Londres, como fez Cecil Beaton em 1941; ou a distorção numa foto de Neal Barr feita a partir de uma perspectiva baixa, que reflete a revolução nos costumes vivida nos anos 1960.

'Marisa Berenson, chapéu da Halston, capa da Harper's Bazaar' (negativo 1966; impressão 2011), de Hiro Foto: Museu J. Paul Getty, Los Angeles

Mas são as fotos mais difíceis de reconhecer que parecem atrair mais o olhar.

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Temos um anúncio de Anton Bruehl para a Bonwit Teller de 1932 criado para mostrar “roupas esportivas feitas sob medida”: vemos uma mulher usando uma espécie de meia-calça de corpo inteiro, com a cabeça sombreada por um braço erguido, uma silhueta que lembra estátuas da Grécia.

E temos uma foto de Louise Dahl-Wolfe de 1945 mostrando uma modelo vestindo um maiô Claire McCardell, deitada na areia, com a cabeça oculta num lenço. Ninguém repara no maiô, que desaparece com o efeito da perspectiva.

“É uma composição que chama a atenção de todos", disse Martineau. “É como se dissesse: ‘Aproxime-se de mim, venha me examinar’.” Ele poderia acrescentar: trate-me com o respeito que mereço.

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