PUBLICIDADE

Presidente da Coreia do Sul se debate sob um plano progressista

Elevação dos impostos e dos salários não estimula o crescimento como esperado, o que causa queixas de proprietários de pequenas empresas

Por Michael Schuman
Atualização:

INCHEON, COREIA DO SUL - Enquanto o presidente Donald Trump implementa uma série de medidas que preveem cortes drásticos dos impostos e de regulamentações, outra importante economia adota uma estratégia diferente.

O presidente Moon Jae-in, da Coreia do Sul, elevou os impostos e o salário mínimo para promover o crescimento. Até o momento, as medidas não funcionaram conforme planejado. O crescimento diminuiu o ritmo, o desemprego cresceu e os proprietários de pequenas empresa, como Moon Seung, estão se queixando.

Moon Seung, proprietário de uma fábrica, disse que parou as contratações depois do aumento do salário mínimo na Coreia do Sul. Interior de sua fábrica Foto: Tim Franco para The New York Times

PUBLICIDADE

Moon, dono de uma fabricante de autopeça, Dasung, em Incheon, uma cidade perto de Seoul, diz que os seus custos com mão de obra subiram mais 3% no ano passado, depois que o salário mínimo aumentou para 7.530 won coreanos, cerca de US$ 6,70, a hora. Isto corroeu sua margem de lucro já muito reduzida, e fez com que ele parasse de contratar funcionários. "Não podemos arcar com isto", disse Moon.

Com suas medidas progressistas, o presidente Moon tenta solucionar alguns dos mesmos problemas econômicos que assolam os Estados Unidos e grande parte do mundo. Entre eles, um hiato crescente entre ricos e pobres, um crescimento mais lento e salários estagnados.

Os resultados iniciais desencorajadores não significam que Moon esteja errado e Trump certo. O aumento dos salários nos Estados Unidos, embora maior nos últimos meses, continua baixo apesar do mercado de trabalho mais reduzido em toda uma geração e a perspectiva geral de a economia americana frear o seu ritmo em 2019. As medidas favoráveis às empresas na Europa, onde a legislação trabalhista está sendo abrandada, foram recebidas com grandes protestos.

No entanto, os problemas da Coreia do Sul apontam para os limites do Estado na solução das dificuldades econômicas, particularmente na solução das questões estruturais subjacentes. Para os sul-coreanos, a nova realidade econômica tem sido particularmente difícil de encarar. 

O país saiu da pobreza nos anos 60 e se tornou uma potência industrial, desempenhando um papel crucial em determinados setores globais, como o de smartphones e televisores. Com cerca de US$ 30 mil, a renda per capita da Coreia do Sul equivale aproximadamente à da Itália e da Espanha, e a sua população de 51 milhões de habitantes agora enfrenta condições comuns às das nações desenvolvidas: taxas de crescimento mais baixas, uma considerável população de idosos e o aumento da concorrência da China.

Publicidade

Moon Seung, dono da Dasung, uma fabricante de autopeças, não está satisfeito com o aumento dos salários Foto: Tim Franco para The New York Times

Depois de sua eleição em maio de 2017, Moon empreendeu uma significativa mudança na política econômica. Ele promoveu o aumento dos salários, maiores restrições às horas trabalhadas e maiores gastos com a defesa, financiados pelo aumentos dos impostos das empresas e dos cidadãos de rendas mais elevadas.

Moon pretende melhorar as rendas das famílias coreanas médias para que elas possam consumir mais, reduzindo assim a dependência da economia das exportações e, com isto, as oscilações da economia global.

Mas, em agosto, o desemprego atingiu a maior alta em oito anos, com 4,2%, depois da entrada em vigor do novo salário mínimo, embora desde então tenha melhorado. O crescimento foi de 2% no terceiro trimestre, em comparação com o mesmo período do ano anterior, e inferior aos 2,8% do segundo trimestre.

O maior problema é o aperto sofrido pelas pequenas empresas. Em uma pesquisa realizada em 2017 entre os proprietários do setor, 42% disseram que seriam obrigados a demitir funcionários por causa do aumento salarial.

PUBLICIDADE

Mas alguns líderes sindicais afirmam que o salário mínimo não está aumentando com a devida rapidez. No dia 21 de novembro, cerca de 160 mil trabalhadores entraram em greve. "Nós tínhamos grandes esperanças em relação a este governo", disse Lee Joo-Ho da Confederação Sindical Coreana. Mas, agora, "existe a possibilidade de o governo recuar ou mesmo reverter as intenções de sua política".

Moon pagou um considerável preço político por seu programa. Sua taxa de aprovação despencou de 84%, em meados de 2017, para 45% na mais recente pesquisa da Gallup. De sua parte, Moon Seung instou o presidente a combinar os seus objetivos com as lutas que as empresas coreanas enfrentam. "A minha mensagem é desacelerar", afirmou.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.