Protestos atingem em cheio a indústria do turismo em Hong Kong

Shoppings e restaurantes ficam vazios enquanto as manifestações continuam

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Por Andrew Jacobs
Atualização:

HONG KONG - Recentemente, na "Semana Dourada", uma das épocas do ano mais movimentadas nas lojas de Hong Kong, Matthew Tam e os seus funcionários esperavam na joalheria, cercados por caixas de relógios de luxo sem um cliente à vista sequer.

As vendas da loja, no distrito comercial de Tsim Sha Tsui, despencaram 90% nos últimos meses: os turistas desapareceram da China continental desde junho, com o início dos protestos contra as medidas do governo. “Não sei até quando vou poder resistir”, disse Tam.

Um shopping no distrito de Tsim Sha Tsui. 'Eu não sei até quando vou poder aguentar', disse o dono de uma joalheria. Foto: Lam Yik Fei para The New York Times

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Donos de hotéis, de restaurantes e guias turísticos estão igualmente preocupadoscom as cenas dos confrontos violentos entre a polícia e os manifestantes exibidas pela televisão no mundo inteiro, que assustam possíveis visitantes.

No mês passado, durante os feriados da "Semana Dourada", os shoppings ficaram fechados por vários dias, e os restaurantes ofereceram descontos.

Como a liderança da cidade se recusa a atender às reivindicações dos manifestantes que exigem eleições livres e uma investigação das acusações de maus tratos da polícia, espalhou-se uma sensação de alarme inconfundível pela cidade. O turismo é um importante fator da economia de Hong Kong, e dá emprego a centenas de milhares de pessoas. Mas o número de turistas que costumavam visitar este território semiautônomo despencou. Em agosto, as chegadas ao aeroporto da cidade caíram quase 40% em relação ao mesmo período do ano passado, antes da escalada da violência dos protestos.

A queda foi particularmenteacentuada entre os chineses do continente, que no ano passado constituíram mais de 70%dos 65 milhões de visitantes. Os números são claros. As taxas de ocupação dos hotéis chegam a apenas 60%, em relação a 91% no início deste ano. As vendas no varejo caíram 23% em agosto, o maior declínio já registrado. Na opinião dos especialistas, a economia está caminhando para a recessão. A ansiedade com a mudança do clima da cidade para os negócios aumentou com a divulgação de um relatório da Goldman Sachs que calcula que, nos últimos meses, pelo menos US$ 3 bilhões de investimentos foram transferidos de Hong Kong para Cingapura.

Há inclusive informações de demissões, e alguns dos hotéis mais chiques da cidade estão obrigando os funcionários a pedir férias não remuneradas ou a aceitar uma redução temporária dos salários.

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As taxas de ocupação dos hotéis em Hong Kong são cerca de 60%, em comparação a 91% no início deste ano. Um ônibus turístico. Foto: Lam Yik Fei para The New York Times

Zhou Wenhua, 38, executiva do setor imobiliário de Xangai, ficou pasma ao encontrar a Disneylândia de Hong Kong vazia. Repetindo a explicação oficial dada por Pequim, ela tachou os participantes das manifestações de crianças mimadas que não respeitam o governo chinês. “Não fosse o Partido Comunista, a China ainda seria um país pobre e fraco”, ela disse. “Eles deveriam realmente parar com estes tumultos”.

Cercada por relógios Rolex de US$ 70 mil e relógios Tudor de US$ 20 mil expostos no balcão da sua pequena loja em Tsim Sha Tsui, Cherry Shang, 30, falou que as vendas caíram pela metade nos últimos meses. Entretanto, acrescentou que está disposta a aguentar, apesar dos problemas financeiros a curto prazo, pelos objetivos mais elevados da autêntica democracia. “Não me importo de perder dinheiro para defender certos ideais”, ela disse. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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