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Reduzindo a bagunça da sua casa (e o seu estresse)

'Não abordamos a organização de maneira consciente', diz organizadora Regina Leeds

Por Tom Brady
Atualização:

De acordo com Maureen Dowd, colunista do Times, a ideia genial do fundador da Amazon, Jeff Bezos, foi compreender nosso instinto de caçadores-coletores, “a compulsão por acumular mais coisas empreendendo menos esforço". Mas, agora que temos todas essas coisas, precisamos chamar a especialista japonesa em arrumação, Marie Kondo, que tem agora um programa na Netflix ensinando às pessoas como organizar seus lares e reimaginá-los como espaços sagrados.

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O programa é adaptado a partir do livro dela, “A Mágica da Arrumação”, lançado em 2014. Nesse processo, ela se vale da experiência adquirida trabalhando num santuário xintoísta, ensinando aos discípulos que "um tipo de consciência permeia tudo", escreveu Christopher Harding no Times.

Para Harding, Marie traz a sabedoria do Oriente para os consumidores desalmados do Ocidente, seguindo a antiga tradição japonesa de vender-se como centro espiritual. "A própria energia e gentileza de Marie são marcadas por uma tristeza mal-disfarçada diante desses americanos desesperados", escreve ele, “cujos lares e consciências estão repletos de lixo acumulado".

Mas os pesquisadores dizem que o que está em jogo é mais do que uma falência espiritual. Espaços limitados pelo acúmulo de objetos podem afetar nossos níveis de estresse mais do que imaginamos. A maioria das pessoas acredita ser capaz de organizar sozinha as próprias coisas, mas muitos acabam se sentindo sobrecarregados. Nesse caso, é hora de pedir ajuda.

A organizadora profissional Regina Lark, de Los Angeles, disse ao Times que os clientes a procuram “quando alguém já não consegue mais suportar a situação - pessoas frustradas, furiosas e emocionalmente despedaçadas - e deixa de cumprir seus objetivos pessoais ou profissionais".

Nos Estados Unidos, os organizadores podem cobrar entre 30 dólares e 300 dólares por hora, mas dizem que seus serviços valem o preço pago - às vezes, a arrumação revela até somas em dinheiro. Aqueles que precisam de ajuda muitas vezes se sentem constrangidos, mas os organizadores sublinham que os sentimentos do cliente são protegidos.

“Um organizador profissional age com respeito e evita julgar", disse ao Times Sharon Lowenheim, que trabalha em Nova York. “Isso não significa que o organizador não vai lhe dizer algumas verdades que talvez o cliente preferisse não ouvir, mas isso será feito de maneira carinhosa, oferecendo apoio.”

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Uma forma de evitar tudo isso é comprar menos - sim, Amazon, parte da culpa é sua - para que haja um menor volume de entulho. O problema disso é que nos faz negar nossos centros de prazer. “Adquirir coisas produz uma sensação de bem estar”, disse ao Times o psicólogo Travis L. Osborne, de Seattle, especialista no tratamento da ansiedade. “Recebemos uma pequena dose de dopamina no cérebro quando fazemos compras, o que nos leva a repetir o comportamento.”

Rhonda Kaysen não recebeu uma dose de dopamina ao abrir a gaveta da mesa, mas se indagou como aqueles artigos tinham chegado ali: protetor labial, elástico de cabelo, nove canetas, três frascos de loção, um par de óculos antigos, cabos aleatórios e um molde do pé da filha de quando era bebê (a menina tem agora com 8 anos). Rhonda tem mexido nas gavetas e descartado tudo aquilo que não lhe proporciona alegra, como aconselha Marie Kondo. Mas, se não tivermos uma estratégia para os novos artigos que compramos, o problema não será superado.

“Fracassamos porque não abordamos a organização de maneira consciente", disse a organizadora doméstica Regina Leeds, de Los Angeles, e autora de “One Year to an Organized Life” [“Tenha uma vida organizada em 12 meses"]. Ela recomenda um processo metódico e deliberado, sem surtos de mania organizadora. Regina prepara listas com categorias e subcategorias de posses, e diz a seus clientes que sigam este modelo.

Rhonda ainda não se convenceu. “Por mais que me atraia a perspectiva de uma vida organizada", escreveu ela ao Times, “não consigo afastar a sensação de que, se eu conseguir impor alguma ordem a esta gaveta, ou à gaveta das meias, ou a qualquer outra gaveta da minha casa, o espaço logo será tomado novamente".

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