Roma tem sua primeira máquina de pizza expressa; será que os romanos vão gostar?

Em uma cidade onde não faltam pizzas – ou autodefinidos críticos de comida – um empreendedor aposta  em clientes com um senso de aventura

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Por Elisabetta Povoledo
Atualização:

ROMA – Os romanos comem pizza o tempo todo.

Eles têm pizza em fatia, cortada com tesouras do tamanho desejado, empilhada com cobertura, para o almoço. Pizza bianca, sem nenhuma cobertura, ou pizza rossa, simplesmente com molho de tomates, ou pizzette, pizzas pequenas. A “Pizza Scrocchiarella”, redonda de massa fina, que os americanos reconheceriam melhor, é quase sempre reservada para o jantar.

A máquina automática de pizzas prepara a massa e deixa tudo pronto em 3 minutos. Foto: Yara Nardi/Reuters

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Essencialmente, os romanos comem pizza em qualquer lugar. Mas será que, se pudessem, a comeriam de uma máquina automática de pizza?

Massimo Bucolo, um vendedor de equipamentos médicos se tornou um empreendedor de pizza, e aposta que sim. Ele instalou a primeira máquina de pizza de Roma que não precisar de manipulação humana em um ponto agitado da cidade, a uma pequena distância a pé da principal universidade da capital italiana.

Ele espera que a máquina – que faz uma pizza do zero em exatamente três minutos – conquiste a população romana que adora pizza, principalmente tarde da noite, quando os locais tradicionais estão fechados e a clientela, digamos, é menos exigente.

"Não estou tentando fazer concorrência às pizzarias; estou apenas propondo uma alternativa", disse Bucolo, 46, pouco depois de encher a máquina de queijo.

As reações dos aficionados da pizza são talvez o que seria de esperar em uma cidade que deu origem a um dos primeiros livros de cozinha do mundo, supostamente escrito durante o reinado do imperador Tibério, no primeiro século. Evidentemente, Roma não é Nápoles; em 2017, a UNESCO colocou os milhares de pizzaiolos de Nápoles na sua Lista de Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade. Mas os romanos são pelo menos tão devotados às suas pizzas quanto eles, com ou sem o reconhecimento da UNESCO.

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Renzo Panattoni, proprietário de uma das mais antigas pizzarias da cidade – conhecida pelos romanos como "l’Obitorio" (o necrotério) por causa de  suas mesas com tampo de mármore – mostrou-se desdenhoso. A pizza vendida nas distribuidoras automáticas, bufou, “não tem nada a ver com a pizza tradicional”.

Ele disse que tem certeza de que os romanos se manterão fiéis à versão de massa fina crocante que o seu restaurante serve desde 1931, embora a pizza napolitana de crosta mais grossa esteja conquistando grande parte da cidade.

Os jornalistas e os blogueiros que escrevem sobre comida torceram o nariz; uma jornalista comparou a criação da máquina a uma pizza que ela havia comido em uma área devastada da Amazônia equatoriana, quando a visitou em uma missão com a Oxfam.

“Fui massacrado", comentou Bucolo, que batizou o seu negócio de “Mr. Go”.

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Mas os críticos talvez estejam desprezando o senso de aventura que Bucolo tem a certeza que a sua máquina vermelho-fogo pode inspirar.

Recentemente, dois funcionários de TI pararam para apreciar a máquina e comer. Os clientes podem olhar a máquina fazendo o seu trabalho através de painéis de vidro, e os dois jovens gravaram o processo em seus celulares.

Rodas começaram a girar, misturando água e farinha, a massa foi trabalhada, prensada em um disco e então recebeu uma cobertura (não foi possível ver esta parte), antes de ser assada em um forno de raios infravermelhos e finalmente colocada em uma caixa de papelão: uma margherita superquente, com o tomate e a mozzarella básicos. “É o que chamo de pizza curiosidade, porque é a que custa menos e as pessoas provavelmente a comprarão se quiserem experimentá-la”, disse Bucolo.

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A opção margherita custa 4,50 euros, enquanto a mais cara, é a de quatro queijos, 6 euros.

Um dos dois funcionários da firma de tecnologia, Maurizio Pietrangelo, apostou que a sua compra seria boa o suficiente. “É sempre melhor do que a pizza congelada dos supermercados”, afirmou, “Pelo menos espero que seja”, acrescentou antes de desejar boa sorte a Bucolo e ir embora com a sua pizza.

Virginia Pitorri, cliente recorrente da máquina de venda automática, disse que volta frequentemente porque sua filha menor, Ginevra, gostou da experiência logo na primeira vez. “Ela gosta de olhar a máquina, é um divertimento para ela”, explicou.

A máquina mostra todo o processo de preparação da pizza, o que tem atraído curiosos. Foto: Yara Nardi/Reuters

Bucolo espera que, quando a curiosidade inicial acabar, os clientes voltem porque comprar uma pizza de uma máquina é engraçado e gostoso. E como a máquina fica disponível à noite, ele espera que a sua pizza conquiste pessoas como os motoristas de táxi que trabalham enquanto o resto da cidade dorme. “Esse mercado está sempre aberto”, afirmou.

A máquina de pizza é uma ideia de Claudio Torghele, um empresário do Norte da Itália, que trabalhou com parceiros e com vários professores de universidades durante anos antes de apresentar oficialmente a primeira máquina em 2009, produzida por uma empresa que ele chamou Let’s Pizza.

Ele ficou um pouco surpreso com a jogada de Bucolo, montando uma máquina em uma cidade em que não há escassez de pizzerias. “Nós nunca pensamos que teríamos uma máquina em Roma, mas aí está ela”, afirmou.

A máquina contém ingredientes suficientes – inclusive várias coberturas – para 100 pizzas sem precisar reabastecer. A máquina de Bucolo oferece quatro tipos de cobertura: margherita, quatro queijos, salame apimentado e bacon. Ele também poderia  ter selecionado peru, mas pensou que aí seria ir longe demais. “Nunca vou incluí-lo”, afirmou. “Queria manter os gostos próximos do paladar italiano”.

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Esta não é a única máquina de vender pizza no mercado. A PizzaForno estoca pizzas frescas que podem ser aquecidas na máquina (em três minutos) ou levadas para casa frias. A Pizza ATM diz no seu site que pode preparar oito pizzas pré-cozidas ao mesmo tempo em quatro minutos. Mas a máquina da Let’s Pizza, que tem em vários países europeus, é a única que faz todo o processo de preparo da pizza. “Outros tentaram nos copiar e não conseguiram”, disse Torghele. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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