
21 de novembro de 2018 | 06h00
Alireza Karimi teve dificuldade para obter as pílulas de diazóxido que seu pai precisa para reduzir os níveis de insulina e combater o câncer no pâncreas. O remédio tinha que ser importado e, até recentemente, isso não era um problema. Mas, nos três meses mais recentes, Karimi não foi capaz de encontrá-lo, restando-lhe apenas um frasco.
“Agora que não encontramos mais o remédio por aqui, somos obrigados a dar a ele apenas um por dia", disse Karimi em entrevista concedida pelo aplicativo de mensagens Telegram, popular entre os iranianos. A redução na dosagem criou complicações, como a ameaça de convulsões e a necessidade de monitorar o pai 24 horas por dia para garantir que seus níveis de insulina estejam sob controle.
A ansiedade em relação à disponibilidade de remédios está aumentando no Irã com a reimposição de sanções americanas este mês após o recuo do presidente Donald Trump em relação ao acordo nuclear.
Duras restrições bancárias e a ameaça de sanções secundárias contra empresas que fazem negócios com o Irã praticamente impossibilitaram a continuidade do trabalho das empresas farmacêuticas internacionais no país.
Funcionários do governo Trump dizem que as sanções não devem afetar o comércio de artigos humanitários, mas muitos estão céticos.
“O fato é que os bancos têm tanto medo das sanções que não querem nenhuma relação com o Irã", disse Gérard Araud, embaixador da França às Nações Unidas. “Assim, isso significa que há um sério risco de haver uma escassez de remédios no Irã em questão de poucos meses.”
A “campanha de pressão máxima” do governo Trump começa a fechar alguns dos caminhos que restavam ao Irã para a atividade bancária ligada a artigos humanitários.
“Isso cria um problema, pois mesmo que haja uma empresa europeia disposta a vender para o Irã, a ausência de bancos no país significa que é difícil fazer pagamentos confiáveis e regulares à Europa", disse Esfandyar Batmanghelidj, especialista em sanções e comércio humanitário.
Os problemas são agravados pela situação econômica do próprio Irã, que levaram a uma acentuada desvalorização da moeda do país, o rial, e a uma alta acentuada no preço dos remédios, cuja maioria é importada. Karimi disse que os comprimidos do pai custavam cerca de 28 dólares por frasco, mas aumentaram para 43 dólares.
Em certos casos, a escassez é atribuída aos pacientes que estocam remédios ou às tentativas do governo de controlar o suprimento, sabendo que o acesso ao dinheiro pode ser difícil no futuro.
Maryam Peyman, que sofre de esclerosa múltipla, esgotou recentemente seu último frasco de Orlept, um remédio alemão usado para epilepsia e outros problemas neurológicos. Durante três meses, foi impossível encontrá-lo nas farmácias.
Ela finalmente descobriu uma alternativa produzida domesticamente, mas o resultado está longe do ideal. “Agora que estou usando remédios iranianos, sinto dores de cabeça e tenho problemas de visão", disse ela. “O remédio alemão não me dava dores de cabeça. Aumentava a concentração sem impactar a vista.”
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