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Satélites podem ajudar a rastrear se as nações estão cumprindo suas promessas de carbono

Cientistas usaram medições de dióxido de carbono por satélite para detectar pequenas reduções atmosféricas em áreas submetidas a lockdowns por conta do coronavírus

Por Henry Fountain
Atualização:

Segundo o Acordo de Paris de 2015 para limitar o aquecimento global, as nações devem medir e relatar o progresso em direção às reduções prometidas nas emissões. Elas submetem regularmente inventários de gases de efeito estufa, detalhando as fontes de emissão, assim como as remoções, ou sumidouros, dos gases dentro de suas fronteiras. Em seguida, eles são revisados por especialistas técnicos.

O satélite Orbiting Carbon Observatory (OCO)-2, que foi lançado em julho de 2014, mede quantidade dedióxido de carbono na atmosfera. Foto: NASA via The New York Times

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O processo de contabilidade procura garantir a transparência e gerar confiança, mas é demorado e os números podem estar longe da precisão. Mas e se as mudanças nas emissões do principal gás do aquecimento global, o dióxido de carbono, pudessem ser relatadas com mais precisão e rapidez? Isso pode ser extremamente útil já que o mundo procura limitar o aquecimento.

Um novo projeto, o Climate Trace, que o ex-vice-presidente Al Gore descreveu em um evento junto à cúpula do clima COP26 em Glasgow, usa inteligência artificial e aprendizado de máquina para analisar imagens de satélite e dados de sensores para apresentar o que diz serem estimativas de emissões precisas em tempo quase real.

Mas pesquisadores e colegas da NASA relataram o que chamaram de um marco em direção a um objetivo diferente: medir as mudanças reais nas concentrações de dióxido de carbono na atmosfera à medida que os países tomam medidas para reduzir as emissões.

Os pesquisadores disseram que conectando medições de CO2 de satélite em um modelo de sistemas terrestres, foram capazes de detectar pequenas reduções na concentração atmosférica do gás nos Estados Unidos e outras áreas que foram resultado dos lockdowns devido ao coronavírus no início de 2020.

Segundo algumas estimativas, a queda na atividade econômica devido aos lockdowns levou a reduções de emissões de 10% ou até mais, embora as emissões tenham se recuperado depois. Essas reduções podem parecer grandes, mas significaram apenas uma mudança muito pequena na concentração de CO2 na atmosfera, que atualmente é de mais de 410 partes por milhão.

Os pesquisadores foram capazes de detectar uma queda de cerca de 0,3 partes por milhão durante os períodos de lockdown.

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“Acreditamos que é um marco”, disse Brad Weir, um cientista pesquisador do Goddard Space Flight Center da NASA e o principal autor de um artigo que descreve o trabalho publicado na revista Science Advances.

O satélite, Orbiting Carbon Observatory-2, não foi projetado para medir as mudanças nas emissões de CO2 causadas pelo homem. Na verdade, o objetivo era ver como os padrões climáticos naturais em grande escala, como El Niño e La Niña, afetam a concentração de CO2. O satélite mede o CO2 na coluna de ar entre sua posição e a superfície da Terra e pode detectar níveis adicionais ou reduzidos do gás antes que ele se misture uniformemente na atmosfera.

“Felizmente, não tivemos um forte efeito do El Nino no início de 2020”, disse Weir, observando que um sinal mais forte do El Nino teria mascarado o efeito de origem humana.

Vários satélites adicionais de medição de CO2 estão programados para serem lançados nos próximos anos. “Como temos capacidades de observação cada vez melhores, acreditamos que o monitoramento das emissões por meio de observações baseadas no espaço é possível”, disse Weir.

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Johannes Friedrich, um associado sênior da organização de pesquisa World Resources Institute que estuda a contabilidade de emissões, disse que as medições atuais, particularmente as emissões de combustíveis fósseis, eram razoavelmente precisas. As medições são baseadas em relatórios de atividades humanas, como a operação de uma central elétrica a carvão específica; calcular as emissões do carvão que é queimado é relativamente simples e direto. “Sabemos muito bem de onde vêm as emissões e a maioria dos países as registra”, disse Friedrich.

As emissões da agricultura e do desmatamento apresentam incertezas maiores. As estimativas dos gases de efeito estufa emitidos pelo gado, por exemplo, são apenas estimativas. E as emissões do desmatamento podem variar com base no grau e extensão do desmatamento, entre outros fatores.

Friedrich, que não esteve envolvido no estudo, disse achar que as medições baseadas em satélite podem funcionar potencialmente no futuro. “Neste momento, ainda há grandes desafios”, ele disse.

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“Você precisaria de medições muito regulares, com resolução muito boa e cobertura muito boa de todo os Estados Unidos, por exemplo. E isso ainda é muito difícil. ” /TRADUÇÃO LÍVIA BUELONI GONÇALVES

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