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O boom das startups que miram o espaço sideral

Avanços na tecnologia espacial e novas maneiras de financiamento estão atiçando um fluxo de interesse dos investidores

Por Erin Woo
Atualização:

Quando Lisa Rich fez uma ligação com investidores, em março, para levantar capital para a Aurvandil Acquisition, uma empresa que compra startups com foco em tecnologia espacial, ela esperava uma injeção de vários milhões de dólares.

Lisa, integrante da diretoria da Aurvandil, quase alcançou seu objetivo em questão de uma hora. “Isso simplesmente não acontece”, afirmou ela, rindo.

Chris Kemp, diretor executivo da Astra, nos túneis de teste da antiga Naval Air Station Alameda, que foram reaproveitados por sua empresa. Foto: Cayce Clifford/The New York Times

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Em julho, Richard Branson fez uma viagem ao espaço sideral em uma nave construída por sua empresa, a Virgin Galactic. Jeff Bezos, que deixou o cargo de diretor executivo da Amazon, esteve em um voo espacial em uma espaçonave construída por sua companhia, a Blue Origin. E a SpaceX, de Elon Musk, tem um contrato com a Nasa para levar americanos à Lua.

Investidores estão colocando mais dinheiro do que nunca em tecnologia espacial. Startups espaciais levantaram mais de US$ 7 bilhões em 2020, o dobro da quantia investida apenas dois anos antes, de acordo com a firma de análise do setor espacial BryceTech. Essa tendência continua este ano, afirmou Carissa Christensen, diretora executiva da BryceTech.

Os maiores pacotes vão para empresas que lançam foguetes ao espaço sideral, como SpaceX e Relativity Space, que anunciaram US$ 650 milhões em novos investimentos um dia depois de Bezos anunciar que voaria ao espaço.

Mas startups de todos os setores da indústria espacial — incluindo de lançamentos de foguetes, comunicações via satélite, suporte de vida, cadeias de fornecimento e energia — chamam a atenção dos investidores. A Astranis, uma empresa de internet via satélite, fechou um contrato de US$ 280 milhões em abril. A Axiom Space, que pretende construir a primeira estação espacial comercial, levantou US$ 130 milhões em fevereiro.

“Nunca vi um mercado como esse, jamais”, afirmou Gabe Dominocielo, cofundador da Umbra, uma startup que desenvolve satélites capazes de tirar fotografias da superfície terrestre independentemente das condições de clima ou iluminação. “Desde o ano passado, a quantidade de telefonemas que recebi foi enorme — e são as startups que ligam para os investidores normalmente. Agora, é o completo oposto”.

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Esse boom, afirmam muitos executivos, analistas e investidores, é alimentado em parte por avanços que tornaram viável para empresas — e não apenas países — desenvolver tecnologia espacial e lançar produtos ao espaço sideral.

A fábrica da Astra em Alameda, Califórnia. Foto: Cayce Clifford/The New York Times

A Astra, uma startup fundada em 2016, quer facilitar ainda mais as viagens espaciais, oferecendo lançamentos menores e mais frequentes — posicionando-se como um elemento da indústria espacial similar à computação em nuvem e seu papel em possibilitar a existência de startups digitais. A empresa está competindo no mercado dos lançamentos espaciais com outras startups já consagradas, como a Rocket Lab, mas espera se sobressair por mirar em lançamentos ainda menores e mais baratos.

A Astra já programou seu primeiro lançamento com carga e tem 50 outros contratados, incluindo pela Planet e pela Nasa.

“A Astra está preenchendo esse espaço no mercado, em que há centenas de empresas, todas com novas tecnologias de desenvolvimento próprio, e ninguém quer esperar até o próximo ano, quando a SpaceX conseguir chegar lá”, afirmou Chris Kemp, diretor executivo da Astra. “Mesmo se for grátis, mesmo que a SpaceX me pagasse para esperar um ano, o valor de ser capaz de chegar ao espaço no mês que vem é incrivelmente valioso para uma startup que está gastando milhões de dólares por mês”.

A SpaceX está trabalhando em outro marco: foguetes como o Falcon 9, que tem um propulsor reutilizável, e o Starship, que é projetado para ser completamente reutilizável. Em maio, a SpaceX realizou lançamento e pouso bem-sucedidos de seu protótipo do Starship pela primeira vez.

“A capacidade de reutilizar algo e tornar esse produto consistente e confiável é transformadora na indústria espacial”, afirmou Lisa, que é também fundadora da Hemisphere Ventures, que investe em empresas espaciais desde 2014, e fundadora e diretora operacional da Xplore, uma empresa que projeta missões orbitais.

Chris Kemp, da Astra. Foto: Cayce Clifford/The New York Times

A última onda de contratos de investimento também foi ocasionada, em parte, por uma série de empresas com o propósito específico de adquirir outras, como a Aurvandil, de Lisa. O único objetivo dessas empresas de fachada negociadas publicamente, conhecidas como SPACs, é comprar uma ou mais empresas privadas. Elas têm sido uma das tendências mais faladas do mundo financeiro do ano passado.

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Do ponto de vista das startups, fundir-se com uma SPAC é uma maneira eficiente de levantar grandes quantias em dinheiro em um estágio inicial. Isso também muda o cálculo dos investidores.

Alguns investidores se afastaram de startups espaciais no passado porque essa tecnologia com frequência leva muito mais tempo para ser desenvolvida e gerar lucro do que softwares, como redes sociais ou aplicativos.

“Se você está numa empresa de software e lança um aplicativo que não funciona, você simplesmente inventa um aplicativo novo. Essa falha pode lhe custar um ou dois meses”, afirmou Dominocielo, da Umbra. “Se você fabrica um satélite, gasta milhões de dólares. E se esse satélite falha, você perde anos”.

Mas as SPACs permitem que as empresas abram o capital antes do que numa IPO tradicional, dando a investidores a oportunidade de resgates em prazos muito menores. O valor de uma empresa de capital aberto frequentemente tem base, em parte, em suas projeções de crescimento, em vez de sua verdadeira receita.

Nove empresas da indústria espacial anunciaram planos de fusão com SPACs, incluindo seis em 2021. A Astra é uma dessas seis. A fusão com a Holicity vai injetar na Astra cerca de US$ 489 milhões, permitindo à empresa se expandir rapidamente o suficiente para acompanhar o que Kemp qualifica como uma demanda “absolutamente insaciável”.

“Quando você chega ao ponto de precisar de meio bilhão de dólares em dinheiro para construir uma fábrica de foguetes, você tem de abrir o capital, porque passou do nível de financiamento por firmas”, afirmou ele. “É aí que as SPACs mostram seu valor”.

A Astra iniciou o processo de fusão em dezembro e abriu o capital na Nasdaq em julho.

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No total, foram levantados US$ 3,9 bilhões por meio de nove negócios com SPACs, e as empresas têm um valor combinado de US$ 20 bilhões, de acordo com Christensen, da BryceTech.

Investidores, fundadores de empresas e analistas têm a expectativa de que a indústria espacial continuará a se expandir rapidamente. O Morgan Stanley estimou que o setor valerá US$ 1 trilhão até 2040 contra US$ 350 bilhões em 2020. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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