Eu cursava a escola quando Taylor Swift omeçou a sussurrar contos de fada nos meus ouvidos. Fearless, seu segundo álbum, foi lançado quando eu tinha 11 anos de idade – com a cabeça cheia de histórias de amores não correspondidos e romances shakespearianos de cavaleiros com armaduras reluzentes. Em Speak Now, quando eu estava com 13 anos, havia beijos arrebatadores na chuva, dragões a combater, reinos para salvar.
Taylor Swift promovia o escapismo e eu era uma ávida consumidora. Por que enfrentar a realidade mundana a adolescência quando eu podia estar num mundo onde a garota fica com alguém? É essa menina que eu fui, então, que quis assistir Miss Americana, agora na Netflix. O documentário de Lana Wilson acompanha Taylor Swift durante alguns anos desde a era de Reputation – seu sexto álbum, até a criação de Lover, o mais recente (e muito mais suave) trabalho, lançado em agosto.
Nunca me incomodei muito com sua vida fora do palco. Mas com o passar dos anos, dúvidas sobre sua autenticidade, suas motivações, me afetaram. Queria esclarecer se uma figura pública que eu cresci aplaudindo era tão “calculista” como os tabloides a descreviam.
Minhas preocupações eram aquelas que você sem dúvida ouviu em algum lugar. O quão genuíno era o novo interesse de Taylor Swift em política. Ou na sua defesa vocal do movimento LGBT? O que a impediu de se manifestar antes? Parte dessa mudança, claro, tem a ver com o fato de que eu cresci. Há dez anos, não me preocupava com o silêncio de Taylor no tocante a qualquer assunto. Mas quando cheguei mais perto da idade de votar, comecei a pensar de modo mais crítico. Quais são as implicações de uma pessoa que tem uma plataforma enorme e não faz uso dela? Comecei a assistir Miss Americana certa do que eu veria: algumas músicas compostas nos bastidores, Taylor Swift reagindo à cobertura negativa da mídia, algumas cenas dos seus gatos. Todos esses aspectos foram checados. Mas para cada momento que eu sabia estaria presente, havia um outro que me surpreendia. A única coisa que não esperava era o quão genuíno era o filme. Retomei uma conexão com aquela Taylor Swift que há muito tempo não mais me comovia.
Digo isto plenamente consciente de que estava vendo um lado da história. O documentário foca unicamente em como Taylor se vê. Mas há uma honestidade inescapável em Miss Americana. Admissões francas que me fizeram lamentar a vida fácil, da garota vizinha que Taylor costumava falar nas suas músicas, mas à qual não pode nunca retornar. Conversas sobre seus problemas de transtorno alimentar, sobre abuso sexual e a busca de justiça a partir de uma situação privilegiada, sobre um homem que invadiu seu apartamento e dormiu na sua cama.
Minhas perguntas sobre sua mudança abrupta para a política e a defesa dos direitos também foram respondidas, com seus argumentos sinceros de que está “do lado certo da história”. Antes Taylor evitava temas que pudessem afastar seus fãs. Por muito tempo procurei me reconciliar com o sentimentalismo das músicas da minha infância e minha relutância em aceitar a mulher que as criou.
Com este filme, comecei a tirar algumas conclusões. Miss Americana deixou uma coisa clara: Taylor Swift não é intocável, quando outrora me parecia, quando no palco era alçada no ar, flutuando num plano diferente de nós, pobres mortais. Agora, num raro momento, ela é acessível. Para uma fã distante voltar, vale muito mais. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO