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Os teatros de Nova York estão na escuridão, mas estas janelas se iluminam com arte

O Irish Repertory Theater está transmitindo declamações de poesia e Playwrights Horizons e St. Ann’s Warehouse estão exibindo arte que levanta as questões da raça e injustiça

Por Colin Moynihan
Atualização:

Como muitas organizações culturais, o Irish Repertory Theater, em Manhattan, tem transmitido programação em seu site durante a pandemia de coronavírus. Mas, recentemente, o teatro acrescentou um novo tipo de transmissão a seu repertório, montando duas telas de 60 polegadas em janelas voltadas para a calçada, instalando alto-falantes no topo da fachada do prédio e exibindo uma coleção de filmes que mostram pessoas lendo poemas na Irlanda, em Londres e em Nova York.

Em uma manhã recente, Ciaran O'Reilly, diretor de produção do Rep, ficou ao lado do teatro na West 22nd Street olhando para as telas enquanto exibiam Joseph Aldous, ator britânico, lendo An Advancement of Learning (Um avanço da aprendizagem, em tradução livre), poema narrativo de Seamus Heaney que descreve um breve impasse com um rato ao longo da margem de um rio. "Estas janelas não estão escuras. Elas se iluminam com poesia, com música, com as palavras dos atores que estão atuando", disse O'Reilly.

Sean Hewitt recita 'Queens' de J.M. Synge em instalação digital do Irish Repertory Theater. Foto: Sara Krulwich/The New York Times

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No ano passado, os teatros e outras instituições de artes cênicas de Nova York se valeram de meios criativos para levar obras ao público, às vezes também injetando um pouco de vida em fachadas que estariam fechadas de outra forma. Esses arranjos continuam, ainda que o estado de Nova York tenha anunciado que os locais de entretenimento podem reabrir em abril com um terço de sua capacidade.

No entanto, os painéis de vidro têm oferecido um espaço seguro. No fim do ano passado, por exemplo, os atores Christopher Williams, Holly Bass e Raja Feather Kelly se apresentaram em momentos diferentes no saguão ou em uma parte menor semelhante ao vestíbulo do edifício em Chelsea ocupado pelo New York Live Arts. Todos eram visíveis através do vidro para aqueles que estavam do lado de fora.

Em dezembro, em outra apresentação de rua atrás de uma vidraça no centro do Brooklyn, o Brooklyn Ballet encenou nove espetáculos de 20 minutos de trechos selecionados de seu O Quebra-Nozes.

O balé transformou seu estúdio no que sua diretora artística, Lynn Parkerson, chamou de teatro de "caixa de joias"; escolheu números que mantiveram as bailarinas com máscara e distanciadas socialmente; e usou barricadas na calçada para limitar o público.

"Foi um jeito de trazer algumas pessoas de volta para algo que adoram, que apreciavam e de que talvez estejam se esquecendo. Parecia uma performance real", afirmou Parkerson em uma entrevista, acrescentando que as apresentações ao vivo foram planejadas para abril e incluiriam membros do balé em Pas de Deux, ao som de Gavotte et Six Doubles de Jean-Philippe Rameau, com execução ao vivo da pianista Simone Dinnerstein.

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O Kaufman Music Center, no Upper West Side, tem realizado concertos surpresa na vitrine de uma loja - o endereço não é divulgado, mas é descrito no site da organização como "fácil de encontrar" - ao norte do Columbus Circle. Essas apresentações, que vão até o fim de abril, são anunciadas na vitrine da loja no mesmo dia para limitar o tamanho da multidão e incentivar o distanciamento social. Já participaram o violinista Gil Shaham, a meio-soprano Chrystal E. Williams, o Gabrielle Stravelli Trio e o JACK Quartet.

O St. Ann’s Warehouse no Brooklyn está exibindo o Projeto Supremacia, de Julian Alexander e Khadijat Oseni, arte pública que aborda a natureza da injustiça na sociedade americana. A palavra "supremacia" está sobreposta a uma fotografia de policiais com equipamento de choque, e há imagens de Sandra Bland, de Elijah McClain e de Emmett Till realizadas por Michael T. Boyd.

E na Playwrights Horizons, em Midtown, o artista mexicano-americano Ken Gonzales-Day está colocando fotografias de esculturas de figuras humanas em vitrines, encorajando os espectadores a considerar as definições de beleza e de raça. Essas exposições são parte de uma série rotativa de arte pública organizada pelo artista, ativista e escritor Avram Finkelstein e pelo cenógrafo e figurinista David Zinn.

Em janeiro, quando a série foi anunciada, Finkelstein disse que o objetivo era "apresentar um trabalho que faz uso construtivo das fachadas dormentes para criar um museu de rua transitório e para lembrar a cidade de sua vivacidade e originalidade".

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O'Reilly, do Irish Rep, contou ter ouvido no ano passado de Amy Holmes, diretora executiva da Adrian Brinkerhoff Poetry Foundation, que o teatro poderia ser um bom local para exibir alguns dos curtas-metragens que a organização havia encomendado para tornar a poesia parte de uma experiência imersiva.

A série em exibição no teatro, intitulada Poetic Reflections: Words Upon the Window Pane (Reflexões poéticas: palavras no painel da janela, em tradução livre), compreende 21 curtas-metragens do cineasta irlandês Matthew Thompson.

Eles mostram poetas contemporâneos lendo a própria obra, bem como poetas e atores lendo trabalhos de outros poetas, incluindo William Butler Yeats e J.M. Synge, e foram produzidos em colaboração com a companhia Poetry Ireland, de Dublin; com o Druid Theatre, de Galway; com o centro cultural 92nd Street Y, de Nova York; e com a organização Poet in the City, de Londres. "Acho que existe algo especial em encontrar as artes de maneira inesperada na cidade, especialmente uma forma de arte como a poesia", comentou Holmes.

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Os leitores nos filmes incluem pessoas que nasceram na Irlanda, imigrantes na Irlanda, pessoas que vivem na Grã-Bretanha e algumas nos Estados Unidos, como Denice Frohman, que nasceu e cresceu na cidade de Nova York.

Frohman esteve recentemente nas telas do teatro lendo versos como "as praias estão fechadas e ninguém sabe o nome dos mortos", de seu poema Puertopia, quando Erin Madorsky e Dorian Baker pararam para ouvi-la. Baker disse que viu os filmes exibidos na vitrine como símbolo de "revitalização da energia poética".

Madorsky observou que assistia regularmente a espetáculos teatrais antes da pandemia, mas agora que perdeu essa conexão ficou agradecida por assistir a uma leitura dramática enquanto ia para casa. Ela acrescentou que o som dos versos lidos contrastava com o que chamou de "padrão" da cidade: buzinas estridentes, sirenes e caminhões de lixo barulhentos. "Acho isso maravilhoso. Existe algo reconfortante em sua voz que simplesmente me atraiu."

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