A tecnologia consegue nos ajudar a conseguir uma boa noite de sono?

É crucial desfrutar de um descanso suficiente, mas que isto não se torne causa de estresse

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Por Matt Wasielewski
Atualização:

Noite após noite, milhões de pessoas recorrem ao Fitbits, ao Apple Watch e a aplicativos específicos na tentativa de ter uma noite de sono perfeita. Ou pelo menos, um sono melhor. O fabricante do Pokémon vê uma oportunidade no florescente mercado de dispositivos para o sono, e anunciou projetos de lançamento do Pokémon Sleep, em 2020.

“O conceito deste jogo é que os jogadores fiquem animados para acordar todas as manhãs”, disse Tsunekazu Ishihara, diretor executivo da companhia.

Segundo alguns pesquisadores, os monitores do sono não podem determinar com precisão a qualidade do sono. Foto: David Goldman/AP

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Na expectativa de criar o mesmo tipo de momento viral do Pokémon Go, de 2016, o Pokémon Sleep deve monitorar os padrões de sono e mudar o jogo baseado nas horas de sono do usuário, e a que horas ele costuma acordar.

Mas os pesquisadores advertem que a busca do sono ideal, ou de capturar Pokémon, pode ser contraproducente. Em alguns casos, as pessoas passam um tempo excessivo na cama tentando aumentar suas horas de sono, o que pode agravar a insônia.

Raphael Vallat, um pesquisador da área da Universidade da Califórnia, em Berkeley, disse que os aplicativos de sono fornecem um quadro incompleto da qualidade do sono porque não medem os estágios do sono.

Ele explicou ao jornal The Times que monitorar continuamente o sono pode criar ansiedade e interferir com um bom repouso à noite. “Controlando os seus dados, você pode modificar a percepção do seu sono”, afirma Vallat.

Brian X. Chen, do The Times, disse que monitorar o sono não foi uma experiência positiva para ele. Em duas semanas, Chen, que escreve sobre aparelhos eletrônicos, experimentou uma variedade de monitores. Os resultados foram decepcionantes. “Em última análise, a tecnologia não me ajudou a dormir melhor”, escreveu Chen, que em geral dorme menos de seis horas.

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“Os dados não me ajudaram a descobrir o que eu deveria fazer para solucionar o meu problema do sono. Desde que comecei estes testes, inclusive fui me tornando mais irritado”, acrescentou.

Enquanto novas pesquisas mostram a importância do sono, aumenta o número de pessoas que recorrem a monitores. Foto: Stuart Isett para The New York Times

Os dados podem nos dar uma ideia dos nossos padrões de sono, entretanto, algumas pessoas podem ter genes que tornam mais fácil ter uma noite de sono repousante.

Desde que consegue lembrar, Brad Johnson nunca dormiu mais do que seis horas por noite. Ele sempre acorda sem despertador, e sempre se sente descansado e pronto para enfrentar o dia. “Se você me pagasse US$ 100 mil para dormir oito horas esta noite, eu não poderia”, disse ao The Times.

Outros seis membros da família de Johnson conseguem perfeitamente dormir menos do que o recomendado sem problema algum. Os pesquisadores constataram queeles têm o mesmo gene, o ADRB1, que influencia a quantidade de sono de que as pessoas precisam. Este gene aparece em cerca de uma em cada 25 mil pessoas, segundo o dr. LouisPtacek, um os pesquisadores e neurologistas da Universidade da Califórnia, em San Francisco. Outro gene identificado pelo dr. Ptacek afeta o momento do sono e não a sua duração.

Assim que as corujas noturnas adormecem, cerca de 3 em 1.000 “cronotipos matutinos extremos” acordam para começar o dia. 

Estas pessoas sofrem de uma fase avançada de sono, “uma espécie de jet lag permanente”, escreveu Jane E. Brody do Times.

“O problema é que nós conhecemos pouco a respeito da natureza do sono e da sua utilidade”, disse o dr. Ptacek. “À medida que identificarmos mais genes, esperamos poder elaborar um sistema, ou sistemas,fundamentalmente importantes para dormir”.

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Os pesquisadores concluíram que as pessoas com o gene ADRB1 podem ter menos necessidade de sono do que outras. Foto: Wang Zhao/AFP - Getty Images

Aplicativos e monitores talvez não sejam tão úteis quanto muitos acreditam, mas o Pokémon Sleep, diz uma pessoa, não é a solução.

“‘Transformar o sono em uma brincadeira’ é um conceito que só pode existir hoje, quando nada é considerado desfrutável ou mesmo válido, a não ser que contribua para uma economia secundária”, escreveu no Twitter Ian Bogost, designer de videogames e autor do livro “Play Anything”, depois do anúncio do Pokémon Sleep. E, acrescentou: “As pessoas acabarão precisando de jogos que tornem o divertimento mais divertido”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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