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Gratuitos, conselhos médicos 'invadem' o aplicativo TikTok

Cresce debate sobre endividamento por causa de despesas médicas, uma da principais causas de falência nos Estados Unidos

Por Amanda E. Newman
Atualização:

O último lugar em que Eva Zavala esperava encontrar algum alívio para as despesas médicas era a plataforma TikTok, rede social pertencente à China usada para compartilhar vídeos breves.

Então ela encontrou por acaso um vídeo publicado por Shaunna Burns, da Carolina do Norte, aconselhando os espectadores a entrar em contato com os hospitais e pedir uma descrição detalhada das despesas médicas, item por item. Isso pode levar à remoção de cobranças escandalosas, como US$ 37 por um Band-Aid.

'Minha presença no TikTok é como se eu fosse aquela amiga que, por acaso, estudou ginecologia e obstetrícia',afirmaDanielle Jones. Foto: Katie Hayes Luke / The New York Times

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Eva disse ao Times que seguiu esse conselho e suas despesas médicas foram reduzidas de US$ 1.000 para zero. Em respostas ao vídeo, milhares se queixaram do sistema de saúde americano, no qual o seguro é proporcionado geralmente pelos empregadores, e agradeceram a Shaunna pela dica.

Irene Flippo, defensora dos pacientes, não ficou surpresa com a resposta. O endividamento por causa de despesas médicas é uma da principais causas de falência nos Estados Unidos, mesmo para quem tem seguro saúde privado, e o sistema de cobrança é confuso e difícil de interpretar. Ela falou na necessidade de ensinar às pessoas como lidar com as despesas médicas.

Talvez o TikTok, que já foi baixado 1,65 bilhão de vezes, não seja o primeiro lugar onde as pessoas procuram orientações desse tipo. Mas isso não impediu os médicos de usar o aplicativo. “A plataforma tem um vasto potencial de público que vai além dos seguidores de uma pessoa", afirmou a médica da família Rose Marie Leslie, de Minnesota.

Leslie usou o TikTok para compartilhar conselhos médicos. Os vídeos dela a respeito da doença pulmonar ligada aos cigarros eletrônicos tiveram mais de três milhões de visualizações, e ela insistiu para que o público queimasse calorias imitando coreografias que viralizaram no aplicativo.

Mas, para causar impacto na plataforma, é necessário aderir ao seu formato casual e, muitas vezes, bobo. Os vídeos são engraçados ou leves; coreografias originais ao som de músicas pegajosas são um gênero especialmente popular.

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A ginecologista Danielle Jones, do Texas, também percebeu que a chave para o sucesso no TikTok está na abordagem. “Minha presença no TikTok é como se eu fosse aquela amiga que, por acaso, estudou ginecologia e obstetrícia", brincou. “É uma ótima maneira de levar informação às pessoas que precisam dela, chegando exatamente onde elas estão”.

Outro de seus vídeos de educação sexual, no qual ela diz ao público o que fazer quando o método anticoncepcional falha, teve mais de 11 milhões de visualizações.

Combate à desinformação

O TikTok também é usado para ajudar no combate à desinformação que é difundida nas redes sociais. Nas semanas que se seguiram ao início da epidemia de coronavírus em Wuhan, na China, proliferaram na internet informações falsas dizendo que o vírus tinha sido desenvolvido como arma biológica ou como tentativa de aumentar a venda de vacinas.

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Ainda que desinformações sejam proibidas no TikTok e a plataforma se esforce para remover vídeos que promovem teorias da conspiração, a difusão do conteúdo desse tipo é tão potente que a Organização Mundial da Saúde recrutou a ajuda de empresas como Facebook, Twitter e Google para combater uma dita “infodemia". As plataformas estão trabalhando com a OMS para remover informações falsas a respeito do coronavírus.

É uma luta que Leslie e Jones conhecem muito bem. Em se tratando do combate à desinformação, um elo humano pode ajudar muito. “Quando lidamos com um público jovem, é muito importante garantir que o conteúdo produzido seja profissional, com informações corretas", afirmou a professora de redes sociais Sarah Mojarad, da Universidade do Sul da Califórnia. “Algumas pessoas podem achar que se trata apenas de uma brincadeira dos médicos, mas é algo que afeta o atendimento". / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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