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Trabalhos fisicamente desgastantes podem ser prejudiciais para o nosso cérebro? 

As demandas físicas exigidas para o trabalho podem ter consequências negativas para a saúde do cérebro, sugere um novo estudo

Por Gretchen Reynolds
Atualização:

Vários estudos mostram que o exercício regular ajuda a fortalecer nossos cérebros e melhorar as habilidades de pensamento. Mas trabalhos fisicamente exigentes, mesmo que sejam realizados em um escritório, podem ter um efeito diferente e oposto, de acordo com um novo estudo de quase 100 pessoas idosas e seus cérebros e históricos de trabalho. 

O estudo apontou que homens e mulheres que consideravam seu trabalho fisicamente extenuante tendiam a ter centros de memória menores em seus cérebros e pontuações mais baixas em testes de memória do que outras pessoas cujos trabalhos pareciam menos desgastantes fisicamente.

Ashley VanHorn, gerente do departamento de uma loja, estoca as prateleiras em Fulton, Nova York. Foto: Roger Kisby The New York Times

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A pesquisa não prova que as demandas físicas no trabalho encolheram os cérebros das pessoas. Mas levanta questões interessantes em relação a se ser fisicamente ativo no trabalho pode ter efeitos diferentes em nosso cérebro do que ser ativo na academia ou fazendo trilhas. 

A maioria de nós provavelmente espera que a atividade física seja um exercício físico e que seus benefícios e impactos sejam os mesmos, não importa onde ou em que condições a atividade ocorra. Mas um crescente número de pesquisas sugere que o contexto é importante.

Em estudos com roedores de laboratório, por exemplo, quantidades semelhantes de exercício podem levar a resultados de saúde contrastantes, dependendo se os animais correm voluntariamente sobre rodas, o que significa que controlam seus próprios treinos, ou são colocados em pequenas esteiras, com pesquisadores manipulando o ritmo e duração de seus esforços. Em geral, os treinos com rodas produzem roedores mais saudáveis do que o treino em esteira.  Alguns estudos com pessoas identificaram uma dinâmica correspondente. Para a maioria de nós, sob a maioria das condições, ser fisicamente ativo reduz o risco de morrer jovem. 

Mas em vários estudos epidemiológicos, as pessoas - e, em particular, os homens - cujos empregos exigem trabalho físico enfrentam riscos elevados de morte prematura, em comparação com aquelas que trabalham em profissões relativamente sedentárias, mesmo quando os pesquisadores controlam fatores como renda, peso corporal, tabagismo e status socioeconômico.

A maioria dos pesquisadores suspeita que o estresse físico e psicológico cumulativo causado pelo esforço no trabalho provavelmente contribui para esse resultado. Mas as causas permanecem desconhecidas. Recentemente, pesquisadores da Universidade do Estado do Colorado em Fort Collins, da Universidade de Illinois, em Urbana-Champaign e outras instituições começaram a se perguntar se poderia haver uma interação semelhante entre a atividade física ocupacional e a saúde do cérebro.

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Uma grande variedade de estudos mostra fortes relações entre trabalhar e cérebros e mentes mais saudáveis, mas sabemos pouco a respeito de como os esforços físicos que fazemos no trabalho também pode influenciar a forma e o funcionamento de nossos cérebros. Então, para o novo estudo, que foi publicado em julho na revista Frontiers in Human Neuroscience, os cientistas se voltaram para um grupo existente de voluntários. Com pelo menos 60 anos, esses homens e mulheres haviam participado alguns anos antes de um estudo neurocientífico envolvendo tomografias, exames médicos, testes cognitivos e questionários em relação aos seus hábitos de exercício e estilo de vida. Todos eram cognitivamente saudáveis para a idade.

Agora, os pesquisadores pediram a essas pessoas que preenchessem questionários detalhados a respeito de seu emprego atual ou mais recente e se estavam desempregados ou aposentados. Os questionários indagavam quanto a profissão e se consideravam seu trabalho exigente fisicamente, ou seja, envolvia, em sua opinião e experiência, algum esforço físico

Os pesquisadores também perguntaram acerca das demandas cognitivas dos empregos - se o trabalho envolvia tomada de decisões, malabarismo de tarefas, planejamento e assim por diante - e condições gerais de trabalho e estresses, como volume de trabalho e relações com colegas de trabalho e chefes. 

Eles receberam questionários preenchidos de 99 deles. Os cientistas compararam suas respostas agora com suas tomografias e resultados de testes cognitivos de alguns anos antes e encontraram algumas relações interessantes. Os pesquisadores esperavam ver ligações entre trabalhos que demandam cognitivamente e maiores volumes no hipocampo das pessoas, que é uma parte do cérebro envolvida na memória e no pensamento. 

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Mas essas ligações não existiam: os pesquisadores não encontraram relações significativas entre o pensamento no trabalho e uma melhor estrutura cerebral ou resultados de testes cognitivos. Eles também não viram associações significativas entre considerar seu local de trabalho psicologicamente estressante e o estado de seu cérebro. Mas havia associações entre as demandas físicas do trabalho e o cérebro. 

Pessoas que relataram que seu trabalho os esgotava fisicamente também são pessoas com volume hipocampal relativamente menor e pontuações mais baixas em seus testes de memória, mesmo depois que os pesquisadores controlaram seus status socioeconômico, renda e se eles se exercitavam fora do horário de trabalho. 

Poucos desses trabalhadores eram trabalhadores braçais. A maioria tinha empregos de escritório. Mas seus cérebros pareciam diferentes se eles sentissem que seu trabalho era fisicamente difícil do que se não sentissem. 

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Fora do trabalho, porém, a mudança era uma vantagem. As pessoas que relataram atividade física regular fora do horário de expediente geralmente tinham maior volume do hipocampo e melhores memórias do que as pessoas sedentárias. Mas a atividade física no trabalho não ampliou esses benefícios; mas os reduziu.

As implicações desses resultados são obscuras, mas preocupantes, disse Aga Burzynska, professora assistente da Universidade do Estado do Colorado, que liderou o novo estudo. É possível que o exercício afete o cérebro de uma forma e “a atividade física ocupacional tenha um efeito diferente” e talvez menos desejável, disse ela. / TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA

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