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Trilha de autores celebra talentos literários do Mississippi

Viajantes do Estado poderão visitar lugares onde escritores como Faulkner, Ward, Eudora Welty e Richard Ford viveram e escreveram

Por Laura M. Holson
Atualização:

Faz tempo que os autores do Mississippi defendem seu espaço no competitivo panorama literário do Sul dos Estados Unidos. William Faulkner ganhou um Prêmio Nobel em 1949 por seu nuançado exame da decadência aristocrática numa pequena cidade do Mississippi. Eudora Welty recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade por seus romances e ensaios. Mais recentemente, a ganhadora do prêmio National Book Award, Jesmyn Ward, explorou o clima sombrio que envolve as questões da pobreza e da raça no estado.

Agora, estes e outros heróis da literatura serão celebrados com a Trilha dos Autores do Mississippi. Em abril, a Comissão das Artes do Mississippi recebeu uma bolsa de US$ 30.000 do Fundo Nacional para as Humanidades para um projeto que cria marcos em homenagem às contribuições dos autores mais destacados do Estado.

Jesmyn Ward, nascida no Mississippi, foi a ganhadora do prêmio National Book Award Foto: James Patterson para The New York Times

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O primeiro lugar a ser assinalado é a casa de Eudora, em Jackson. Foi ali que ela viveu de 1925 até sua morte, em 2001, e foi onde escreveu quase todos os seus contos, ensaios e romances, incluindo “The Optimist’s Daughter", ganhador do Prêmio Pulitzer de ficção em 1973. Sua residência é atualmente um museu.

“A presença do Mississippi é grande no nascimento da cultura americana", disse Malcolm White, diretor-executivo da Comissão das Artes do Mississippi. “Nosso maior patrimônio é nossa história cultural, e a literatura e a escrita fazem parte dela.”

O Mississippi é talvez mais conhecido por sua música, especialmente sua contribuição para os músicos de blues, como BB King e Muddy Waters. E o Estado registrou por escrito sua história (frequentemente violenta) da época da luta pelos direitos civis.

Richard Ford cresceu no mesmo bairro que Eudora, mas quis que o marco em sua homenagem fosse colocado na Biblioteca Pública Carnegie, em Clarksdale. Ford, que vive atualmente no Maine, escreveu seu romance “The Sportswriter”, de 1986, nessa biblioteca (ele também escreveu “Independence Day”, ganhador do Prêmio Pulitzer, em 1995).

Ford disse: “A Biblioteca Carnegie é um refúgio. Eles me proporcionaram um santuário. Quero ser lembrado num lugar que as pessoas procurem para ler livros. A literatura pode ser uma forma de a sociedade lidar com aquilo que não quer lidar".

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Um desses temas é o racismo sistemático, que persiste nos EUA apesar dos avanços conquistados nos anos 1960. 

Jesmyn cresceu em Delisle, pequena comunidade rural não muito distante de Biloxi. Em seus livros mais recentes, “Salvage the Bones” e “Sing, Unburied, Sing", ela explora o desespero e os momentos desoladores da zona rural americana diante de poderosas instituições que se recusam a reconhecer os impactos da pobreza, criminalidade e racismo, especialmente no Mississippi, um dos Estados mais pobres do país.

Eudora Welty escreveu ensaios e romances. Retrato dela nos anos 1930 Foto: Mississippi Department of Archives and History

“Convivemos a vida toda com esses problemas reais e presentes", disse ela a respeito de si e de seus colegas autores. “Nós recusamos essa narrativa.” Ela acrescentou: “Forçamos os leitores a serem mais sinceros em relação ao significado de sermos americanos".

Mas nem todos partilham do otimismo de Jesmyn. Recentemente, a autora Joyce Carol Oates compartilhou no Twitter a foto de um cartaz na Universidade Estadual do Mississippi mostrando uma imagem de Faulkner com a frase “Leiam, leiam, leiam. Leiam tudo…”

Joyce escreveu: “Que engraçado! Se o povo do Mississippi lesse, Faulkner seria proibido".

Jesmyn não gostou do comentário de Joyce e respondeu na mesma rede social. “No Mississippi, há até quem (surpresa!) ESCREVA. Sei que isso pode ser chocante. Consulte as publicações anteriores para saber mais, Joyce.”

Jesmyn disse ter ficado surpresa com a atitude de Joyce, diminuindo o próprio estado natal. “Já somos os últimos ou quase últimos em praticamente tudo", disse ela. “Merecemos ao menos o reconhecimento de nossos talentos literários.”

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