Sem turistas em Nova York, Catedral de São Patrício pede ajuda

Catedral está com dificuldade para pagar as contas enquanto a pandemia mantém os visitantes longe

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Por Liam Stack
Atualização:

NOVA YORK - Faz tempo que a Catedral de São Patrício, uma das igrejas mais famosas dos Estados Unidos, depende dos turistas e funcionários de escritório para manter cheios seus bancos e caixas de doações. Mas agora que o coronavírus deixou a região central de Manhattan praticamente deserta, a igreja enfrenta um rombo orçamentário de US$ 4 milhões que pode ameaçar sua capacidade de pagar as contas.

A catedral fica em uma das áreas menos residenciais da cidade, e seu reitor calcula que 90% das pessoas que costumam aparecer para rezar ali moram longe da igreja. A pandemia manteve os visitantes afastados durante meses, privando a catedral de sua receita e deixando-a encalhada em meio a um oceano de edifícios vazios, hotéis sem hóspedes e lojas de alto padrão cobertas com tapumes.

Lockdown e falta de turistas deixaram a Catedral com as contas desequilibradas. Foto: September Dawn Bottoms/The New York Times

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Apesar das doações, dos recursos federais de auxílio contra o coronavírus e seu status de joia da coroa da poderosa Arquidiocese de Nova York, a situação colocou em risco a capacidade da catedral de pagar despesas operacionais, como as contas de luz e água, bem como o salário de dezenas de funcionários, incluindo músicos que tocam na missa e funcionários da manutenção que limpam e desinfetam os bancos.

“Nunca enfrentamos nada parecido antes", disse o monsenhor Robert Ritchie, reitor da catedral, a respeito do rombo orçamentário, equivalente a cerca de um quarto da renda anual da catedral.

Ele disse que o problema foi agravado pela falta de alternativas de captação de recursos disponíveis em um momento em que reuniões sociais estão sujeitas a restrições de saúde pública.

“Todas as atividades tradicionais às quais recorríamos, jantares e coisas do tipo, estão proibidas", disse ele. “A alternativa é mendigar, que é o que temos feito desde 15 de março.”

A Arquidiocese de Nova York se estende de Staten Island até o Vale do Hudson, excluindo o Brooklyn e o Queens, e mais da metade de sua população é católica. É um dos distritos mais populosos e influentes da igreja nos EUA. Mas a região em torno da Catedral de São Patrício foi transformada pela pandemia.

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Lojas como a Saks Fifth Avenue, logo ao sul da igreja, foram cobertas com tapumes durante os episódios de saque que mancharam os protestos contra a injustiça racial em junho. Do outro lado da Quinta Avenida fica a habitualmente movimentada praça do Rockefeller Center, onde as multidões se tornaram coisa do passado e a estátua de Prometeu se equilibra no rinque de patinação no gelo usando uma máscara no rosto.

A arquidiocese não paga pela manutenção da catedral e, na verdade, o fluxo é o contrário: a Catedral de São Patrício é organizada como paróquia, semelhante a uma igreja de bairro em uma área mais residencial, pagando um imposto de 8% à arquidiocese.

Como qualquer outra paróquia católica, para pagar as contas, a catedral depende muito das doações recebidas durante a missa. Em um domingo comum, cerca de 12 mil a 15 mil pessoas frequentam a missa na nave principal. Antes da pandemia, a renda obtida a partir de diferentes fontes completava a soma de aproximadamente US$ 1 milhão por mês, disse Ritchie.

“Confiamos na bondade e na generosidade das pessoas para o nosso sustento, pois não recebemos dinheiro de nenhuma outra fonte além daquilo que entra pela nossa porta", disse ele.

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Mas a Catedral de São Patrício - inaugurada em 1879, época de amplo anticatolicismo e crescente imigração católica proveniente de países como Irlanda e Itália - também dependeu do governo federal.

Dados federais mostram que a igreja recebeu entre US$ 350 mil e US$ 1 milhão por meio do Programa de Proteção à Renda, fundo de US$ 659 bilhões criado pelo congresso para ajudar empresas e organizações sem fins lucrativos, incluindo instituições religiosas, a preservarem seus funcionários durante a crise econômica causada pela pandemia do coronavírus.

Ritchie disse que o empréstimo foi inferior a US$ 1 milhão, mas não quis revelar o valor exato, dizendo acreditar que a arquidiocese não queria que o número se tornasse público.

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O monsenhor disse que o crédito federal ajudou a catedral a evitar dispensas e demissões no seu grupo de 50 a 80 funcionários, incluindo pessoal de manutenção e segurança, funcionários da loja de lembranças e quatro músicos assalariados.

“Aceitamos o empréstimo para não termos que demitir ninguém, e não demitimos ninguém", disse o monsenhor.

Outro empréstimo de US$ 1 milhão a US$ 2 milhões foi oferecido à Sociedade Mantenedora da Catedral de São Patrício, descrita por Ritchie como uma entidade distinta encarregada da manutenção do exterior da catedral e da gestão de vários cemitérios grandes pertencentes a ela na região.

Menos de 400 pessoas assistiram as primeiras duas missas no domingo de reabertura da Catedral. Foto: September Dawn Bottoms/The New York Times

Mais de 5 milhões dos visitantes anuais da Catedral de São Patrício são turistas, disse o monsenhor. O maior público é visto no Natal, quando uma imensa árvore é erguida no Rockefeller Center, e há multidões grandes na Páscoa e durante o verão.

Muitos visitantes compram lembranças na loja da catedral, deixam uma doação sugerida de US$ 2 em uma caixa para acender uma vela, ou baixam guias de áudio para uma visita individual ao custo de até US$ 25.

De acordo com o monsenhor, a receita da loja de lembranças, que costuma responder por 10% da renda mensal da catedral, teve queda de 80% desde o início da pandemia.

A catedral costuma ganhar entre US$ 2 milhões e US$ 4 milhões ao ano com o dinheiro doado para as velas acesas e as preces. Essa receita também parece ter encolhido.

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“A temporada de Páscoa foi literalmente vazia, pois a igreja ficou fechada até junho", disse o monsenhor. “Suspeito que a temporada de verão terá volume de visitantes muito inferior ao habitual e, por isso, seguiremos pedindo aos nossos amigos que nos ajudem a manter as portas abertas.”

Nos meses transcorridos desde o início da pandemia, Ritchie disse que a receita da catedral teve queda de aproximadamente 35%. De acordo com ele, as doações tiveram queda de 80% a 85%, mas esse tombo foi compensado pelas doações de “benfeitores" generosos que ele não quis identificar.

Em entrevista, ele fez alusão à ajuda oferecida pelos membros do conselho da associação mantenedora, que inclui executivos influentes nas relações públicas, finanças e mercado imobiliário.

A missa de domingo foi retomada na catedral no dia 28 de junho, primeiro domingo depois do anúncio da fase dois do plano de reabertura da cidade após o coronavírus, mas o número de missas na catedral foi reduzido de oito para três, e o público foi limitado em 25% da capacidade máxima.

Essas restrições limitam o número de fiéis presentes de 15 mil para até 1.800, embora menos de 400 pessoas tenham frequentado as duas primeiras missas de domingo, uma delas celebrada pelo cardeal Timothy Dolan.

A retomada limitada das missas de domingo não ajudou muito a solucionar a crise financeira. O monsenhor disse que a catedral obteve ao todo US$ 15 mil nas duas primeiras semanas, sendo que a renda semanal anterior chegava a US$ 150 mil em tempos de normalidade. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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