DENVER, COLORADO – Quando Julia Ellis chega à estação de trem, em um subúrbio de Denver, para ir ao trabalho, usa o seu aplicativo da Uber para comprar uma passagem da rede pública. Ellis, de 54 anos, disse que usa o sistema para comprar suas passagens de trem desde que a companhia adotou o aplicativo, no início do ano. E muitas vezes ela vai de Uber até a estação. “Basta clicar duas vezes e você está lá”, disse, mostrando que o app e as ferrovias de Denver mudaram a sua rotina de transporte para ir ao trabalho.
Hoje, a companhia busca um crescimento maior, e se associou às agências de trânsito e ao sistema de transporte público dos Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha e Austrália para a compra de passagens, para o transporte de pessoas com necessidades especiais ou mesmo para substituir completamente o sistema de transportes públicos.
Prejuízo
Desde 2015, a Uber concluiu mais de 20 contratos de trânsito. A iniciativa é defendida por Dara Khosrowshahi, sua diretora executiva, que concebeu o serviço como um guichê único para viajar de carro, bicicleta, motoneta, ônibus e trem. Isto deveria atrair mais clientes para a empresa, no entanto, esta está estudando como poderá ganhar dinheiro. Recentemente, a companhia declarou o seu maior prejuízo em um trimestre, US$ 5,2 bilhões, e o menor crescimento do faturamento.
A Uber estabeleceu como meta que seria capaz de fornecer transportes mais baratos e mais flexíveis, principalmente em lugares onde o transporte público é escasso. Mas mesclar o serviço de táxi com os seus outros serviços não agradou a algumas autoridades municipais. “Há dúvidas reais quanto à constituição de parcerias que poderão tirar os clientes dos transportes públicos”, afirmou Adie Tomer, da Brookings Institution de Washington, que estuda ao utilização da infraestrutura. “É perigoso para as agências de transportes fazer acordos com empresas de compartilhamento de táxi”.
A Lyft também entrou no transporte público. Ela começou oferecendo corridas gratuitas até uma estação de trem em um bairro de Denver, em 2016. Atualmente, ela tem 50 parcerias no ramo de transportes nos Estados Unidos, incluindo uma parceria com o metrô de Los Angeles na qual os usuários do pool de táxis da Lyft podem ganhar créditos gratuitos para a utilização do transporte público.
Venda de passagens
As parcerias do Uber com o transporte público variam de um lugar para outro. Mas, na maioria dos acordos, as prefeituras usam a rede de motoristas da companhia para fornecer corridas em áreas que não tem rotas de ônibus confiáveis. As prefeituras às vezes subsidiam as corridas de modo que os passageiros pagam o correspondente a uma viagem de ônibus e não uma taxa típica do Uber. Este ganha em geral um subsídio do departamento dos transportes, uma quantia do usuário ou ambas as coisas.
Em Denver, a parceria se concentra na venda de passagens e não nas corridas de automóvel. Graças ao aplicativo do Uber, os usuário têm agora uma nova maneira de comprar passagens e receber informações sobre os horários de trens e ônibus. O Uber não ganha dinheiro com a venda de passagens, mas se beneficia quando quem compra bilhetes, como Ellis, recorre ao aplicativo para solicitar uma corrida da estação de trem até o seu destino.
Uma cidade que vem utilizando o Uber como alternativa ao transporte público é Innisfil, Ontário. Em 2017, um consultor disse à prefeitura da cidade, que tem mais de 37 mil habitantes, que custaria cerca de 35 dólares canadenses, ou cerca de US$ 26 por corrida em subsídios, para implantar uma linha de ônibus que cobrisse apenas 5% da sua geografia com 16 mil corridas ao ano.
O sistema de transporte privado urbano ofereceu a Innisfil corridas mais baratas que poderiam ir para vários lugares em vez de percorrer um trajeto fixo. A companhia agora oferece aos moradores corridas de táxi em lugar de uma rede de ônibus. Innisfil paga à Uber cerca de 9 dólares canadenses, ou US$ 7 por passageiro. “Grandes prefeituras às vezes veem o transporte compartilhado como um inimigo porque está tirando usuários do seu sistema”, disse Lynn Dollin, prefeita de Innisfil. “Nós adotamos uma estratégia diferente”. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA