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Uma nova onda migratória, agora, rumo à Filadélfia

Imigrantes estão deixando Nova York em busca de um ambiente pacato e de aluguéis mais baixos

Por Matt Katz
Atualização:

Na oficina em que Brian Christopher produz seus móveis de madeira, o odor é, ao mesmo tempo, convidativo e inusitado. "É uma mescla agradável de serragem, que eu já não sinto mais, e o aroma da padaria do outro lado do corredor, onde croissants são assados ao longo do dia", explicou Christopher.

As aparas de carvalho americano no chão da loja de Christopher, Bicyclette, em que trabalha sozinho, e os pães do outro lado do corredor criam uma fusão de aromas que impregna o ambiente no terceiro andar de um antigo colégio vocacional no lado sul de Filadélfia, conhecido como Bok.

Um grupo de dança chinês na Filadélfia, onde os imigrantes constituem 20% da força de trabalho. Foto: Michelle Gustafson para The New York Times

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Christopher morava em Nova York e trabalhava em Hoboken, Nova Jersey, antes de se mudar para a Filadélfia. Uma vez lá, alugou um apartamento pela metade do preço que pagava anteriormente e viu seu negócio crescer no Bok, um complexo que ocupa uma quadra inteira e fervilha de empreendimentos comerciais. 

"Se há uma coisa sobre 'philly' que me agrada é seu ritmo um pouco menos agitado", comentou. "A gente sente que pode reduzir o ritmo e se divertir um pouco mais".

A migração de Nova York para a Filadélfia existe há muito tempo. Mas a história dos artesãos expulsos de Nova York por causa do custo de vida não é a mesma. Há outro tipo de transplante de Nova York que agora se espalha até Filadélfia.

Na mesma rua do Bok, Kin Yeung, que terminara suas orações no Templo Zhen Ru, contou uma história paralela. Em 2003, ela morava no bairro nova-iorquino de Chinatown e visitava regularmente a Filadélfia para ir a este templo budista chinês. Logo, conseguiu economizar com seu trabalho em restaurantes de Nova York dinheiro suficiente para comprar uma casa em Filadélfia. Agora, ela é dona de quatro imóveis, que aluga frequentemente a pessoas que deixaram Nova York. 

"Atualmente, as pessoas não podem pagar os preços do aluguel de um imóvel em Nova York. É caro demais. Ninguém consegue viver lá!", contou.

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Kin faz parte de uma onda sossegada de imigrantes que viveram por algum tempo em Nova York, antes de encontrar uma cidade menos cara a uma hora e 45 minutos de carro. Essas pessoas nascidas no exterior que trabalhavam em Nova York contribuem para dar vida a novas empresas, restaurantes e bairros da Filadélfia com uma diversidade que somente agora começa a chamar a atenção.

Além dos aluguéis mais razoáveis, a Filadélfia deixou de ser uma utopia para os imigrantes. Segundo divulgado recentemente, o Departamento de Imigração e Fiscalização Aduaneira, sediado na Filadélfia, é um dos mais agressivos do país, com muitas prisões de imigrantes sem antecedentes criminais. Mas as autoridades locais têm tido algum sucesso contra as deportações.

No bairro ao redor do Mercado Italiano, na Filadélfia, moram 20 mil mexicanos. Foto: Michelle Gustafson para The New York Times

A população da cidade está crescendo pela primeira vez em dezenas de anos, impulsionada pelos imigrantes e pela geração do milênio atraída pelo luxo de poder morar, trabalhar e se divertir sem precisar de grandes deslocamentos.

O número de moradores nascidos no exterior aumentou 69% desde 2000, segundo um estudo da Pew Charitable Trusts, e agora os imigrantes constituem cerca de 20% da força de trabalho da cidade. Muitos chegam via Nova York.

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O Bok tem bares na cobertura dos prédios com uma ampla vista do bairro com suas casas geminadas, onde os camelôs no Mercado Italiano de rua ainda queimam papelão nas latas de lixo para se aquecerem no inverno. Mas espalhadas por toda a antiga comunidade italiana há dezenas de taquerias e, ao que se calcula, vinte mil moradores mexicanos. Também imigrantes da África Ocidental agora jantam em restaurantes halal e russos compram comidas típicas no supermercado NetCost no bairro de Bustleton.

Segundo o censo, cerca de 27 mil pessoas se mudam todos os anos de Nova York para a Filadélfia, em um dos maiores fluxos migratórios entre áreas metropolitanas.

O haitiano Sylva Senat, que chegou à Filadélfia via Nova York, testemunha este renascimento do deck de seu restaurante de inspiração francesa, o Maison 208, na cobertura. Quando trabalhava como chef em Nova York, Sylva também passava algum tempo na Filadélfia - ele tem uma irmã e um irmão que vivem na cidade. "Eu me apaixonei pela Filadélfia", explica.

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Ele e a esposa compraram um apartamento na Cidade Velha. "Somos definitivamente nova-iorquinos de coração, gostamos da atividade intensa e gostamos do ritmo frenético. Mas quando chegamos à Filadélfia pensamos, 'tudo bem, nem todas as grandes cidades são enlouquecedoras como Nova York, e nem precisam ser assim para exibirem toda a sua grandeza'".

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