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Uma versão diferente e atual do musical 'Oklahoma!'

Espetáculos clássicos, mas nada segundo o conceito de Gilbert e Sullivan

Por Laura Collins-Hughes
Atualização:

ASHLAND, Oregon - A ideia foi de Bill Rauch, no início dos anos 90: que tal dirigir uma produção de “Oklahoma!” de Rodgers e Hammerstein, em que os amantes fossem casais do mesmo sexo?

Gay, com um relacionamento sério em uma época em que o casamento entre pessoas do mesmo sexoparecia um sonho impossível, ele tinha certeza de que isto seria algo revelador. E também tinha certeza de que nunca conseguiria os direitos para encenar o musical daquela maneira.

Uma versão diferente e atual do musical “Oklahoma!” / Jenny Graham/Oregon Shakespeare Festival Foto: Jenny Graham/Oregon Shakespeare Festival

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Por mais de 20 anos, sequer ousou perguntar.

Mas dois anos atrás, no Festival Shakespeare de Oregon, onde ele é o diretor artístico, Rauch assistiu a uma versão do seu conceito. No palco, atores em trajes de época fizeram uma leitura pública de “Oklahoma!” em que Curly e Laurey, o casal central, eram mulheres. O romance secundário se desenrolava entre dois homens, Will Parker e Ado Andy (anteriormente Ado Annie).

Na plateia estava Ted Chapin, há muito tempo o supervisor do catálogo de Rodgers e Hammerstein, que ouvira o tom nervoso de Rauch e dera um cauteloso sinal verde.

Assim que o espetáculo acabou, Chapin começou a falar sobre o futuro do show.

“Eu disse: ‘Espera um pouco. Nós vamos poder fazer isto?’ ”, falou Rauch. “E ele respondeu:  ‘Perfeitamente!’ ”

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Chapin jamais se oporia a uma jogada artística inteligente, e foi isto que se tornou “Oklahoma!” - agora em sua produção integral. Desde a estreia em abril, em Ashland, tem sido um sucesso, com o Angus Bowmer Theater, de 600 lugares, lotado, onde irá até 27 de outubro.

Apresentado no 75º aniversário da estreia do musical na Broadway, “Oklahoma!” de Oregon se atém ao máximo ao original. A alteração dos gêneros e das orientações sexuais faz com que os seus elementos familiares - como o balé do sonho sombrio de Agnes de Mille, em que Laurey é perseguida por um novo tipo de terror - reverberem de maneiras surpreendentes, enquanto o espetáculo defende o conceito de que o amor é amor.

Quando Will pede a monogamia a Andy, que costuma ser habitualmente disponível, isto tem um peso diferente comparado a outras produções, em que Will pede o mesmo a Annie. Entretanto a Tia Eller, que é uma mulher transgênero, interpretada por uma mulher transgênero, como acontece na encenação de Rauch, ainda é a querida Tia Eller de Laurey.

Em todo o país, outras produções levarão o musical pioneiro de 1943 para direções inusitadas. O diretor contemporâneo Daniel Fish prepara uma “Oklahoma!” multimídia reduzida, que estreará no dia 27 de setembro em Nova York.

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Sempre em setembro, Chris Coleman, o novo diretor artístico do Denver Center for the Performing Arts Theater Company, levará ao palco uma “Oklahoma!” ambientada em uma cidade exclusivamente de negros, como as que existiam no território na virada do século 20.

A audaciosa reinvenção é mais do que perfeita com Chapin, cujo trabalho tende para clássicos como “Carousel”, “O Rei e Eu”, “South Pacific” e “Cinderela”. Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, afirma, assumiram riscos em cada um destes espetáculos.

“Há pessoas que acham que eles precisam ser feitos exatamente como eram originalmente - acho que segundo o conceito de Gilbert e Sullivan”, ele disse. “Ocorre que o conceito de Gilbert e Sullivan está morto”.

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Chapin é o especialista de plantão. O catálogo não pertence á família desde 2009, quando foi vendido a uma companhia holandesa, que por sua vez o vendeu no ano passado à Concord Music, uma companhia americana.

Quando Chapin viu o espetáculo de Rauch, ficou muito satisfeito: “Fiquei sentado lá pensando: ‘Isto não aconteceria cinco anos atrás. Não poderia acontecer há dez anos. Esta é uma produção para os dias de hoje”.

Rauch, que daqui a um ano, aproximadamente, deixará o Oregon Shakespeare Festival para assumir o cargo de diretor artístico fundador do novo Perelman Center de Nova York, gostaria que o seu Oklahoma!” também fosse uma produção para o futuro.

“Eu disse a Bill: ‘Há lugares neste país que provavelmente o linchariam se você fizesse isto’,” disse Chapin, “Mas sabe, talvez não”.

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