Museu abre as portas para fortalecer a campanha de vacinação contra a covid na Itália

Diretora de centro de arte contemporânea vê medida como uma forma de aliviar a alma e a mente juntamente com o corpo

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Por Elisabetta Povoledo
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ROMA – Os visitantes do site de um dos mais famosos museus de arte contemporânea recebem um duplo convite ao entrar recentemente: “Reserve a sua visita com antecedência” e “Reserve a sua vacinação”. Castello di Rivoli, outrora um palácio da dinastia dos Saboia, tornou-se recentemente um dos vários museus italianos a aderir à vacinação no país, seguindo o exemplo de outras instituições culturais de toda a Europa.

Com a conclamação de “A Arte Ajuda”, o museu nas proximidades de Turim reservou suas galerias do segundo andar para um centro de vacinação gerido pelas autoridades de saúde locais. Durante as aplicações, os pacientes podem desfrutar das pinturas murais da artista suíça Claudia Comte.

Um paciente recebe uma vacina COVID-19 no Castello di Rivoli, um museu de arte contemporânea em Rivoli, Itália, em frente a uma pintura de parede de Claudia Comte, uma artista suíça. Foto: Alessandro Grassani/The New York Times

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Comte trabalhou com o compositor Egon Elliut na criação de “uma paisagem sonora que evoca uma sensação de sonho”, explicou a artista. E acalma as pessoas enquanto elas andam de sala em sala antes e depois da dose. “A arte tem um efeito extraordinariamente importante de bem-estar”, segundo Carolyn Christov-Bakargiev, diretora do museu.

Ela disse que não poderia ter encomendado um pano de fundo “mais perfeito” do que as obras de Comte para um “espaço que junta a arte de cura do corpo e a arte de cura da alma e da mente”, observando que em italiano as palavras “curar” e “curador” vieram do mesmo termo latino, “curo”. Na história, prosseguiu, alguns dos primeiros museus eram antigos hospitais.

As primeiras pessoas a serem vacinadas no Castello di Rivoli estavam plenamente de acordo com ela. Atualmente, somente as pessoas que vivem na área servida pelas autoridades locais de saúde podem se vacinar neste lugar. Como Patrizia Savoia, uma aposentada que mora a poucos metros de distância.

“A ansiedade de receber uma dose desapareceu nestas maravilhosas salas, cercadas pela música”, ela disse. “Foi muito relaxante.” A mostra de Comte – How to Grow and Still Stay the Same Shape [Como crescer e ainda permanecer da mesma forma, em tradução livre] – foi inaugurada em 2019 e deveria fechar em fevereiro do ano passado. Em vez disso, os gigantescos murais, inspirados em parte em alguns dos motivos decorativos do edifício do século 18, passaram a constituir “a mostra mais longa da história do Castello”, disse a diretora.

Castello di Rivoli, um museu de arte contemporânea utilizado como local de vacinação contra a covid-19 na Itália. Foto: Alessandro Grassani/The New York Times

A mostra que deveria tomar o seu lugar, do artista nigeriano Otobong Nkanga, sediado em Antuérpia, foi adiada para o final de setembro. O artista se mostrou “extremamente colaborativo”, segundo Christov-Bakatgiev. “Eu telefonei pensando: “O que ela irá responder?”. Ela ficou superfeliz e falou: “Está brincando? Estou muito feliz pelo fato de os espaços serem usados para um centro de vacinação”.

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Falando de Madri, onde estava para a instalação de uma mostra no Museu Nacional Thyssen-Bornemisza, Comte disse que estava feliz por sua obra de arte ganhar uma vida dupla. “Adoro imaginar as pessoas entrando e tendo realmente esta experiência audiovisual total,” ela disse. Uma peça de desempenho que Comte havia planejado para a mostra do Rivoli foi cancelada por causa da pandemia.

Portanto, ela viu as pessoas chegando para serem vacinadas contra o pano de fundo dos seus murais, como “para ativar o espaço de uma maneira mais completa e mais significativa”. “O que os artistas deveriam fazer é falar pelo nosso tempo”, ela acrescentou. “Direto ao ponto”.

Marco Bottaro, um funcionário de escritório que mora em Grugliasco, uma cidade próxima, recebeu a vacina. “Foi uma experiência impressionante”, afirmou. Embora ele tenha apenas 27 anos, pôde ser vacinado porque vive com o pai, que tem problemas cardíacos.

Como muitos que cresceram não muito distantes do Castello, ele o visitava com frequência nos passeios da escola. “Com os tempos que estamos vivendo, em que as pessoas estão preocupadas em geral, chegar a Rivoli e encontrar um ambiente relaxante foi incrível”, afirmou. Christov-Bakargiev disse que teve a ideia de usar o museu desta maneira depois da morte de Fiorenzo Alfieri, o presidente do museu. Ele morreu de covid em dezembro, quando o museu estava fechado. No ano passado, a frequência caiu 70% e o museu perdeu 1 milhão de euros.

O museu se juntou à campanha de vacinação da Itália, uma forma de curar a alma e a mente junto com o corpo, disse seu diretor. Foto: Alessandro Grassani/The New York Times

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“Pensei que se o museu precisa estar fechado para o público, pelo menos nós podemos prestar um serviço à comunidade, um serviço que possa resolver a pandemia”. Levou vários meses – principalmente por causa da escassez de vacinas – até que o centro finalmente abrisse no dia 29 de abril. No meio tempo, outros museus italianos aderiram à ideia.

Em Nápoles, por exemplo, as doses são aplicadas no museu contemporâneo da cidade, Madre, que montou uma mostra especial com obras de arte da coleção; os cidadãos também são chamadas para serem vacinados no museu Capodimonte com o slogan: “Deixe-se contagiar pela beleza”. Em Milão, as doses estão sendo aplicadas à sombra da imponente instalação de Anselm Kiefer, Sete torres celestiais, no Hangar Bicocca da Pirelli.

O prefeito de Rivoli, Andrea Tragaioli, disse que estava ansioso por vacinar o máximo possível de pessoas e que o museu era um feliz acréscimo ao hospital da cidade, o outro centro. “O Castello é conhecido no mundo inteiro. É um motivo de orgulho para nós”, afirmou.

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A equipe do Castello foi treinada para receber especialmente os que vêm para o centro porque poderiam ficar ansiosos, disse a diretora. “Queremos que as pessoas sintam que estão contribuindo para uma causa maior, que é a causa coletiva e social de sair da pandemia”, acrescentou. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

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