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Velejadores testam limites da solidão em prova ao redor do mundo

Competidores da Golden Globe Race enfrentam meses de isolamento e tempestades em alto mar

Por Chris Museler
Atualização:

Em 1968, nove velejadores zarparam para competir na Sunday Times Golden Globe Race, a primeira competição solo, sem escalas, ao redor do mundo. Eles rumavam para o desconhecido, sem a menor ideia de como seus barcos ou as suas mentes se comportariam em quase um ano de isolamento.

Algumas embarcações apresentaram problemas, e tiveram de desistir da disputa. Houve velejadores que não suportaram a tensão emocional. Um deles, Donald Crowhurst, tentou fraudar na prova, e depois simplesmente desapareceu, abandonando o barco no Atlântico. Robin Knox-Johnston foi o único que a concluiu, depois de navegar por 312 dias.

O francês Jean-Luc Van Den Heede ganhou o troféu Golden Globe em janeiro. Foto: Sebastien Salom Gomis/Agence France-Presse

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Para celebrar os 50 anos da competição, foi planejada outra Golden Globe Race. A moderna Golden Globe Race, no entanto, não foi menos difícil. Em julho do ano passado, 17 veleiros de 11 metros de comprimento partiram de Les Sables-d'Oloonne, na França. Até hoje, dois deles retornaram. Somente três continuam na disputa, e um está a alguns meses da linha de chegada. Os outros abandonaram seus barcos quando faltavam 24 mil quilômetros, no Oceano Índico.

"Os que terminaram a competição não foram tantos quanto havíamos pensado", disse Don McIntyre, um dos fundadores.

A competição foi criada para promover a navegação a vela no oceano para o velejador médio, em pequenos barcos com orçamentos modestos. Os competidores não podem usar o piloto automático elétrico e valem-se apenas da força dos ventos para se deslocar. Só é permitida a comunicação por rádio. Para a navegação, são usados os sextantes.

O piloto da Marinha indiana Abhilash Tomy feriu gravemente a coluna quando seu barco perdeu o mastro entre o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, e a Austrália, um dos lugares mais remotos do planeta. Susie Goodall foi resgatada no início de dezembro depois que seu barco perdeu o mastro. Sem motor ou instrumentos eletrônicos, ela pediu socorro e foi retirada de seu barco inundado por meio do guindaste de um cargueiro que passava.

Mark Slats, um dos dois velejadores que terminaram a prova, contou que as tempestades pareciam não ter fim e que os concorrentes buscavam um a ajuda do outro, um luxo que Knox-Johnson não teve no primeiro Golden Globe.

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"A disputa teve um aspecto bastante humano", disse Slats. "Nós procuramos realmente sobreviver juntos graças ao rádio".

McIntyre explicou que vários competidores não estavam preparados para o isolamento a que disputa os obrigava. "Estes velejadores pertencem a um mundo diferente do de 1969. Hoje, estamos muito acostumados a viver conectados. Alguns não suportaram esta situação", disse.

No dia 29 de janeiro, o francês Jean-Luc Van Den Heede, que participou de várias disputas ao redor do mundo, ganhou o troféu Golden Globe ao terminar a prova em 211 dias, 23 horas e 12 minutos. Aos 73 anos, ele é a pessoa de mais idade a completar a navegação solo e sem escalas.

"Sua mente nunca mais será a mesma depois disso", afirmou Van Den Heede. "Você aprende a ser otimista, a levar a vida como ela é. Sozinho você tem muito tempo para pensar, para refletir sobre sua vida".

A Golden Globe Race agora é disputada a cada quatro anos. Apesar de seu acidente no mar, Tomy ainda pretende competir na de 2022. A própria Susie Goodall informou que está interessada em velejar de novo.

"Algumas pessoas vivem pelo prazer da aventura. É da natureza humana", disse ela, depois de ser resgatada. "Para mim, o mar é uma aventura".

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