AIEA teme que Irã esteja preparando ogiva nuclear

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Por MARK HEINRICH
Atualização:

A agência nuclear da Organização das Nações Unidas (ONU) teme que o Irã esteja trabalhando para desenvolver uma carga nuclear para um míssil, segundo relatório confidencial obtido nesta quinta-feira pela Reuters. O texto da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirma também que o Irã produziu seu primeiro lote, ainda pequeno, de urânio enriquecido a 20 por cento, sem ter avisado com a antecedência devida aos inspetores internacionais. O Irã anunciou na semana passada que havia passado a enriquecer urânio até um grau de pureza de 20 por cento, para uso em um reator de pesquisas médicas. Até então, o país enriquecia urânio apenas até 3,5 por cento. Para uso em armas nucleares, é preciso uma pureza de cerca de 90 por cento. Tanto o enriquecimento adicional quanto a notícia sobre ogivas nucleares devem alimentar preocupações no Ocidente quanto às verdadeiras intenções do programa atômico iraniano, apesar de Teerã insistir no seu caráter pacífico, para geração de eletricidade e fins científicos. A AIEA há anos investiga relatos de governos ocidentais indicando que o Irã tem esforços coordenados para processar urânio, testar explosivos em alta altitude e adaptar o cone de um míssil balístico para que possa receber ogivas nucleares. Em 2007, no entanto, os EUA avaliaram que o Irã havia abandonado tais atividades em 2003 e, provavelmente, não as retomaria. Importantes aliados ocidentais, porém, acham que o Irã manteve o programa --e o relatório da AIEA representa um inédito aval independente a essa teoria. "A informação disponível para a agência é extensa (...), amplamente consistente e crível em termos de detalhes técnicos, do cronograma em que as atividades são conduzidas e das pessoas e organizações envolvidas", disse o relatório. "Tudo isso desperta preocupações sobre a possível existência no Irã de atividades não reveladas, passadas ou atuais, relacionadas ao desenvolvimento de uma carga nuclear para um míssil." Com termos excepcionalmente duros, foi o primeiro relatório da AIEA sobre o Irã desde a posse do novo diretor geral da instituição, Yukiya Amano, considerado mais inclinado a confrontar o Irã do que seu antecessor, Mohamed ElBaradei. O relatório, que será avaliado em um encontro entre os dias 1o e 5 de março pelos 35 países que formam a direção da AIEA, apontou que com o passar do tempo tem ficado mais difícil obter informações sobre o programa nuclear iraniano, e que, portanto, é essencial que Teerã coopere "sem mais delongas" com os investigadores da agência. O Irã alega que as acusações ocidentais sobre o desenvolvimento de ogivas atômicas são inventadas, mas não conseguiu provar o contrário. O país passou 18 meses evitando contatos com a AIEA a respeito desse assunto.

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