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Brasil e Turquia denunciarão EUA e aliados ao Conselho da ONU

Segundo países, Washington não deu prazo para Irã implementar acordo e impôs sanções precipitadamente

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

BRASÍLIA- O Itamaraty não escondeu nesta terça-feira, 18, a sua indignação com a atitude dos Estados Unidos de ignorar o acordo extraído pelo Brasil e a Turquia do governo iraniano e enviar uma proposta de novas sanções contra o Irã ao Conselho de Segurança das Nações Unidas. Como reação, os chanceleres do Brasil e da Turquia encaminharão nesta semana uma carta a cada membro do Conselho.

 

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No texto, que na prática funcionará como uma denúncia da posição dos Estados Unidos e aliados, Brasil e Turquia defenderão que o acordo traz exatamente os termos exigidos por essas potências e censurarão o fato de Washington não ter dado um prazo para que o Irã pudesse colocá-lo em marcha antes de colocar a máquina das sanções em ação.

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"O acordo (de Teerã) é o acordo que eles propuseram. Nós (Brasil e Turquia) apenas estávamos viabilizando uma maneira de chegar ao acordo que estava sobre a mesa. Todas as dificuldades foram superadas", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. "Recusar o acordo não é uma atitude construtiva", arrematou, para em seguida admitir que essa reação poderá "melindrar" o Irã.

 

Segundo o chanceler, as negociações conduzidas pelas delegações turca e brasileira no último final de semana permitiram eliminar todas as resistências e novas exigências do Irã em relação à proposta de acordo de outubro do ano passado.

 

Conforme argumentou, o governo iraniano aceitou o depósito de 1.200 quilos de urânio levemente enriquecido na Turquia em um prazo de 30 dias e o recebimento, um ano depois, dos elementos combustíveis para o reator de Teerã.

 

O Irã, portanto, recuou em sua exigência de que a troca fosse simultânea. Segundo Amorim, o governo iraniano também se dispôs a informar à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) em uma semana sobre o acerto e a dar continuidade às negociações para a recuperação da confiança internacional na finalidade pacífica de seu programa nuclear. Da mesma forma, acatou a presença de inspetores da AIEA - imposição implícita no texto do acordo e que significa uma garantia clara de que  o Irã não enriquecerá urânio a 20%.

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Na avaliação de Amorim, o acordo de Teerã pode ser considerado um "passaporte para uma solução negociada e pacífica". Nesse sentido, o mínimo esperado dos EUA e de seus aliados seria uma manifestação de boa vontade, que poderia ser traduzida no prazo de pelo menos um mês para que o Irã cumprisse os termos iniciais do acordo.

 

"Ignorar o acordo é desprezar a busca de uma solução pacífica e negociada", declarou Amorim. "Nenhum especialista do país mais anti-Irã do mundo acha  que o Irã pode fazer uma bomba atômica em um mês", reagiu.

 

Amorim decidiu retornar hoje a Brasília, inesperadamente. Sua agenda para os próximos dias previa a tarefa de acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Cúpula Iberoamericana, em Madri, e em visita bilateral a Lisboa. Ainda hoje, conversou com os ministros de Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, e da China, Yang Jiechi, cujos governos acataram a proposta de resolução com novas sanções ao Irã. Diante da imprensa, Amorim preferiu não confrontar com as decisões da China e da Rússia.

 

Insatisfação

 

A embaixadora do Brasil na ONU, Maria Luiza Ribeiro Viotti, também deixou claro que não ficou satisfeita com os Estados Unidos e seus aliados terem aparentemente ignorado o acordo firmado com o Irã em conjunto com a Turquia.

 

"O Brasil não se envolverá em nenhuma discussão sobre a resolução neste ponto porque sentimos que há uma nova situação", disse a embaixadora.

 

"Houve um acordo ontem que foi muito importante, acrescentou".

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Com informações da Reuters

 

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