BRASÍLIA- O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira, 21, que "o Brasil fez o que tinha que fazer" com relação às tentativas de mediar acordo envolvendo o programa nuclear do Irã.
"Precisava o Irã sentar à mesa. Nós fomos lá e provamos que somos capazes de convencer o Irã a sentar à mesa. Mas eu acho que os outros resolveram punir o Irã. Nós fizemos o nosso papel", disse Lula, ao ser questionado pela imprensa sobre a entrevista do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao Financial Times, na qual o ministro admite que o Brasil não tentará mais mediar a questão, após os Estados Unidos rejeitarem o acordo fechado entre Irã, Turquia e Brasil.
"Não vamos novamente ter uma posição proativa (em relação à negociação iraniana), a não ser que sejamos solicitados", disse Amorim ao FT. Segundo o ministro, o Brasil acabou prejudicado "por fazer coisas que todos afirmavam ser positivas". "Ao final, descobrimos que tem gente que não sabe receber "sim" como resposta", alfinetou o chanceler.
Uma autoridade americana que pediu anonimato comemorou a declaração de Amorim. "Não vejo o Brasil e a Turquia em uma posição de exercer essa mediação", disse ao Financial Times. "Por terem votado contra as sanções da ONU, eles não são mais realmente neutros."
De acordo com o Itamaraty, o Brasil foi incentivado pelo próprio presidente Barack Obama a selar o acordo de 17 de maio, que previa a troca na Turquia de 1.200 quilos de urânio iraniano por 120 quilos de combustível nuclear. Obama teria afirmado - por meio de cartas vazadas à imprensa pelo governo brasileiro - que o compromisso seria um sinal positivo, embora insuficiente para fazer os EUA desistirem de novas sanções a Teerã.
Mas, após o pacto ser firmado, a diplomacia americana adotou posição oposta. Washington justificou seu ceticismo em relação ao acordo afirmando que a rápida ampliação dos estoques iranianos de urânio praticamente anulava o impacto da troca sobre o avanço de Teerã em direção à bomba.
Conselho de Segurança
O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) está ultrapassado e precisa de sangue novo, disse Celso Amorim nesta segunda-feira. Ele reclamou também que os membros não permanentes não são levados a sério. "O Conselho de Segurança (CS) já não reflete a realidade política", mas "a realidade de 65 anos atrás", disse Amorim aos jornalistas durante uma visita a Viena, onde se reuniu com o chanceler austríaco, Michael Spindelegger.
O Conselho de Segurança deveria olhar para o G-20, o grupo de economias industrializadas e emergentes, disse ele, e incluir países como o Brasil, a Índia e a África do Sul como membros permanentes, além dos atuais cinco integrantes com direito a veto - Estados Unidos, Reino Unido, Rússia, China e França. Amorim também criticou o Conselho por não ter levado a sério a tentativa conjunta do Brasil e da Turquia, no mês passado, de controlar o programa nuclear iraniano.
Brasil e Turquia, ambos membros não permanentes do CS, conseguiram um acordo de troca de materiais nucleares com o Irã numa tentativa de evitar novas sanções contra Teerã. Mas o acordo foi desconsiderado pelos Estados Unidos e outras potências da ONU. "Isso lança dúvidas sobre (nossa) credibilidade. A Turquia e o Brasil são países emergentes de conduta imaculada que se aproximaram de Teerã com boas intenções", afirmou Amorim.
O chanceler brasileiro também reclamou da "falta de transparência e de nível técnico", lembrando que os membros não permanentes do conselho só tomaram conhecimento do novo esboço das sanções contra o Irã pelos meios de comunicação. Brasil e Áustria estão entre os dez membros não permanentes do Conselho de Segurança, que mudam a cada dois anos.
Atualizado às 20h11 para acréscimo de informações