A abertura da primeira sala de cinema em Nablus em duas décadas sinaliza a incipiente recuperação econômica da Cisjordânia, após anos de cerco, incursões israelenses e milicianos palestinos pelas ruas.
"Para a maior parte de nossos clientes, este cinema foi a primeira experiência de ver um filme na tela grande", afirma Bashir Shakah, gerente da única sala de cinema da cidade, sentado em frente à tela branca onde são projetadas, principalmente, comédias egípcias, muito populares no mundo árabe.
Batizado de Cinema City, a sala tem 175 assentos e fica em um centro comercial no coração de uma área urbana que, até pouco tempo atrás, só podia ser deixada com a permissão do Exército israelense e era cercada por postos militares de controle.
"Há quatro ou cinco anos, teria sido impossível inaugurá-lo. Ninguém abre um cinema em uma zona de guerra. Havia toques de recolher, tanques nas ruas. Nossa rotina era acordar, trabalhar e voltar para casa o mais rápido possível", lembra Shakah.
O mesmo acontece no resto da Cisjordânia, que se transformou em um verdadeiro deserto para a sétima arte desde a explosão da primeira Intifada, em 1987, quando a maioria das salas teve que fechar.
Em Jenin, está prevista para março a reabertura da abandonada filmoteca e, em Belém, estuda-se construir uma sala dentro de um centro comercial, que se juntariam ao cinema-teatro Al-Kasaba, em Ramala, o único cinema que operava até a chegada do Cinema City.
Hoje, a própria Nablus - que em plena segunda Intifada era um foco de terrorismo para os israelenses - agora é um exemplo digno de elogios, onde não há milicianos armados pelas ruas e a economia começa a florescer.
Apesar de o Exército israelense continuar entrando de madrugada nas casas para realizar detenções, as noites de Nablus deixaram de ter como música de fundo os tiroteios entre soldados israelenses e combatentes palestinos.
"Agora, as pessoas saem à noite para tomar café, jantar, ir ao cinema. Até nos pediram para abrir uma sessão às 0h", afirma Shakah.
O mérito da segurança é das forças da Autoridade Nacional Palestina (ANP), que - treinadas pelos EUA e aplaudidas por Israel - levaram tranquilidade a diversas cidades cisjordanianas, através de uma campanha de repressão do rival Hamas, na qual as violações dos direitos humanos foram mais norma do que exceção.
Israel atribui a si o florescimento econômico cisjordaniano, por ter reduzido o número de barreiras à movimentação, particularmente em torno de Nablus, onde o posto de controle de Huwara, que antes era sinônimo de espera garantida, é atravessado agora com relativa facilidade.
Em um relatório, o Fundo Monetário Internacional (FMI) calculava no mês passado que a economia cisjordaniana crescerá 7% este ano, dois pontos percentuais a mais que em 2008, e pedia que Israel suspenda novos obstáculos para que esta dinâmica se consolide.
Em Nablus, os habitantes reconhecem que a vida melhorou recentemente, mas advertem que o crescimento da Cisjordânia pode cair se não houver uma perspectiva de solução política que coloque fim à ocupação e leve à criação de um Estado palestino.
"A vida é mais fácil do que antes, mas a frustração continua, inclusive mais profunda, porque não há nada no terreno que nos leve a ver o futuro com otimismo", afirma o vice-prefeito Hafez Shahin, na sede da Prefeitura.
Empresário do sabão, a indústria símbolo da cidade, Muaz Mayed al-Nabulsi tem opinião parecida, com base em seus 13 anos de experiência à frente da Câmara de Comércio de Nablus.
"Houve alguma mudança, mas nota-se que a ocupação continua. É verdade que não há mais soldados israelenses no meio do mercado, mas depois vêm à noite. As pessoas ainda sentem essa pressão", afirma.
Amira Hass, jornalista do jornal israelense Ha'aretz, adverte que a abertura de cinemas, lojas e cafeterias na Cisjordânia não deve ser usada para medir a situação política.
"A prosperidade em Ramala e Nablus é enganosa. Que ninguém se engane: a vida vibrante reflete o desejo e capacidade de ter uma vida normal (...), mas um favor aqui e um gesto lá não impedirão o próximo levante popular nem mudarão o débil estado das coisas ditado por Israel", diz.