Colonos judeus tomam nascentes de água de palestinos, diz ONU

PUBLICIDADE

Por JIHAN ABDALLA
Atualização:

Colonos judeus se apoderaram de dezenas de nascentes naturais na Cisjordânia, barrando palestinos ou limitando o acesso deles a fontes de água, que é escassa na região, mostrou um relatório da Organização das Nações Unidas nesta segunda-feira. O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês) disse que pesquisou 530 nascentes na Cisjordânia e constatou que 30, principalmente em áreas onde Israel mantém controle militar, foram tomadas pelos colonos. O relatório acrescentou que os palestinos atualmente tinham acesso limitado a 26 outras nascentes para onde os colonos se mudaram e ameaçaram assumir o controle do lugar. O documento disse que os colonos não tinham invadido as 474 nascentes restantes pesquisadas. "As nascentes continuam sendo a única grande fonte de água para irrigação e uma fonte significativa para a pecuária", afirmou o relatório, acrescentando que algumas também forneciam água para consumo doméstico em áreas não ligadas a dutos. "A perda de acesso às nascentes e ao terreno adjacente reduziu a renda dos agricultores afetados, que pararam de cultivar a terra ou enfrentam a redução na produtividade de suas lavouras", disse o relatório. O documento acrescentou que os colonos transformaram dezenas de nascentes em locais turísticos e algumas são usadas para nadar. "Os colonos exploram 40 nascentes como locais turísticos, colocaram ali mesas de piquenique e bancos e lhes deram nomes hebraicos ... Isso está gerando emprego e renda para os assentamentos e é uma forma de promoção ou propaganda dos assentamentos como um lugar divertido", disse o pesquisador da OCHA Yehezkel Lein. David Ha'ivri, um líder de colonos, disse que eles estavam usando as nascentes "para fins de recreação e para as pessoas que vivem aqui, mais do que para fins de turismo". Em 2009, uma nascente chamada Ein el Qaws, localizada perto da aldeia de Nabi Saleh, foi tomada por colonos de Halamish, forçando os moradores a obter a sua água de irrigação de outras fontes, de acordo com o relatório e relatos de moradores. "A nascente era usada para irrigar centenas de oliveiras e árvores frutíferas na aldeia e as crianças costumavam nadar nela. Agora, se nós tentamos ir à fonte, os colonos e soldados vêm e nos expulsam", disse o morador Nariman Tamimi. Um porta-voz da Administração Civil na Cisjordânia, comandada por militares, disse que havia livre acesso à nascente Ein el Qaws para todos, exceto às sextas-feiras, quando os palestinos geralmente organizavam protestos contra o controle da nascente e soldados afastavam as pessoas. Ele disse que Israel havia reprimido a construção ilegal em uma nascente e deu unício a uma ação judicial contra o trabalho em outro local. Cerca de 500.000 israelenses e 2,5 milhões de palestinos vivem na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, áreas que Israel capturou na guerra de 1967. Os palestinos querem o território para montar um Estado independente junto com a Faixa de Gaza, controlada pelo movimento Hamas. Os palestinos dizem que os assentamentos, considerados ilegais pela Corte Internacional de Justiça, o mais alto organismo legal da ONU para disputas, impediriam que eles tivessem um Estado viável. Israel cita laços históricos e bíblicos com a Cisjordânia e diz que o status dos assentamentos deve ser decidido nas negociações de paz.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.